O jornal americano, o “The Miami Herald”, afirma na sua edição desta sexta-feira que “a fusão do agronegócio com a influência política foi central para a emergência do Brasil como uma potência agrícola”. A reportagem é sobre o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, intitulada “O rei da soja usa duas coroas” – uma espécie de alerta para o método utilizado no Brasil. A matéria é assinada pela jornalista Jane Bussey, que esteve em Cuiabá junto com diversos produtores americanos. “Blairo Maggi poderia ser chamado o rei da soja se não tivesse já um outro título: governador de Mato Grosso” – diz a matéria.
O jornal diz que o Brasil está ameaçando “a supremacia dos Estados Unidos na alimentação do mundo” e que os produtores americanos enfrentam “um país que não apenas ostenta baixos custos de produção e vastas reservas de terra relativamente barata, mas também onde magnatas agrícolas como Maggi obtiveram amplo poder político”. A matéria lembra que nas últimas três décadas, o Brasil transformou-se no maior exportador do mundo de açúcar, do café, do frango, da carne de boi e do tabaco” e prevê que logo deve “alcançar os Estados Unidos como maior exportador de soja”.
A transformação do Brasil em potência mundial de produção de alimentos, porém, teve um preço: a destruição das florestas. O “The Miami Herald” frisa que esse fato promoveu um levante por parte dos ambientalistas. “Maggi e outros grandes fazendeiros em Mato Grosso, onde o cerrado e a floresta tropical estão sendo substituídos pela soja, pelo milho e pelo algodão, esticando tanto quanto o olho pode ver, estão no centro deste conflito. Aproximadamente a metade do desmatamento registrado estava em Mato Grosso, onde a terra dedicada à produção do soja expandiu por 400 por cento nos últimos 10 anos” – frisa a reportagem. “Mas Maggi, que tem mais um ano e meio dos seus quatro anos como governador, afirma que os interesses ambientais são exagerados”.
“Os ambientalistas nos criticam porque usamos 40 por cento da terra para a agricultura e para os animais domésticos. Nunca dizem que nós protegemos outros 60 por cento da terra” – retruca o governador.
A reportagem ainda menciona os efeitos da BR-163 do ponto de vista econômico e ambiental. O presidente do Instituto Centro de Vida, Sérgio Guimarães, prevê o crescimento da expansão da fronteira agrícola e do plantio de soja com a pavimentação da rodovia rumo Norte, buscando a saída de exportação pelo Porto de Santarém, no Pará. Guimarães explica que a soja cresce sobre as áreas inicialmente derrubadas para abrigar o rebanho bovino.
A produção de soja no Brasil dobrou em uma década. A produção agora 65 milhão toneladas, comparadas a 85 milhão toneladas nos Estados Unidos, considerado o produtor o maior do mundo. O jornal mostra que a demanda deve aumentar, especialmente por causa da China, atualmente o maior mercado consumidor.
Os fazendeiros do médio-Oeste americano viajaram por Mato Grosso para ver de perto o sistema de produção. ‘”O Brasil está impactando-nos realmente” – diz o fazendeiro de grãos, Dennis Keeney , de Iowa. Na viagem do grupo, o governador Blairo Maggi, cujas as terras arrendadas produzem dois milhões das 15 milhão toneladas de soja de Mato Grosso, agiu como a guia de excursão. Também esteve presente na viagem o prefeito de Rondonópolis, Adilton Sachetti,
A matéria conta ainda sagas de famílias que deixaram suas terras para se aventurar na “terra prometida” de Mato Grosso. O jornal traça também um perfil da produção do Estado com as condições de trabalho. “O governo brasileiro sempre tratou os produtores em grande escala melhor” – disse Luiz Vicente Facco, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. “Os pequenos produtores estão na margem; os beneficiários são aqueles que estão exportando”.
A reportagem do “The Miami Herald” termina, pórém, com uma provocação, que se tornou recentemente uma das marcas do governador de Mato Grosso. Ela diz que Maggi recentemente ganhou um “terceiro título” em uma votação promovida pela ONG Greenpeace na internet: o de “rei do desflorestamento”.