Em Nanjing, na China, ao participar do 7º Encontro de Ministro da Agricultura do grupo dos BRICS, Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), propôs nesta sexta-feira que o Plano de Ação 2017-2020 do bloco estabeleça um grupo de trabalho para o monitorar e apresentar propostas que ampliem o fluxo de comércio e de investimento agropecuário e agroindustrial. “Precisamos nos esforçar para sairmos deste encontro com diretrizes para atingir resultados que beneficiem as populações que representamos. É fundamental contarmos com mecanismo para superar barreiras ao comércio”, afirmou.
“Nesse grupo de trabalho, espero discutir temas, como questões sanitárias e fitossanitárias, regras mais flexíveis e oportunidades de negócio entre as empresas do setor”, disse o ministro Maggi. Para fortalecer o BRICS (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na área agrícola, é necessário, além de intensificar a cooperação, promover a inovação, acrescentou.
“Quero destacar a importância de colaborarmos mais intensamente na promoção da pesquisa, pois isso é fundamental para o sucesso de nossos produtores”, destacou Maggi, lembrando que, nos anos 1970, o governo brasileiro criou a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para responder demandas da agropecuária e enfrentar desafios do futuro. O que permitiu, observou, aumentar a produção de grãos em 386%, nos últimos 40 anos, enquanto a área utilizada na agropecuária cresceu 33%, 11 vezes menos.
Maggi falou também sobre a mudança de comportamento em relação ao meio ambiente. “Deixamos de ser um país que desmatava para extrair madeira ou que vivia de ciclos monocultores de cana de açúcar, café e borracha, para ser um dos líderes mundiais em setores como açúcar, café, suco de laranja, soja, carnes, milho, celulose e tantos outros, cuidando da natureza”. Comentou que “o Brasil tem grande orgulho em poder dizer ao mundo que a sustentabilidade é hoje uma marca da agricultura nacional”.
Fórum empresarial
O ministro do Mapa propôs ainda criar um fórum empresarial agrícola do BRICS. “Tenho certeza que podemos aprender muito mais uns com os outros. Todos têm experiências a compartilhar sobre integrar pequenos produtores ao mercado, agregar valor à produção, produzir preservando o meio ambiente”.
Defendeu um padrão de comércio agrícola “mais aberto e equilibrado”. Considerou que é possível cooperar também na coordenação de posicionamentos nos fóruns multilaterais para garantir ganhos comuns. E lembrou a criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, “importante instrumento para financiar projetos agropecuários inovadores”.
Investimento e Desenvolvimento sustentável
No Fórum de Cooperação Agrícola do BRICS sobre Investimento e Desenvolvimento Sustentável, Maggi afirmou que “segurança alimentar é um tema que não pode se limitar às fronteiras nacionais. Ao fazê-lo, os países condenam consumidores a comprar produtos mais caros. A falta de competição faz também com que a inovação não ocorra na velocidade desejável”.
Além disso, segundo Maggi, as restrições ao comércio impedem o melhor uso dos recursos naturais e a maior parte da população mundial se concentra em regiões cujos recursos estão se exaurindo.
No caso da agricultura, persistem restrições significativas ao comércio exterior, na forma de tarifas, subsídios e toda sorte de barreiras não tarifárias, de acordo com o ministro do Mapa: “Produtos básicos, como soja, milho, café verde, celulose e algodão circulam com facilidade no mundo e nos países do BRICS. Porém, produtos mais processados, como óleo de soja, açúcar, etanol, carnes, laticínios, papel e café solúvel enfrentam maiores barreiras”.
Segundo ele, é muito difícil garantir ao mesmo tempo volume, preço baixo, qualidade, sanidade e sustentabilidade do alimento que chega aos consumidores mantendo as fronteiras fechadas ao comércio. Não há como solucionar os desafios globais de segurança alimentar, inocuidade do alimento e sustentabilidade mantendo pesadas restrições ao comércio. “Não podemos perder a oportunidade que este bloco representa para a ampliação do comércio agrícola entre nossos países. Se pretendermos ser, efetivamente, um Bloco, o comércio entre nossos países deveria ser mais fácil do que com outros países”, declarou.
Reuniões bilaterais
Em paralelo à reunião dos BRICS, Maggi se reuniu com parceiros dos países do bloco. Com o ministro da Agricultura da China, Han Changfu, Blairo Maggi reconheceu que o país é grande parceiro comercial, o que tem permitido atrair cada vez mais empresas chinesas a investirem no Brasil nas áreas de agricultura, energia elétrica, distribuição de energia, infraestrutura. E disse haver interesse em estimular cada vez mais a parceria. “O Brasil é um país seguro, é um país que respeita os contratos, que respeita aquilo que foi combinado. É um país onde, cada vez mais, a China e os chineses podem fazer investimentos, que não terão problemas nenhum”, observou.
O ministro acrescentou que estão em andamento reformas na área da previdência social, e também trabalhista, que permitirão diminuir custos para os produtores, para as indústrias. “Enfim, estamos modernizando nossa legislação”.
Maggi combinou com o ministro da Agricultura da África do Sul, Senzeni Zokwana, realizar encontros de empresários de ambos os países para buscar oportunidades de negócios. A África do Sul tem interesse em comercializar navios pesqueiros, vinhos, chá. Do lado do Brasil, carnes bovina e suína. “Os BRICS precisam dar preferências e evitar barreiras. Temos que ter vontade política para fechar negócios”, sublinhou o ministro.
Maggi teve ainda encontro com o ministro da Agricultura da Rússia. Os russos têm interesse em comercializar trigo e pescados, em contrapartida, o Brasil exportaria carnes e soja.