Nesta terça-feira, 7 de setembro, o Brasil faz 188 anos de independência. No mundo de hoje, independência é algo relativo. Cuba, quando se libertou do ditador Fulgencio Baptista, virou dependente da União Soviética; quando a União Soviética acabou, a dependência de Cuba deixou o país isolado e em deterioração. A independência da Venezuela bolivariana só funciona na saliva do tenente-coronel paraquedista Hugo Chavez. Depende do petróleo que os Estados Unidos compram e, sem divisas, já não está conseguindo sequer importar uísque, de que é o principal consumidor latino-americano. O Brasil, dependente de Portugal, mesmo com a Independência, ficou com a cultura assistencialista, patrimonialista, burocrática, aristocrática, que lhe fora imposta por 322 anos. As nossas escolas de samba ainda têm reis e rainhas e coroas na bandeira; o nosso esporte nacional tem rei e imperador.
A propósito, tem gente absolutamente convencida de que Brasil é o nome de uma seleção de futebol. Instalam a bandeirinha verde-e-amarela no carro durante as competições, hasteiam o pavilhão auri-verde nas janelas só durante a Copa do Mundo. O Brasil verdadeiro não é um time de futebol, a não ser que acreditemos nisso. Antes de começar a Semana da Pátria, pus a bandeirinha no meu carro e a Bandeira na sacada de minha casa. Afinal, é a festa de aniversário da minha Pátria. Em todos os países da América Latina as bandeiras vão para as ruas em época de festa nacional.
Talvez isso seja atávico comigo. Quando eu era menino, via meu avô hastear a bandeira no mastro instalado na fachada da casa, todas as manhãs, e arriá-la no fim das tardes, de primeiro a sete de setembro. Nas casas da vizinhança, todos faziam isso. Agora, a Bandeira virou um símbolo de futebol, com o mesmo valor do estandarte do Flamengo ou do Corinthians. Uma espécie de sacrilégio. Agora, em Brasília, só vi um carro levando a bandeira, como o meu. No Rio, vi nenhum. Nenhuma bandeira nos prédios de Ipanema. Sete de Setembro é apenas uma oportunidade de fazer-se um feriadão – que é o eufemismo para matação de trabalho.
Tem gente que pensa que isso é para militar. Santa ignorância! Por que não se fazem mais os bailes da independência? Não se põem mais as fitinhas verde-amarelas na lapela? Vergonha do país roubado, espoliado por políticos que nós mesmos elegemos? Pois este país não é um desenho no mapa; não é um governo; não é sequer uma constituição. Este país chamado Brasil, onde nascemos, onde vivemos, onde vão viver nossos descendentes, não é essas abstrações. O Brasil concreto, real, está vivo. O Brasil somos nós. Se não nos sobra vontade para festejar o País que somos, é porque merecemos fazer torcida só para um time de futebol. Só que não podemos condenar nossos filhos e netos a pagar as consequências de nossa indiferença.