A novela que narra a variação de preços do etanol em Cuiabá encenou novo capítulo ontem. Quem abasteceu o veículo pela manhã encontrou o litro do combustível com preço médio 8,29% menor do que à tarde. Passou de R$ 2,29 para até R$ 2,49 na maioria dos postos da capital.
A razão para o aumento repentino é a livre concorrência de mercado, já que o setor sucroalcooleiro garante a inalteração dos preços nas usinas há 5 semanas, assim como as distribuidoras. Quem sente os efeitos de uma mudança brusca nas bombas é o consumidor, que precisava de R$ 91,60 para encher um tanque de 40 litros, agora tem que desembolsar R$ 99,20, acréscimo de acréscimo de R$ 7,60.
O motorista de táxi, Jeferson Gustavo, 26, todos os dias vive uma rotina que nem a ficção consegue acompanhar, em decorrência das variações de preços constantes, que ao fim das contas implicam em mais horas extras de trabalho para conseguir honrar os compromissos financeiros.
Na quarta-feira à noite, ele abasteceu 30 litros de etanol, pelos quais pagou R$ 65,70. A promoção encontrada no dia anterior já não existia mais quando retornou a revenda de combustível e se deparou com o litro a R$ 2,49. “Tantas mudanças tem significado mais dificuldades para mim. Por dia, preciso garantir pelo menor R$ 350 com as corridas, se eu quiser ter algum lucro”.
Só para a manutenção do aluguel do táxi, alimentação e combustível, ele gasta em média R$ 250, com a margem de lucro. Ainda precisa guardar o necessário para eventuais revisões do automóvel, que acabam fazendo parte da rotina.
Se para Gustavo os aumentos em centavos se transformam em vários reais ao fim do mês, para os proprietários de postos, os preços que oscilam com razoes que se escondem atrás de uma cortina de fumaça parecem claras quando o assunto é a margem de lucro.
“Uma competitividade meio que irracional, que eu já desisti de acompanhar faz algum tempo”, desabafa o empresário Rammed Moussa, dono de um posto de combustível em Cuiabá. Ele pontua que manteve o valor do litro do etanol a R$ 2,49 durante o período no qual os preços do combustível estavam custando ao consumidor final 30 centavos a menos. “O problema é que com o litro a R$ 2,29 a margem de lucro é impraticável. Desestimula a qualquer um. E eu como não baixei o preço, perdi clientes. Nesta confusão econômica que vivemos, todo mundo quer o preço mais em conta”, pondera Moussa.
Já o gerente de outro posto de combustível, que prefere não se identificar, calcula que a margem de lucro no valor promocional estava em 15%, enquanto que com o valor real, passou para 20%, no limite permitido pelo Ministério Público Estadual.