Dezenove ônibus da Viação Princesa do Sol foram sequestrados por determinação da Justiça de São Paulo devido ao não pagamento de um empréstimo feito em 2006, no valor de R$ 5 milhões, do Banco Daycoval, usado na compra de 45 veículos novos. A retirada dos veículos aconteceu durante a madrugada e os trabalhadores ficaram reunidos durante o resto do dia, na frente da garagem, à espera de explicações. A empresa é responsável por 19 linhas e atende parte das regiões Sul e Leste de Cuiabá. Ao todo, mais de 61 mil usuários tiveram falha do serviço de transporte. Os bairros mais atingidos foram Parque Cuiabá, Jardim Imperial e Santa Isabel. Esta é a segunda vez que ônibus da empresa são levados pela Justiça. Em 2009, 25 veículos foram alvo da cobrança judicial pela mesma ação.
Os ônibus foram levados para um posto de gasolina, nas proximidades do Distrito Industrial e, na tarde de ontem, motoristas já se preparavam para levar os veículos para São Paulo. Dos 19 carros, 18 vão rodando e 1 precisa ser rebocado porque está quebrado.
Para tentar minimizar o dano aos passageiros, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes Urbanos (SMTU) pediu auxílio das outras 2 empresas que trabalham na Capital para garantir a oferta do serviço. A Norte e Sul ofereceu 12 carros e foram executados remanejamentos para atender todos os bairros. Alguns precisaram ter a frota reduzida, o que foi visível nos pontos de ônibus.
O coordenador de Transportes da SMTU, Leopoldino Queiroz, conta que os ônibus emprestados não foram suficientes, mas que em 48h todas as linhas vão funcionar normalmente. O setor jurídico da secretaria também foi acionado e está tomando as medidas administrativas para penalizar a empresa.
Ainda esta semana, o coordenador garante que 2 linhas da Princesa do Sol vão passar para as empresas Norte e Sul e Pantanal Transportes.
Queiroz diz ainda que mais 10 linhas são objeto de uma ação judicial, que tramita desde 2009, quando houve o primeiro sequestro de ônibus pela Justiça. A SMTU quer fazer a distribuição das rotas para não correr o risco da empresa abrir falência e deixar de cumprir com o contrato. "É uma questão de prevenção, já que a Viação (Princesa do Sol) está em processo de recuperação judicial há 2 anos".
A expectativa do Município é que a decisão seja favorável e aconteça até o dia 1º de março.
Trabalhadores – Os funcionários da empresa estão apreensivos. Muitos deles já passaram por situação semelhante em outras empresas como foi o caso da TUT em 2006 e da Age em 2008, que perderam o direito de explorar as linhas.
O motorista Ivo Lione Alves Vilela, 53, conta que não sabe o que fazer e "já viu este filme". Ele, que foi funcionário da TUT, é um dos trabalhadores que está com ação na Justiça do Trabalho para receber indenização.
Ele argumenta que não teve nenhum tipo de esclarecimento por parte dos proprietários da Princesa do Sol e a incerteza o deixa aflito. Caso perca o emprego, tem a certeza que vai demorar a receber os direitos trabalhista e também terá dificuldade em conseguir outra ocupação.
Vilela relata que muitos dos amigos, que trabalharam como ele na TUT, até hoje não conseguiram recolocação no mercado, seja pela idade ou pelas doenças que são comuns entre os profissionais.
O cobrador Reinaldo José Moreira Vieira, 41, compartilha do sentimento do colega de trabalho. Ele diz que conhece um motorista que hoje trabalha como picolezeiro porque não passou nos exames admissionais. "Muitos mentem ou omitem (doenças) durante o exame para continuar trabalhando".
O motorista Wilder Frank Buchmann, 32, tentou conversar com os responsáveis, mas como não teve retorno, optou por ficar na frente da empresa. A espera durou a tarde toda, sem nenhuma resposta.
O presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores de Empresas do Transporte Terrestre de Cuiabá e Região, Olmir Justino Fêo, afirma que a empresa disse que os trabalhadores podem ficar tranquilos e que estão tomando medidas para reaver os veículos.
Mesmo com o comunicado, Olmir afirma que todos estão com receio. O sindicato já tem uma ação trabalhista contra a empresa, na qual pede que parte do dinheiro da venda de ônibus para pagamentos de impostos sejam destinadas aos encargos trabalhistas.
O presidente não sabe o valor exato da dívida com encargos, mas acredita que seja superior a R$ 8 milhões. Quanto ao pagamento dos salários, a empresa está em dia com os funcionários.
Raio X – Três empresas de transporte atuam no transporte coletivo de Cuiabá. A Pantanal Transportes tem 194 ônibus em circulação e a Norte e Sul tem 103. A Princesa do Sol tem a menor porcentagem de coletivos (18%) e, segundo dados da SMTU, 65 veículos da empresa circulavam na Capital.
Outro lado – A equipe de reportagem foi até a garagem da empresa Princesa do Sol, mas a gerente não estava presente. Também foram feitas ligações para o proprietário, José Renato Bandeira de Araújo Leal, mas ele não atendeu as ligações.
A Associação Mato-grossense dos Transportes Urbanos (MTU) foi acionada, mas optou por não comentar o assunto.