Só há um modo de José Serra tornar-se o candidato oficial do PSDB à presidência da República. Ele terá de disputar com Geraldo Alckmin a preferência do partido. Foi o que informou Tasso Jereissati, presidente da legenda, às pessoas com as quais conversou privadamente no final de semana.
A posição nas pesquisas de opinião, trunfo de Serra, não é mais o fator determinante do processo. A cúpula do tucanato convenceu-se de que não tem como negar a Alckmin, atrás de Serra nas sondagens eleitorais, o direito de postular a presidência.
Ao evitar assumir-se publicamente como candidato, Serra permitiu que Alckmin avançasse sobre a máquina partidária. O Ceará de Tasso tornou-se, por exemplo, uma eloqüente evidência de que o governador de São Paulo não pode mais ser considerado como um candidato de si mesmo.
Não é sem razão que Tasso comportou-se durante as negociações como um ioiô -era Alckmin no começo, migrou para Serra no meio e voltou a pender para Alckmin nesta reta final. Em conversa com um amigo, o governador tucano Lúcio Alcântara, aliado incondicional do presidente do PSDB, contou que, entre os cearenses, Alckmin prevalece sobre Serra.
No Estado de Tasso, o PSDB elegeu nove deputados federais. Oito desejam que a candidatura presidencial do partido seja confiada a Alckmin: Antonio Cambraia, Gonzaga Motta, Léo Alcântara, Manoel Salviano, Marcelo Teixeira, Raimundo Gomes de Matos, Vicente Arruda e Antenor Naspolini. Chama-se Bismarck Maia o único deputado cearense pró-Serra.
A julgar pelas informações recolhidas pela cúpula tucana, o avanço de Alckmin não se deu apenas no Ceará. Contaminou outros Estados. Daí a convicção de que, caso Serra confirme a disposição de concorrer à presidência, terá de cavar a vaga no voto, ainda que em disputa informal, não caracterizada como uma prévia.
Congressistas tucanos aliados de Serra o estimularam à disputa no fim de semana. Embora reconheçam que Alckmin conquistou nacos do partido, acham que o governador blefa ao apregoar que dispõem de maioria. Na guerra de nervos em que se transformou a negociação tucana, os partidários de Alckmin ainda apostam que o prefeito, no final das contas, não topará disputar com o governador.
Ao mesmo tempo em que alardeiam a impressão de que Serra fugirá da raia, os correligionários de Alckmin avançam no debate acerca dos critérios da eventual disputa. Receiam que o triunvirato tucano –FHC, Tasso e Aécio Neves- opte por submeter a escolha a um colegiado restrito –a Executiva do partido, por exemplo.
Para Alckmin, julgam os seus apoiadores, o ideal seria que a disputa, se houver, deságüe pelo menos numa reunião do diretório nacional do partido. Um “diretório ampliado”, como dizem, incorporando governadores, parlamentares e lideranças regionais do partido.
Nesse ambiente, o PSDB só conseguiria cumprir a promessa de anunciar formalmente o nome de seu candidato nesta quarta-feira em duas hipóteses: ou a direção impõe o nome de Serra a Alckmin, algo que não está disposta a fazer, ou o prefeito desiste de concorrer à presidência, entregando a vaga a Alckmin por WO. A terceira hipótese é a disputa, cuja organização consumiria alguns dias . Qualquer que seja a solução, o PSDB flerta com a divisão que pretendia evitar.
Ainda interessado em contornar a disputa, o triunvirato já não se mostra tão convencido de que Serra é a melhor alternativa presidencial do partido. A dúvida não é uma exclusividade de Tasso. Até FHC, até bem pouco o maior defensor da opção Serra, agora acha que o melhor caminho para o prefeito seria a candidatura ao governo de São Paulo, uma alternativa que o ex-presidente pôs sobre a mesa.