quinta-feira, 25/abril/2024
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Tiro olímpico

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O prefeito do Rio deu entrevista a um jornal londrino, dizendo que o Brasil já perdeu a oportunidade das Olimpíadas. Acrescento que não é só essa. Perdeu a oportunidade que teve com uma moeda estável, sem inflação, perdeu a oportunidade de fazer as reformas da Previdência, Tributária, Política e Administrativa quando a Constituição permitia que fossem feitas sem maioria de 60%; perdeu a oportunidade de ter o território coberto por ferrovias; perde a oportunidade de ter imenso litoral, grandes extensões de terra cultivável, oferta de regime de chuvas, de rios e de sol, e ausência de terremotos, tsunamis, vulcões e furacões. Nos acostumamos a perder oportunidades. O prefeito Eduardo Paes não está dizendo nenhuma novidade. Somos o País das Oportunidades Perdidas.

Não disse novidade tampouco ao mostrar que grande parte do noticiário internacional fala mais em Zika e tiroteios que em Olimpíada. Nos últimos dias, é mais bala perdida cortando vidas que mosquito da dengue cortando os ares da cidade olímpica. Quando arrastaram até a morte o menino João Hélio pelas ruas do Rio, dias antes do carnaval, era o momento de a Prefeitura suspender o Carnaval como ato marcante para significar a luta contra a violência. Mas o Rio festejou a Marquês de Sapucaí como se o asfalto não estivesse coberto do sangue de uma criança. Não enxergou que já estava cercado da mais cruel e bem-armada bandidagem. 

As pessoas têm medo de ficar na parada à espera do ônibus; tem medo de assaltos nos ônibus; têm medo de contar o que vêem todos os dias à polícia; têm medo simplesmente porque estão num país tomado pelo crime de todos os tamanhos e figurinos de roupa. Assalta-se van escolar para roubar, sob o cano de armas, celulares de crianças; assalta-se ambulância para roubar doente de 94 anos, sob a lâmina de facão no pescoço; assalta-se carro forte com bazucas e metralhadoras de meia polegada de calibre; matam-se policiais militares à razão de um a cada três dias no Rio de Janeiro. 

Em tempos de bandido com revólver, a mortalidade era pouca, mas com o uso do fuzil, literalmente disparou. O tiro de fuzil atravessa carros, paredes e corpos. Como a polícia precisa usar essa arma de guerra para fazer frente aos bandidos bem armados, tem-se o tiroteio diário de que fala o prefeito do Rio. E  o projétil vai matando a 800 metros ou 2000. Uma praça de guerra que vai sediar jogos mundiais. Entre eles, as diversas modalidades de tiro esportivo. Os bandidos vão rir dos atletas que só atiram em alvos inanimados. Com o nosso silêncio e nossa passividade, nossa permissividade, por anos aplaudimos com o silêncio a modalidade não olímpica de tiro-a-pessoa. Fácil de entender como chegamos à banalização do crime que virou tão natural no país. E criou o medo resignado nacional.

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