terça-feira, 30/abril/2024
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Tarso Genro larga ministério e assume presidência do PT

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O presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoino, deixou o cargo no início da tarde deste sábado, antes da reunião da Diretório Nacional da sigla. Ele se licenciou do cargo alegando que a decisão foi tomada para que as investigações sobre supostas irregularidades na direção do PT sejam feitas “com isenção”. O substituto de Genoino no comando do partido será o atual ministro da Educação, Tarso Genro (RS), apontado pelo ala moderada do partido, o Campo Majoritário (do qual Genoino faz parte)

Genro, que assumiu o cargo no início da noite deste sábado, antes mesmo do fim da reunião do Diretório, deixará o posto de ministro.

Ricardo Berzoini, ex-ministro do Trabalho, é o novo novo secretário-geral do PT, assumindo a vaga aberta desde o afastamento de Silvio Pereira no início da semana. Já o deputado federal José Pimentel (CE) foi confirmado para a tesouraria, no lugar de Delúbio Soares.

O Campo Majoritário indicou também Humberto Costa, que deixa o cargo de ministro da Saúde, para a secretaria nacional de comunicação do partido. O atual secretário, Marcelo Sereno, ex-assessor da Casa Civil na gestão de José Dirceu, aceitou a substituição e já deixou o cargo à disposição.

Genoino sai
Em seu discurso de saída, Genoino foi incisivo em sua autodefesa e disse que o PT não compra deputados, numa alusão às denúncias de que o PT pagava deputados federais em troca de apoio a projetos do Executivo. A suposta prática ficou conhecida nacionalmente como “mensalão”.

“Cometemos falhas, erros, equívocos de procedimento. Mas não praticamos irregularidades, atos ilícitos. O PT não compra deputados. O PT busca a consciência e a vontade para mudar o País. É muito importante a repactuação do partido, e eu não poderia ser obstáculo para isso”, disse ele num breve depoimento após o anúncio de seu afastamento.

Genoino afirmou ainda que, a partir de agora, é um cidadão comum e vai lutar pela sua sobrevivência.

“Entreguei o meu cargo ao diretório nacional. Faço isso com o sentimento de dever cumprido nesses 30 meses de presidência do PT. Sempre encarei a presidência do PT como uma missão delegada a mim, pois meu projeto passava bem distante da presidência do PT”, disse ele.

Genoino afirmou que os seus anos dourados na política foram durante os seus cinco mandatos como deputado federal. “Ali vivi o lado poético da política. Mas não é a primeira vez que eu me vejo do lado duro da política.”

A Executiva Nacional do PT está reunida neste sábado em São Paulo para discutir a grave crise política que o partido atravessa e a sua recomposição. Uma das pautas era exatamente a discussão sobre a permanência ou não de Genoino no cargo.

Após as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que o partido pagava deputados em troca de apoio a projetos do Executivo, o PT teve duas baixas em sua cúpula.

Delúbio Soares, tesoureiro do partido, e Silvio Pereira, secretário-geral, se afastaram dos seus cargos para “facilitar” as investigações. Além da saída deles, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, deixou o governo Lula e voltou à Câmara para cumprir o seu mandato de deputado Federal. Os três, além de Genoino, ofereceram à CPI dos Correios a quebra dos seus sigilos fiscal, telefônico e bancário.

Segundo parte dos membros do partido, os cerca de R$ 440 mil apreendidos pela Polícia Federal nesta sexta-feira com o assessor de um irmão de Genoino, o deputado federal José Nobre Guimarães (PT-CE), complicaram a situação do presidente do PT.

Reações
A saída de Genoino já era esperada por boa parte dos petistas desde as denúncias de Jefferson de que o presidente do partido participava ativamente na suposta distribuição do “mensalão”.

“Os fatos falaram por si, e não foi necessário ir a voto para decidir a saída de Genoino”, afirmou o deputado federal Ivan Valente (SP), da esquerda petista, após o anúncio. “Alguns erros foram cometidos e agora vamos precisar corrigi-los”, completou.

Na mesma linha, o senador Eduardo Suplicy (SP) destacou a necessidade de união e fortalecimento do partido para enfrentar o momento de crise. “Agora é trabalhar”, disse Suplicy.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinalgia (SP), disse que a atitude de Genoino, embora corajosa, não é suficiente para resolver os problemas do partido. “Vamos, com certeza, sentir o impacto da saída nos próximos dias”.

Na opinião do deputado federal Chico Alencar (RJ), outro parlamentar mais à esquerda, o “impacto” veio logo após o anúncio de Genoino, na forma de silêncio entre os membros do partido. “Nunca ouvi um silêncio tão forte, tão ruidoso, na história da reuniões do PT”, afirmou.

Veja a íntegra da declaração de Genoino:

Eu quero comunicar aos filiados do PT, aos eleitores, a todos que apóiam o governo Lula, e comunicar ao povo brasileiro que, nesse momento, eu entrego o cargo de presidente do PT ao Diretório Nacional, numa licença da condição de presidente do PT.

Ao tomar esta decisão, sempre dissemos, ao longo desse processo, que existem dois valores que estão acima de nossas carreiras e de nossas personalidades: é o PT enquanto partido estratégico. É o projeto de esquerda e de um partido, que se referencia nos valores generosos do socialismo humanista e democrático. Um partido pluralista, de militantes de massa, que tem que estar acima de nossas pretensões.

Em segundo lugar, a importância estratégica do governo do presidente Lula, da sua liderança como promotor das mudanças que estão em curso no país e do seu papel como liderança no cenário mundial.

Diante desses dois valores essenciais, os dirigentes do PT e eu, como presidente do partido, tenho que colocar as minhas pretensões, as minhas opções, em segundo plano, em segundo lugar.

Por isso, nesses dias, consultando as lideranças do partido e suas forças políticas, e diante da grande responsabilidade que o PT tem nesse momento para enfrentar essa crise, superá-la, ser um partido fundamental na viabilização das mudanças do governo Lula, e buscar a nossa repactuação interna e com a nossa base social e política, eu considero, e informei isso ao Diretório Nacional, que não deveria continuar presidindo o PT. Portanto, eu entreguei o meu cargo de presidente do PT ao Diretório Nacional.

Faço isso com o sentimento de dever cumprido nesses 30 meses em que estive na presidência do PT. Porque sempre encarei a presidência do PT como uma missão. Eu já disse isso, várias vezes, que essa missão me foi delegada porque, na verdade, o meu projeto passava bem distante de presidir o PT.

Hoje, conversando no Diretório Nacional – e muitos aqui me conhecem -, eu me lembrei de que, em 20 anos como deputado federal, era aquilo que fazia o lado poético e romântico da política. Às vezes, a gente convive com o lado duro, que é este momento que nós estamos vivendo. Não é a primeira vez que eu vivo o lado duro da política.

Neste processo, eu agradeço a todos os companheiros da Executiva Nacional e do Diretório Nacional, com o sentimento de que, na condução do partido, nós certamente cometemos falhas, erros, equívocos e procedimentos, mas nós, no PT, não praticamos irregularidades, não praticamos nenhum ato ilícito. O PT não compra nem paga deputado. O PT faz da política esse lado de busca da libertação, de busca de consciências e vontades para mudar esse país.

Nós estamos vivendo um momento difícil e, nesse momento difícil, a soma de energias é muito importante para a repactuação do partido. Eu não poderia ser obstáculo para essa repactuação do partido, de uma nova direção executiva, de uma disputa no processo interno de eleição direta, que vai revigorar este partido.

A divisão entre nós é de idéias, é de táticas e de estratégias, não é entre bons e maus. Nós somos militantes com história, com tradição, com representatividade, e reconheço isso em todas as correntes internas do PT, mesmo aquelas em que tenho maiores divergências.

Este projeto é grande, é generoso, é pluralista. Muitas vezes, ele desafiou os analistas. Eu acho que nós vamos, mais uma vez, desafiar os analistas e dar a volta por cima desse momento difícil que nós estamos vivendo. Por isso, eu quero agradecer a todos vocês, a todas vocês dirigindo-se aos jornalistas, nesse processo de debate, de crise, de entrevista. Vocês sabem como é que eu me relaciono com a imprensa.

Tenho feito um esforço muito grande para ter esse relacionamento republicano e democrático. Às vezes, me expondo muito, porque vocês têm meu telefone e ligam diretamente para mim. Mas eu quero agradecer a vocês e pedir desculpas à imprensa, se em algum desses momentos eu não atendi devidamente a vocês, jornalistas. Como eu tenho essa relação muito direta, eu quero deixar isso claro.

E para concluir essa declaração, eu entendo que nós temos muitos desafios pela frente e vamos vencê-los. Certamente, esta reunião do Diretório Nacional será histórica. Nesse momento de dificuldade – e eu digo para vocês: de dor -, quero dizer que recebi do Diretório Nacional, na forma de gestos, na forma de semblantes, na forma até de lágrimas, este sentimento indestrutível que une homens e mulheres num projeto coletivo.

Por isso, pessoal, eu quero deixar esta declaração aqui. Eu serei José Genoino, ex-deputado federal. Certamente, a partir da semana que vem, ou daqui a um mês, eu tenho que cuidar da minha sobrevivência. Durante 20 anos como deputado federal, ao deixar a presidência do PT, eu tenho que ver como é que eu vou sobreviver como o cidadão José Genoino Neto.

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