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Sem desfecho

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Meu amigo com mais de 70 anos de experiência em política usou de sua sabedoria para me deixar sem expectativa de um desfecho para a crise brasileira. Explicou que em qualquer país um pouco mais sério e consequente, o que está ocorrendo  no Brasil nesses quatro meses  já teria resultado em renúncia, cadeia, impeachment,  deposição, exílio, suicídio…algum desenlace. “Pois aqui não vejo sinal nenhum. Enxergo três anos e meio assim, de mesmice e falência, bem como está.” – concluiu.

Outro amigo participante da conversa, igualmente experiente e sábio, foi mais fundo e ensinou-me que “o problema é que nativos não são, por definição, suscetíveis a inquietudes.  Não projetam a forma das coisas que virão. Não se antecipam. Vivem no estado natural da mão para a boca, posto que nativos. Inquietude pressupõe um certo estágio de civilização e refinamento mental,  inexistente no caso.” E afirmou que “só acontecerá algum sinal mais "sério e consequente" – um "desenlace" – no instante em que o caos absoluto chegar – e nesse ritmo é de supor que ele chegará. Aí, talvez, quando começaram a sangrar na carne, leia-se, mais desemprego, mais inflação, mais choro e ranger de dentes, talvez, emitam algum "sinal." Talvez… “

Continuou afirmando que  quatro meses ainda é pouco para a chegada do desfecho aí em cima. “O que temos hoje é tão somente o estágio inicial dele. O que temos hoje é apenas a desmoralização das instituições e o aumento das angústias do dia a dia da vida. Isso não mobiliza nativo nenhum. Não adianta querer estancar esse processo, pôr um fim nesse começo, e tentar recomeçar. Temos que aguardar o desfecho.  É assim que a perspectiva, e com ela a possibilidade de mudança, sempre funcionou. Para povos, nações, e pessoas. Hoje não há salvação à vista. Hoje é purgação. Hoje, para quem é dotado de qualidade da imaginação, o único dever é sobreviver.” 

O conselho de meu segundo amigo é “retornar a poltrona à posição vertical, apertar o cinto, e esperar – confiante – que tudo apodreça ainda mais. Serão mesmo "três anos e meio de mesmice e falência." Nada de novo em Pindorama. Já vimos esse filme várias vezes. Parece ser nosso destino revê-lo pela eternidade. A grande tragédia, no caso, é que somos sempre co-participantes dele. Então, tem jeito, não: deixa sangrar!”

Passivos, os nativos no máximo esperam que as elites resolvam. Que elites? As elites econômicas querem ver o povo com poder aquisitivo, para comprar seus produtos e gastar. Já as elites econômicas apelam para as elites políticas. Essas,  só encontrarão soluções que lhes dêem poder. Querem manter os nativos sem o poder do conhecimento, do discernimento, para continuar a manipular a ignorância com o populismo e a propaganda. E atribuir esse caos a inimigos externos e às elites, tentando desviar o olhar do próprio umbigo.

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