Neste dia 25 de agosto completo 35 anos morando em Mato Grosso. Na verdade, vivi mais tempo aqui do que em Minas onde nasci e em Brasília onde vivi 16 anos. Acho relevante contar esse tipo de história, porque não é só uma história pessoal. É a história de um número extraordinário de pessoas que, como eu, vieram para Mato Grosso ao longo desses 35 anos. Vieram e ficaram. E mais: hoje não tem mais pátria para voltar. Sequer imagino voltar para Brasília ou para Minas. Me "empatriei" em Mato Grosso.
Gostaria de fazer algumas considerações, desses 35 anos, pensando em mim mesmo, na minha família, e em tantos que vieram pra cá, vindos de tantos lugares do Brasil. Em 1970, o censo do IBGE mostrava Mato Grosso (o atual território, embora ainda não fosse dividido), com 598 mil habitantes, igual à Cuiabá de hoje, que na época tinha 100 mil habitantes. Em 1971 começaram as migrações para a ocupação da Amazônia, pretendida pelo governo militar, à época o presidente General Emílio Garrastazu Médici. Foi quando vieram milhares e milhares de pessoas.
Em 1980, o censo já mostrava a população em 1 milhão 139 mil, em 1991 já éramos 2 milhões e 27 mil, em 2000, 2 milhões 498 mil e em 2010, 3 milhões e 33 mil mato-grossenses. Entre o distante ano de 1970 e 2010, tivemos 507% de aumento populacional. Traduzindo: a população de Mato Grosso cresceu mais de quatro vezes nesses 40 anos.
Em 1979, ano da separação de Mato Grosso do Sul, os municípios eram só 38, contra os atuais 141. Mas o que gosto mesmo é do perfil humano e cultural que resultou do aumento populacional. Na época das migrações, vieram mais paulistas, paranaenses, mineiros, goianos, e sulistas, um pouco de nordestinos para a região norte do estado. E só. Esse pessoal misturou-se nesses 40 anos e se criou uma nova matriz humana. Talvez a última grande miscigenação racial no país.
Bom lembrar até que aquelas pessoas que vieram para cá, já traziam toda uma carga genética e cultural trazida da Europa, do Japão a partir do fim do século 19 e começo do século 20. Misturam-se no Sul e no Sudeste e depois seus descendentes vieram para o Centro-Oeste a partir de 1971. Aqui, misturaram-se com outra vertente genética e cultural que já estava aqui. A mistura é fantástica! Isso, na visão espiritualista indica o surgimento de uma nova civilização. Mas nos próximos anos, a partir da atual crise financeira mundial, muitos investimentos de grande porte da economia mundial ligada à produção de alimentos e de energia, também migrarão para o Centro-Oeste, em particular para Mato Grosso. Isso sugere desde já, uma nova onda e uma nova miscigenação genética e cultural, e um novo renasceu de gentes.
Bom, aí já é um campo mais profético. O que gostaria mesmo de comentar neste artigo, são as transformações que presenciei ao longo desses 35 anos em que, prazerosamente vivo em Mato Grosso. Aqui nasceu meu filho mais novo, Tiago, e cresceram André, Fábio e Marcelo. Aqui nasceram dois netos, Miguel e Gabriel, aqui vive o neto Luka, e agora o queridíssimo bisneto Mateus. Além do mais, nesse período apareceram os meus cabelinhos brancos e a sensação de ter visto de perto e participado dessa poderosa onda de transformações que aconteceram nessas três décadas e meia, aqui no estado.
Onofre Ribeiro é jornalista e secretário adjunto de Comunicação Social de Mato Grosso
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