quarta-feira, 1/maio/2024
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Parreira deixara seleção brasileira após o mundial

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Um ano antes do Mundial 2006 e na véspera da final da Copa das Confederações contra a Argentina, o técnico Carlos Alberto Parreira anunciou que deixará a Seleção Brasileira após a competição do ano que vem na Alemanha, independentemente do resultado. “Com certeza não deverei mais ser o técnico da Seleção”, disse em entrevista exclusiva ao Terra antes do último treino da equipe para a decisão desta quarta-feira, no Waldstadion, em Frankfurt.
Veja a íntegra da entrevista em vídeo
Opine sobre a saída de Parreira após o Mundial de 2006

Sentado numa poltrona no 21º andar do Hotel Intercontinental, com vista panorâmica da cidade, Parreira afirmou que vai continuar se dedicando ao futebol e não descarta voltar a ser treinador de um clube. Nega, no entanto, ter interesse em comandar a CBF. “Dirigir a CBF, de maneira alguma. Não tenho jeito. Não faz parte do meu modo de ser… Ser político”, afirmou.

Parreira acredita que o Brasil vai fazer uma grande partida contra a Argentina. “O time já está armado, já está preparado e já está escalado. Falta apenas tomar algumas decisões com relação a ser um pouco mais ofensivo, a ser um pouco mais impactante no jogo, tomar mais a iniciativa, começar um pouco mais à frente, coisa que talvez possa ocorrer”, antecipou o treinador, que durante a longa entrevista fala sobre como intimamente enfrenta uma decisão, confidencia que detesta concentração, que nunca se preocupou com o fato de ser taxado de treinador defensivo e analisa as chances de alguns jogadores integrarem o grupo quase fechado que vai levar para a Copa da Alemanha.

Confira a seguir a íntegra da entrevista:

A algumas horas da decisão da Copa das Confederações com a Argentina, o que pensa o treinador e o homem Parreira? Você fica ansioso? Fica desenhando o jogo e as alternativas na cabeça ou a experiência já te criou atalhos que amortizam esta expectativa?
A experiência neste momento ajuda, e bastante, na verdade. Porque inclusive não é a primeira vez que vamos jogar contra os argentinos. São várias partidas nos últimos cinco anos. Sabemos como enfrentá-los e o que esperar de um jogo desse. Agora, é evidente que é uma final e pela primeira vez na Europa duas equipes sul-americanas disputam uma competição da Fifa. E esse jogo tem coisas muito especiais. Primeiro, são duas equipes candidatas ao título da próxima Copa do Mundo, e temos que pensar em fazer uma grande partida, em anular o que Argentina tem de bom e já sabemos o que é. Acabamos de jogar com eles há 15 dias e perdemos lá em Buenos Aires. Então passa muita coisa pela cabeça. Os caminhos, o atalhos, o que deve ser feito, o que não deve ser feito… O time já está armado, já está preparado e já está escalado. Falta apenas tomar algumas decisões com relação a ser um pouco mais ofensivo, a ser um pouco mais impactante no jogo, tomar mais a iniciativa, começar um pouco mais à frente, coisa que talvez possa ocorrer.

Mas na intimidade do quarto, o Parreira desliga-se da final? Você consegue ler alguma coisa?
Não. É interessante. Pelo menos comigo é assim. E me perguntavam quando eu reassumi a Seleção há três anos porque que eu hesitei em aceitar alguns convites anteriormente… Fiquei dez anos e não queria mais ser técnico. E, de repente, resolvi exatamente porque, quando você aceita, você conecta o ‘on’ e o ‘off’ volta só quando termina tudo. Não tem jeito. Então, na intimidade do quarto, você está vendo um programa, você quer ler uma revista, quer receber um telefonema, quer fazer um trabalho, e você não consegue se desligar. Pelo menos comigo é assim. E isso causa um desgaste muito grande, emocional principalmente.

E como você alivia isso? Não tem jeito?
Aqui não tem. Aqui é onde nós sofremos mais. São 30 dias preso em um hotel. Quando eu estou no Rio de Janeiro, eu tenho uma casa fora, em Angra. Adoro passear de barco. Quando eu saio e fico no mar, passados um ou dois dias a cabeça volta zerada. A mente volta zerada. E pintar, quando eu tenho tempo. Eu gosto de pintar, isso me dá muito prazer. É um hobby que eu tenho que na verdade me relaxa.

Jogador, a grande maioria, não gosta de concentração. O treinador gosta de concentração?
Detesta. Eu já me acostumei. Uma coisa é você se acostumar e ter que enfrentar. Dizer que eu gosto disto aqui, não gosto. Ficar preso, não poder sair do hotel, não poder conhecer coisas e ver. Tem muita coisa interessante. Há cidade que você vai e que, historicamente, é muito importante e você, até por uma série de razões, é muito cobrado pela imprensa. ‘Ah, o treinador saiu, abandonou. Não está dando importância à competição…’ Aquelas coisas que você conhece bem. Então eu me policio muito. Não dou motivo para que ninguém fale nada e fico preso realmente 24 horas por dia. Não é agradável você ficar 30 dias preso dentro de um hotel. Quarto, refeitório, estádio, campo de jogo, local de treinamento e hotel.

Nesse ambiente de concentração, você costuma conversar individualmente com os jogadores ou prefere um sistema de trabalho em grupo?
Quando há necessidade, às vezes eu vou e converso com três ou quatro jogadores individualmente. Vou ao quarto ou chamo no meu quarto e converso sobre detalhes do jogo, coisas importantes. Se você for levar tudo para a palestra, fica uma palestra cansativa de uma hora ou uma hora e meia. Então eu procuro resolver algumas situações antes da palestra final com o grupo, individualmente. Não com todos, mas com alguns. E normalmente nós conversamos muito em grupo. Temos nossas palestras antes do jogo, no dia do jogo e no dia anterior ao jogo. Se for necessário, até dois dias antes do jogo para mostrar algumas coisas e alguns caminhos. Para mostrar o adversário nós temos uma sessão de fotos. Tem uma sessão de vídeo, de DVD, onde mostramos os pontos fracos e os pontos fortes do adversário. O (auxiliar técnico) Jairo (Leal) geralmente faz para mim um compacto do jogo. Os jogadores têm acompanhado bem, têm gostado deste trabalho. E serve para você não ser surpreendido no dia do jogo.

Quando você tem alguns líderes no grupo, eles são bons interlocutores? Você usa deste artifício?
Eu acho que eles participam menos do que eu gostaria. Eles são meio temerosos, às vezes até tímidos em falar. Eu às vezes até provoco. ‘O que vocês acham? Vamos marcar assim e tal? Vamos acompanhar? Se o Riquelme for até lá o meio de campo, você acompanha ou não vai?’ No caso não vai jogar, mas ‘se o Saviola entrar aqui pelo meio, quem é que vai marcar? Quem acompanha?’ Eu gosto até de provocar situações, para que eles participem mais. Acho que eles poderiam participar mais. E eu, como não tenho medo deste diálogo, acho importante. Porque no campo quem vai ter que responder e decidir são eles, não o treinador de fora. Quando aparece uma situação, é importante que eles tomem conhecimento.

Qual vai ser sua preleção para o jogo de amanhã? Antes da Alemanha você usou o (coordenador técnico) Zagallo, que mandou um vídeo. Qual vai ser o aspecto motivador?
Acho basicamente que é uma final de uma competição internacional. Pela primeira vez, Argentina e Brasil jogam a final de uma competição da Fifa. Serve, entre aspas, como uma revanche do último jogo em Buenos Aires. E o Brasil fecharia um ciclo que eu acho que nunca ninguém fechou: Copa do Mundo, Copa América e Copa das Confederações. Então temos motivos de sobra para fazer um grande jogo. E ganhar da Argentina, que é sempre um grande adversário, é tradicional. Nós não gostamos de perder, tanto quanto eles também não gostam de perder pra nós. Acho que a motivação básica vai ser esta. E eu diria: contra a Argentina, o treinador não precisa se preocupar muito com motivação. A motivação é o próprio jogo. E sendo final ainda a motivação é maior.

Há alguns meses você disse que tinha 70% do grupo definido para a Copa. Agora, depois dessa Copa das Confederações, a porcentagem aumentou ou algumas alternativas embaralharam ainda mais esse grupo que você quer fechar para o Mundial?
Eu acho que nós vamos ter dificuldade em fechar 22 jogadores, 23 agora com mais um goleiro, porque nós temos boas opções. E não será por falta, será por excesso. Acho que a coisa embaralhou neste sentido. Então nós temos excesso de bons jogadores para determinas posições.

Quais seriam esses excessos?
Acho que na própria defesa, no meio de campo, na frente… Tem situações que temos seis para quatro.

Jogadores inclusive que não foram chamados e que poderiam estar no grupo…
Não, jogadores que estiveram conosco de um modo geral. Tem situações que temos sete para cinco, então vão ter que ficar dois de fora. Não vou citar nomes nem setores do time porque é muito cedo e muita coisa pode mudar, como sempre muda. Não teve uma convocação até hoje que fizéssemos que não houvesse mudança. O cara se contunde, tem um problema de família, um problema pessoal e temos que estar sempre mudando. E na Copa do Mundo, você sabe, em 82 foi o Roberto. O Careca se machucou e veio o Roberto na última hora. O Emerson foi cortado no último momento (em 2002). Sempre acontece, sempre ocorre alguma coisa. Mas eu acho que o grupo, um ano antes da Copa e depois das Eliminatórias, vai estar 70% definido. Não sei se essa margem aumentou ou diminuiu, mas em média seria isso.

A principal experiência da Copa das Confederações, que ficou clara até pela folga dada ao Cafu e ao Roberto Carlos, seria nas laterais. Cicinho de um lado e Gilberto do outro. Por todas as declarações que você deu..,
Cicinho, Gilberto, Léo e Maicon…

Por todas as declarações que você deu, o que nós conseguimos interpretar é que você gostou muito do resultado do trabalho do Cicinho e do Gilberto…
Por terem jogado até mais do que os outros, tiveram mais oportunidades de ter uma visibilidade maior, sem dúvida. Eu acho que o Cicinho entrou com muita personalidade. É um jogador que nunca havia jogado partidas oficiais pela Seleção. Chegar aqui num torneio da Europa… E mostrou personalidade. O Maicon nós já conhecíamos. Estava fora de forma, veio só depois (do corte de Belletti). Não tinha preocupação tão grande em colocá-lo porque ele jogou toda uma Copa América. Então amanhã, na hora de uma avaliação, o Maicon não vai ser prejudicado porque já havia jogado. Do outro lado, o Léo e o Gilberto… O Gilberto jogou mais do que o Léo, mas nós já conhecemos o Léo e podemos na hora fazer uma decisão. Acho que a Copa das Confederações foi muito importante. O translado, a logística, as mexidas, os hotéis, as mudanças, viagens de um local para outro, de uma cidade para outra… Mudar o hotel, mudar o local de treinamento, viajar de ônibus, viajar de avião… Então foi muito bom. Nós já conhecemos tudo, já sabemos o que precisa ser feito. E, principalmente, aprendemos os horários melhores para se viajar, como fazer para salvar e guardar mais energia e desgastar menos a equipe. E, sobretudo, quem esteve aqui teve uma experiência muito boa. Uma experiência de Copa do Mundo e vai sair na frente. A semifinal entre Brasil e Alemanha teve todos os ingredientes, todos os conteúdos de um jogo de Copa do Mundo. Não faltou nada, absolutamente nada.

Queria voltar um pouquinho na questão da lateral-direita. O Belletti era o reserva natural do Cafu. Ele se machucou. O Belletti continua sendo o reserva natural do Cafu ou isso também está aberto?
Está em aberto. Eu acho que o Belletti perdeu duas oportunidades muito boas. Primeiro ele não é que não quis ir, ele se mostrou cansado e não foi à Copa América. Acho que seria uma oportunidade ótima para ele realmente ratificar isso. Não indo, ele abriu oportunidade para que dois jogadores estivessem por lá e pudessem jogar. Um foi o Maicon e o outro foi o Mancini. Ele também aqui, antes da competição, se sentiu enfraquecido, com muita dor no tendão de Aquiles. E realmente confessou para o doutor que não podia dar pique. Sentia muita dor e praticamente ficou sem condições de jogar. E o futebol brasileiro tem isso aí. É muito perigoso. Pela grande quantidade e qualidade de jogadores, a chamada brecha, dar chance, é complicado.

E a Copa América ratificou outros jogadores…
O Juan, o Adriano… Como foi importante, não é? Não diria que o Belletti está descartado, mas ele deu possibilidade para que outros entrassem na briga junto com ele.

Uma pergunta um pouco comparando duas situações. Você já foi tachado de defensivo em 94, mas ganhou a Copa. Era um jogo cauteloso e vencedor. Agora você surpreende – pelo menos aquelas pessoas que pensavam que você não mudaria o sistema de jogo – e coloca um time ofensivo, e começa a receber críticas pela atuação da defesa. Você acredita que é possível jogar com esse quadrado ofensivo e ganhar a Copa do Mundo?
Eu acho que há uma possibilidade. Nós estamos definindo e conceituando o que nós vamos fazer na Copa. Não é definitivo ainda. É um caminho que foi tomado e eu acho que é muito cedo para nós retrocedermos. Vamos continuar com mais experiência. Acho que as que tivemos até então foram muito válidas. Jogar contra a Argentina, em Buenos Aires, contra o Uruguai, em Montevidéu, a Alemanha, aqui, voltar a enfrentar a Argentina e manter o mesmo esquema… Nós queremos uma comprovação de que a coisa pode dar certo. E, se não der, nós seremos inteligentes o bastante para fazer uma reflexão e procurar outro caminho. Então nunca me preocupei com o termo defensivo. Desconheço esse termo no futebol. Eu graças a Deus já superei isso há muitos anos. Por eu ter tido a oportunidade de estudar na Alemanha e na Inglaterra, consegui superar esses dogmas. É ofensivo, é defensivo… Então eu aprendi aqui que o time bom é aquele que defende e ataca com a máxima eficiência. Você não conhece nenhum time que só se defendeu que foi campeão do mundo… Que só atacou e foi campeão do mundo. Todos tiveram o equilíbrio. Então eu já superei isso há muito tempo. O time de 94 foi muito especial porque nós trouxemos os melhores jogadores que tinham no Brasil. O Brasil não ganhava uma Copa do Mundo há 24 anos. E aquele time em nenhum momento foi defensivo. Muito pelo contrário, era um time muito bem organizado, e que cada um sabia exatamente o que fazia com a bola. Então eu não vou ficar me preocupando em explicar a diferença entre defensivo e organizado. Agora, quando trabalhei no Corinthians, a mesma coisa. Foram três jogadores de meio com habilidade e três atacantes. Então acho que o treinador tem que mostrar sua capacidade quando ele trabalha em função do material humano que ele tem. Nós temos aqui Robinho, Ronaldo, Kaká, Adriano, Ronaldinho, Ricardo Oliveira… Jogadores que são estrelas em seus clubes. Então a tentativa é de aproveitar essa qualidade dentro de um time. Tentar fazer com esses jogadores um time de futebol. Então, nós estamos tentando isso. Não sei se conseguimos. Tivemos bons momentos e momentos que não foram tão bons assim, mas o saldo até então tem sido positivo. Então eu acho que vale empurrar isso mais para frente para definir um pouco mais perto da Copa o esquema que nós vamos jogar. E eu acho que se tiver que voltar, dar um passo atrás, esse time já jogou. Tem jogadores habilitados para jogar de outra maneira com a mesma eficiência.

Você tem batido muito nessa tecla de ter um time. Perguntado nas coletivas quais são as melhores seleções do mundo hoje, você fala Argentina e Brasil, mais pelo aspecto individual. Como criar de fato um time com esse grupo que tem sem duvida alguns dos melhores jogadores do mundo? E se isso é possível para tirar o resultado do jogo do detalhe. Porque sempre estamos falando que o detalhe define o jogo. Foi assim com o México, foi assim com o Japão e é assim nas Eliminatórias. Você sabe muito bem que é assim na Copa do Mundo, mais do que nós. Como criar um time de fato com esses jogadores?
Eu acho que é acreditar em uma filosofia e esperar que tenhamos mais tempo para treiná-los. Porque, sem dúvida alguma, para manter esse time da maneira como ele está jogando, os chamados quatro jogadores ofensivos terão que estar mentalizados para fazer aquela função na hora que perder a posse da bola. Mentalizados taticamente… Até o espírito de sacrifício e melhores condicionados fisicamente. Se nós conseguirmos na hora que o adversário recuperar a posse da bola ter pelo menos sete jogadores atrás da linha da bola, e vindo um oitavo e um nono jogador… E na hora que nós estivermos com essa bola, sair com velocidade e qualidade, então nós teremos um time. Um time é quando você sabe passar do ataque para a defesa e vice-versa com naturalidade. Então quando o time consegue sair da defesa para o ataque com naturalidade; e perde a bola, e volta para se recompor com naturalidade, sem grandes aflições, eu acho que aí você tem um time sólido, que sabe se defender, sabe se organizar e sabe atacar. Então nós ainda não temos esse time na mão. Até porque nós não temos tido tempo para treinar. E só chegar, juntar e competir. Quando tivermos um pouco mais de tempo para competir acho que podemos pensar melhor em ter essa equipe sólida.

Falando em mentalização… Em 94, você tinha um grupo de jogadores experientes. Já esse grupo é mais jovem. O que muda no comando do time em relação à preparação psicológica?
Acho que vamos levar alguma vantagem. Devemos manter pelo menos… Não fiz a conta, mas a metade do grupo de 23 esteve na Copa de 2002. Então já passaram por uma experiência de Copa do Mundo, uma experiência vitoriosa. E os outros que chegaram já jogam na Europa também, já estão acostumados com o futebol europeu de um modo geral. Provavelmente teremos poucos jogadores do Brasil. A verdade é que começa a aparecer lá, vem logo para o exterior. Então você vai ter que chamar do exterior mesmo. E se concentrar em uma coisa que até então nós nunca havíamos falado, que é chegar em uma Copa como favorito. O Brasil só ganhou quando chegou desacreditado… Escorraçado… Lá no Brasil ninguém acreditava: ‘Não vai fazer nada’. Foi assim em 70, foi em 94, foi em 2002… Pela primeira vez o Brasil, em se classificando, vamos primeiro ratificar a classificação, vai chegar como favorito. Nós temos que aprender a conviver com essa situação. Uma situação nova, quebrar esse tabu que só ganhamos quando estamos desacreditados. Temos que ganhar também quando nós somos favoritos. E essa vai ser a primeira oportunidade de quebrarmos esse tabu.

Falando em preparação, quanto tempo você imagina treinar a Seleção antes da Copa?
Não vamos ter mais do que três semanas, mas se forem bem aproveitadas e já tendo um time mais ou menos armado, acho que é o bastante.

Como fica o treinador Parreira depois da Copa? Você já pensou nisso?
Não. Com certeza não deverei mais ser o técnico da Seleção. Independentemente disso, esse é outro assunto a ser resolvido depois da Copa, mas vou ficar ligado ao futebol, claro. Depois de tanto tempo acho que eu não saberia fazer outra coisa que não fosse ligada ao futebol. Consultoria, palestras, uma diretoria técnica, a montagem de um centro de treinamento… Tenho vários convites, várias coisas para serem feitas e equacionadas, mas não quero me dedicar a nenhuma delas até que termine essa missão Copa do Mundo.

Dirigir a CBF de alguma maneira, isso passa pela sua cabeça?
Não, não, não, não, não não…

Voltar a treinar um clube também não?
Até poderia, porque eu gosto desse meu trabalho. Mas vamos deixar para depois da Copa. Dirigir a CBF, de maneira alguma. Não tenho jeito. Não faz parte do meu modo de ser… Ser político… Poderia até colaborar com uma função técnica ligada ao futebol, mas não na área administrativa.

Você já se arrependeu em algum momento de ter assumido de novo a Seleção?
Não, não. Pelo contrário, acho que tomei a decisão certa. Eu não queria por causa da família e tudo… Sabia que, quando assumisse de novo esse cargo aqui, ia começar tudo de novo. Até me perguntaram: ‘E agora?’ Agora vai começar tudo de novo. Não muda nada. Desde 70 para cá é tudo a mesma coisa. Mesmo tipo de cobrança, os mesmos questionamentos, não mudou nada. Só que agora o volume é muito maior. Então a mídia hoje está muito mais presente. Tem muito mais canais fechados, tem muito mais canais acertos, tem jornal, tem Internet, então mudou muito. As cobranças continuam as mesmas, não mudou nada. Eu não me arrependo. Fui convidado para ser técnico da maior seleção do mundo. O time mais famoso do mundo. O time mais invejado do mundo. É só você ver aqui na Alemanha todo mundo de amarelinho. Onde vamos treinar, no Brasil e em qualquer lugar fora do Brasil, 30 mil pessoas vão ver. Então eu sou técnico desta seleção e só tenho que sentir prazer e orgulho. E agora, pela oportunidade que eu tié de completar 103 jogos dirigindo a minha querida Seleção Brasileira.

O peso que você falou da crítica… Tem a crítica jornalista, mas tem também a opinião pública. Até o presidente da república quer dar palpite. Pesou muito mais antigamente, mas isso pesa ainda?
Quando as coisas estão caminhando bem de um modo geral, e eu acho que isso, dentro do contexto, está acontecendo, não tenho tido nenhum problema com a opinião pública. Não tenho segurança, nunca tive. Viajo sozinho dentro e fora do Rio de Janeiro, para o aeroporto não vou com ninguém, vou sozinho. E tenho recebido muito carinho do torcedor. Um ou outro pergunta: ‘Por que esse jogador não entra? Não dá para convocar?’ Mas sempre de uma maneira muito educada, sem cobrança, sem agressividade.

Qual o limite da crítica, no caso da Seleção Brasileira, por parte dos meios de comunicação? O que o Roque Júnior fez ontem com o Galvão Bueno, por exemplo, não foi nenhum episódio forte, enfim… Ele foi lá e disse: ‘Exijo respeito. Você me criticou…’ Você aceita isso bem?
Não entendi… O limite para mim?

O limite para o grupo. Para você poder trabalhar…
Desde que ela se restrinja à área futebolística, eu acho que o comentarista pode falar o que quiser. Não pode e não deve ofender, nem interferir na vida pessoal. Acho que o limite tem que ser muito claro e muito bem definido. Ela tem que se limitar à área profissional. É bom treinador ou é mau treinador… Agiu certou ou agiu errado, armou bem o time ou armou mau o time… Mas sem ofensas pessoais e nenhuma interferência na vida pessoal ou familiar. Isso realmente eu não admito e acho que ninguém admite. Enquanto ela se limitar à área profissional, perfeito. Nós temos que conviver com ela, temos que admitir, temos que aceitar… E eu aceito e procuro ter um relacionamento transparente e sincero com a mídia de modo geral. Atendo a todo mundo bem, sem distinções, mas enquanto ela se limitar à área profissional.

O Brasil ganha da Argentina?
Eu acho que ganha. Tenho quase que certeza que ganha. Vamos fazer uma grande partida. Vamos repetir a atuação contra a Alemanha, que foi muito boa sob o aspecto emocional e mental.

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