Alguns anos são particularmente emblemáticos. 2000 foi assim. 2010 também. Basta olhar ao redor pra se ver que o mundo que se encerra é muito diferente do mundo que começou há apenas 12 meses.
Em janeiro o mundo inteiro vivia as angústias da crise mundial iniciada em setembro de 2008. De fato, graças à nova classe média brasileira, o Brasil não naufragou, e saiu dela com ares de potência mundial. No Natal de 2010 uma avalanche nova de consumidores fez a graça que há muito não se via na economia do país.
Na política, sai Lula e entra Dilma, a primeira mulher presidente da República. Lula sai coroado como mega-presidente, justamente pelo fenômeno de ter incorporado 30 milhões de brasileiros à classe média. Dilma não poderá fazer o mesmo, se não fizer as reformas de que o país precisa. Mas dela também se espera que a pobreza continue diminuindo. Como fazer isso sem uma reforma política que crie um sistema legislativo eficiente, eficaz, no lugar do mercado de negócios e de feira livre em que se transformou o poder legislativo?
Do mesmo modo, não fará uma reforma tributária, se antes não fizer a reforma política, porque o Congresso Nacional não votaria nada que prejudicasse seus negócios paroquiais. Nesse ambiente de crescimento do país frente ao mundo, e sua posição política nos cenários mundiais, o Brasil não se sustentará sem uma reforma tributária.
Sem essas duas reformas Dilma Rousseff não conseguirá manter as expectativas que dela se espera. Porém, o mundo espera atitudes desse Brasil que faz parte da geopolítica mundial. Aliás, nem há mais meios do Brasil perder esse trem. Mas precisará de uma reforma política primeiro. A "governação" brasileira é hoje um exercício imperativo do Poder Executivo. Os poderes Legislativo são negociantes de pequenas e de grandes causas próprias. O Poder Judiciário brasileiro trabalha com a cabeça num lugar como a paupérrima e primitiva Uganda, na África. Ambos insistem em dar preferência aos interesses das respectivas paróquias, como se eles próprios fossem sozinhos a nação brasileira. Nesse vácuo proposital e um pouco constitucionalmente favorecido, o Poder Executivo governa como bem quer. No ambiente promíscuo, o Ministério Público aproveita o vazio de poder, extrapola e alimenta seu papel como um governo particular, estimulando a anarquia institucional.
No mundo de 2011 não caberá mesmo esse amadorismo governativo e político de um país que entra no mapa da economia mundial com muita força. De Dilma, se espera isso, ao lado da urgência de por ordem nas contas públicas.
O mais, o país fará. Como, aliás, tem feito, apesar do governo e dessas confusões todas. Bom, de concreto 2010 deixa um Brasil mais maduro, a agradável visão de uma mulher eleita presidente da República, uma forte inserção mundial e eleições livres coroando tudo isso. É muito saudável. Mas é assunto para o próximo artigo.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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