Há pouco um grupo de estudantes de Taguatinga me entrevistou e, na esteira da Rio+20, perguntou-se sobre o significado de sustentabilidade. Respondi que não sabia e que eu jamais usaria uma palavra com mais de quatro sílabas, mas que era a palavra da moda. Fiquei a imaginar se eu seria bobo por não saber, ou bobo se compreendesse o palavrão. A pergunta das crianças me motivou a procurar no dicionário. No Novo Aurélio Séc XXI descobri que é a qualidade de se manter constante ou estável por longo período. No dicionário on-line, a definição é mais curta e mais simples: a qualidade daquilo que não provoca riscos ambientais.
Aí, complicou: a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse na Rio+20 que a mulher é parte da sustentabilidade. “Queremos que os países se comprometam a seguir apostando nas mulheres, porque a mulher é uma peça fundamental para o desenvolvimento sustentável”. Devo ser burro, porque não entendi se ela quis dizer que as mulheres precisam parar de botar filhos no mundo, porque o aumento do número de bocas é a causa da expansão as lavouras para produzir alimentos. Afinal, quanto mais gente mais casas, mais energia, mais carros, mais fábricas, mais carbono expelido dos pulmões.
Também busquei compreender isso tudo pelos meios de informação. Encontrei até “estradas sustentáveis” – que eu sempre pensei que fosse uma estrada sustentada por uma ponte ou um viaduto(ou seria uma estrada que não precisaria de ponte, aterro ou viaduto para se sustentar?). Acabei descobrindo que é uma estrada que protege a natureza. Continuei sem entender: como protege a natureza, se é construída por máquinas que queimam muito combustível fóssil, que têm pistas revestidas de derivado de petróleo, que passam por lugares onde havia árvores, que precisam sempre de grandes movimentações de terra, cortando montanhas? Se bem que sem elas, teríamos ainda picadas por onde passariam apenas carroças. Continuei sem entender o que seja o sustentável.
Quando eu era menino, nos anos 40, não existia a tal sustentabilidade e nós todos sabíamos que não se arrancam folhas de árvores nem se derrubam árvores. Eu mesmo, quando criança, plantei algumas, no quintal. Sabia que não se deve lançar esgoto no rio onde nadávamos e, óbvio, que não se joga lixo no chão e que se protegem as terras e os pastos, de onde vêm os alimentos. Também sabia que é muito feio matar passarinho ou maltratar animal. Só que se aprendia isso como algo natural da vida. Ninguém ganhava dinheiro com isso, nem se aproveitava disso para vender ou fazer propaganda. Não era uma ideologia nem partido político e muito menos era mote de fanáticos. Era apenas parte da vida. Era natural agir assim, sem papagaiada.