A crise que se abateu sobre o agronegócio nacional nos dois últimos anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva tem influenciado diretamente a decisão de voto dos 1,85 milhão de eleitores de Mato Grosso, Estado-símbolo dos principais problemas vividos pelo campo. Pesquisas recentes indicam que o presidente Lula está pelo menos sete pontos atrás do candidato tucano Geraldo Alckmin – 46% a 39%, segundo o Ibope. Se rejeitam Lula, os eleitores de Mato Grosso apostam firme na reeleição do atual governador, Blairo Maggi (PPS), que teria hoje entre 60% e 65% dos votos válidos no Estado.
Em meio ao aparente dilema local, Maggi terá que mostrar jogo de cintura para explicar à sua base ruralista a necessidade vital de manter boas relações com o Governo Federal num eventual segundo mandato do presidente Lula. “De fato, existe uma posição do setor contra o Governo Federal, que culpa Lula pela crise. Mas temos que manter um canal aberto porque vamos precisar muito da União” – admite Maggi, apontado como o maior produtor individual de soja do mundo. Por isso, ele tem adotado uma posição de “neutralidade” na disputa nacional.
“Tenho, inclusive, mantido proximidade com o presidente” – diz Maggi. Recentemente, o governador fechou um acordo para receber R$ 100 milhões da União sob forma de indenização pela divisão do Estado em duas unidades da federação, em 1979. “Nossa capacidade de investimento é muito reduzida. Precisamos acelerar investimentos em infra-estrutura, que vão beneficiar os produtores” – afirma.
Ancorado numa coligação de 13 partidos, Maggi faz uma campanha cara, mas sem escândalos ou promessas mirabolantes. E, de fato, o governador virtualmente reeleito não poderá fazer oposição a Lula. Informa-se, em Cuiabá, que Maggi poderá deixar o PPS em razão da impossibilidade de composição de seu partido com Lula em um eventual segundo mandato. Mato Grosso vive um momento delicado, com queda de arrecadação de 15% neste ano e um quase déficit nas contas públicas. “Tivemos que reduzir custeio, cortar investimentos e ajustar a máquina, inclusive nos outros Poderes. mas vamos fechar o ano empatados, sem déficit nem sobras” – diz. O Estado passou por um cortes linear de 10% no orçamento e drásticos contingenciamentos de até 50% em algumas áreas. “Ficamos quase engessados” – conta Alexandre Furlan, secretário de Indústria e Comércio.
No início inclinado a apoiar Alckmin para evitar a concorrência do atual adversário, o senador Antero Paes de Barros (PSDB), Maggi abandonou o tucano e passou a pregar a “neutralidade” . Tudo em nome das “boas relações” com Lula.
Para justificar sua posição “tucana” diante dos eleitores, sobretudo no meio ruralista, Maggi pretende negociar, a partir das boas relações com o Governo Federal, um empurrão decisivo do BNDES para financiar o avanço dos trilhos da Ferronorte até Rondonópolis, principal pólo produtor do sul do Estado. também estão na lista o asfaltamento das BRs 163 e 158, além do ressarcimento da União pelas perdas provocadas com a desoneração do ICMS sobre a exportação de matérias-primas, a Lei Kandir.
“O Blairo é pragmático. Não fez uma revolução, mas não meteu os pés pelas mãos” – avalia o cientista político Alfredo da Mota Meneses. “Para cobrir a queda de arrecadação, ele terá que convencer os produtores de Lula é um santo”.
Em troca, Maggi está em condições de oferecer uma bancada federal de “porteira fechada” , já que sua extensa coligação deve eleger pelo menos seis dos oito deputados, além de emplacar o candidato a senador – Jaime Campos (PFL), que tem como suplente o braço direito de Maggi no primeiro mandato, o ex-secretário estadual Luiz Antonio Pagot. “Mas em 2007 a conversa vai ser outra. Lula é contra o agronegócio e o Blairo vai pagar por esse e outros acordos” , discorda Rogério Sales, candidato tucano ao Senado e grande produtor em Rondonópolis.