Em agosto, o deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT) procurou Ricardo Berzoini no comitê em Brasília e disse ter tido ciência de que o governador Blairo Maggi (PPS-MT) havia pago Vedoin para que este falasse à revista “Veja” naquele mês. Na entrevista, o empresário acusou o então candidato tucano ao governo, o senador Antero Paes de Barros, de envolvimento com a fraude das ambulâncias superfaturadas.
Pelo acordo, Vedoin deveria ainda formalizar a denúncia na Justiça. Num primeiro depoimento, Vedoin inocentou Antero, mas, em outubro, repetiu em juízo a acusação.
O secretário de Comunicação Social do governo do Mato Grosso, José Carlos Dias, nega que Maggi tenha comprado a denúncia e atribui a acusação a seu adversário, o senador tucano Antero de Barros (MT).
Abicalil sugeriu a Berzoini que um expediente semelhante poderia ser adotado contra tucanos fora do Estado. Disse que soubera da disposição de Vedoin de negociar um dossiê e de conceder uma entrevista a uma grande revista de circulação nacional acusando José Serra.
Depois de tentar intermediar sem sucesso a entrevista para “Época”, o PT conseguiu que “IstoÉ” a publicasse. Berzoini teria considerado complicada a compra da denúncia, mas pediu que o deputado federal conversasse com Lorenzetti e Osvaldo Bargas. Estes dois integravam o núcleo de análise de risco e mídia, eufemismo para a equipe encarregada de descobrir denúncias contra adversários, instrumento que todas as grandes campanhas montam.
A partir do relato de Abicalil, Bargas viajou para Cuiabá. Teria avisado Vedoin inicialmente que o PT não pretendia desembolsar nada pela denúncia.
Segundo os investigadores, Expedito Veloso, à época diretor do Banco do Brasil, seguiu para a capital mato-grossense a fim de averiguar a veracidade e a importância de dados fornecidos pelo chefe da máfia dos sanguessugas –a versão do próprio Expedito, apesar das suspeitas de que ele sabia a origem dos recursos.
Ainda de acordo com a PF e o Ministério Público, Vedoin concordou a princípio em não ser remunerado. Teria alegado interesse em proteção política do PT e da PF porque Lula provavelmente seria reeleito e ele não desejaria ser perseguido pelo partido ou pelos investigadores. No entanto, a partir de um determinado momento, o empresário passou a exigir dinheiro. Essa mudança de comportamento alimenta até hoje entre os petistas a tese de que foram atraídos para uma armadilha, hipótese que PF e Ministério Público não descartam.
Para convencer o PT a comprar o dossiê, Vedoin teria dito que Abel Pereira, empresário ligado ao tucano Barjas Negri, prefeito de Piracicaba e ex-ministro da Saúde, estava lhe oferecendo R$ 10 milhões para engavetar denúncias contra o PSDB –mas que ele, Vedoin, preferia negociar com o PT.
Lorenzetti e Bargas consultaram Berzoini, sempre segundo o que foi apurado pelos investigadores. O então presidente do PT avaliou que se tratava de uma operação arriscada, mas resolveu avalizá-la. Acertou-se o valor de R$ 2 milhões.
Em 15 de setembro, a PF apreendeu R$ 1,7 milhão com Valdebran Padilha, petista de Mato Grosso que representava Vedoin, e Gedimar Passos, policial federal aposentado que integrava o núcleo de “inteligência” do PT e que recebeu o dinheiro de Hamilton Lacerda.
Cruzamento feito pela CPI dos Sanguessugas a partir de quebras de sigilos telefônicos mostra que, após acompanhar a entrevista dos Vedoin à “IstoÉ” em Cuiabá, Bargas ligou 11 vezes para Berzoini em 13 de setembro –dia que Lacerda foi flagrado pelas câmeras do hotel Íbis carregando uma mala preta.