Formar um grupo de atuação entre Organizações Não Governamentais (ONGs) da França e produtores rurais mato-grossenses, por meio de suas entidades representativas, para atuar na busca de uma solução para o desenvolvimento sustentável. Este foi o resultado de uma mesa redonda em que a comitiva mato-grossense, liderada pelo governador Blairo Maggi, participou em Paris, na França, nesta sexta-feira. Foram três horas de debate. O último compromisso em solo europeu.
O tema do encontro foi “produção agrícola, comércio e meio ambiente: o caso de Mato Grosso”. Durante o evento começou a ser definida a organização de um seminário, com realização prevista para 2008, em Mato Grosso, com o objetivo de dar continuidade ao debate. Além disso, o grupo que será formado, ficará responsável pela vinda de ambientalistas e equipes de redes de TVs francesas ao Estado para conhecer o agronegócio, e suas práticas, em Mato Grosso. Os próximos encaminhamentos estão por conta dos ambientalistas que entrarão em contato com Famato e Aprosoja.
O encontro foi organizado dentro do Projeto Diálogo (formado por cinco instituições, entre elas o Centro de pesquisa agrícola da França – Cirad e Instituto Centro Vida -ICV). Foram debatedores a diretora da ONG Comitê Católico Contra a Fome e pelo Desenvolvimento (CCFD), Catherine Degaurd, e Patrício Mendez del Pillar, além de economistas e pesquisadores do Cirad.
Representando Mato Grosso, além do governador Blairo Maggi, participaram da mesa-redonda o secretário de Estado dos Projetos Estratégicos , Clóves Vettorato, e representantes dos produtores, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado e Vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) Ricardo Arioli, entre outros.
Catherine Degaurd questionou o modelo de produção extensivo e monocultura da soja que, segundo ela, empobreceria o solo e excluiria os pequenos produtores. Maggi, em sua apresentação, citou o Programa MT Regional criado para identificar por meio dos consórcios intermunicipais as potencialidades e vocação de cada região. Além disso, o governador lembrou que em Mato Grosso, a soja não afastou nenhum pequeno produtor. “Simplesmente não havia ninguém nas terras que começaram a ser cultivadas há 20 anos. Um Estado da dimensão de Mato Grosso, com apenas 2.8 milhões de habitantes, oferece espaço para produzir muita soja sem desalojar ninguém”, destacou.
Foram mostradas também as práticas agrícolas adotadas por Mato Grosso, como o plantio direto. O secretário Vettorato explicou que a maioria das críticas ocorre exatamente pela recepção de informações distorcidas. “Estamos com essa viagem e esses contatos aqui melhorando a comunicação com as organizações”, salientou.
Indagado sobre o fato de apenas 38% das propriedades estarem referenciadas no Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais (SLAPR), o governador reiterou sua intenção de ter 100% das propriedades georreferenciadas e licenciadas e que para isso está investindo no aumento de infra-estrutura da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
Para melhorar o controle de fazendas e propriedades rurais, o Governo do Estado assinou na tarde de quinta-feira, em Tolouse (França), uma carta de intenções com a empresa Spot Image, especializada em fornecimento de imagens de satélite, que, entre outras aplicações, são usadas para o referido controle.
Maggi apresentou aos ambientalistas as medidas adotadas pelo Governo de Mato Grosso para a produção sustentável, como a preservação das matas ciliares nas regiões agrícolas; grandes investimentos em pesquisa e tecnologia com conseqüente aumento da produtividade; reserva legal de 80% no bioma amazônico “uma das legislações mais restritivas”; e 80% da produção feita em plantio direto sem revolver a terra e com menor necessidade de utilização de agroquímicos e fertilizantes.
Outro dado importante abordado com os ambientalistas foi o recolhimento das embalagens de agrotóxicos para reciclagem. Mato Grosso recolhe 93% de embalagens enquanto os Estados Unidos recolhe 20%, a França e o Canadá 40%. O secretário de Projetos Estratégicos, Clóves Vettorato, explicou que esta é uma grande preocupação, pois os franceses são os maiores usuários de produtos agroquímicos.
Maggi falou novamente sobre o pacto ambiental assinado com os produtores de soja e a proposta do desmatamento evitado. “Nós, de Mato Grosso, temos trabalhado, mas temos algumas dificuldades. Muitas vezes nos criticam aqui em função de notícias que saem na imprensa e que muitas vezes não correspondem à verdade ou estão exageradas, tanto na área ambiental, como na área comercial”, afirmou o governador.
Sobre o aumento registrado no índice de desmatamento que, segundo as ONGs têm relação com o aumento da produção da soja. Informação contestada pelos mato-grossenses, já que a produção de soja registrou uma redução de 800 hectares de área plantada na safra 2006/2007 em relação à safra 2005/2006. O que, segundo Vettorato descarta a necessidade de abertura de novas áreas. “Este aumento apontado recentemente pelos organismos responsáveis, não está relacionado com a plantação de soja”.
Maggi comentou que o ‘leão’ do desmatamento está apenas adormecido e este é o momento favorável para que o Governo Federal coloque em prática políticas efetivas para evitá-lo. O alerta já foi feito em várias oportunidades à ministra Marina Silva (Meio Ambiente).
A segunda agenda prevista para esta sexta-feira aconteceu juntamente com o encontro das ONGs. Laurent Stefani, que atua como conciliador nas questões ambientais acompanhou a mesa-redonda.