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Vítimas e cúmplices

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Na cidade olímpica do Rio de Janeiro, no último fim-de-semana, o jovem Bruno, viciado em crack estrangulou a namorada Bárbara, de 18 anos, que tentava afastá-lo da droga. O pai do assassino, em carta ao jornal O Globo afirmou que o filho destruiu duas famílias. Errado. O filho nem sabe quantas famílias já ajudou a destruir, nos seis anos em que vem usando droga. A guerra do tráfico no Rio de janeiro é pelo dinheiro dos viciados, já que é guerra pelo comando dos pontos de venda. Bruno e todos os outros usuários contribuem para a compra das armas com que os traficantes lutam por território. Isso põe fim a discussão sobre se o viciado é vítima ou cúmplice, porque é, claramente, as duas condições.

Mas ele não está sozinho na cumplicidade. São cúmplices também os políticos que representam os traficantes no legislativo e executivo e trocam favores com os fora-da-lei; são cúmplices todos os que, em governo ou fora dele, se omitem na luta contra a droga e seus vendedores e compradores; são cúmplices até aqueles que saem às ruas em passeata pedindo "paz", que seria a paz dos derrotados, muito conveniente para os bandidos. E é, sobretudo, cúmplice a lei brasileira, hipócrita, fingida de democrática, que condena o traficante e depois o liberta por suposto "bom comportamento", ao mesmo tempo em que se omite com o comprador da droga, deixando uma impunidade que estimula o vício. Comprar algo ilegal tem a mesma ilegalidade que ser receptador de coisa furtada, a mesma ilegalidade cometida por aquele que paga o corrupto.

Há quem pense que vai resolver o problema descriminalizando a maconha, a cocaína, a heroína, o crack, o êxtase. Alegam que isso vai acabar com o tráfico. Supondo que acabe, não vai acabar com a razão da existência do tráfico: o viciado. Vai continuar tão viciado quanto antes. A bebida alcoólica tem venda livre. E isso acabou com o alcoolismo? Na verdade, o alcoolismo é, de longe, um mal bem maior que todas as outras drogas juntas, justamente porque a venda de bebidas alcoólicas é livre.

A propósito, o pai de Bruno relata que o filho começou no álcool. O álcool tem invadido o mundo dos jovens como uma epidemia, cada vez mais cedo. Por igual, meninos e meninas ao redor dos 15 anos, já consomem doses cavalares de vodca com energético; depois ingerem anfetamina, e os batimentos cardíacos disparam, chegando perto de uma fibrilação, o que significa morte. Isso acontece nas baladas, nas raves, nos aniversários, nas casas noturnas. Do álcool para outras drogas, é um pequeno passo em direção ao abismo. Com a vontade enfraquecida pela droga, o usuário se torna o cliente cativo que financia o traficante em sua estratégia de poder territorial.

A droga tenta preencher um vazio na cabeça de jovens, ainda que haja estrutura familiar para evitar a carência. E o jovem, perdido, escraviza-se. Parece que a sociedade se constrange em reconhecer isso. E não percebe que se diminuir o número de drogados, de compradores da droga, inevitavelmente vai diminuir o número de traficantes. Alegam que aí o bandido vai buscar alternativa no assalto a banco, no seqüestro. Pelo menos não terá, ali, a cumplicidade dos nossos filhos.

 

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