A convenção nacional do PMDB aprovou neste sábado uma moção que proíbe filiados de assumirem novos cargos no governo federal nos próximos trinta dias, período em que o partido avaliará se rompe com a presidente Dilma Rousseff e adota uma posição de independência no Congresso. Deputados e dirigentes de oposição, favoráveis ao impeachment de Dilma, pressionaram para que o veto fosse à votação.
O objetivo é evitar que o deputado Mauro Lopes (MG) venha a assumir a Secretaria da Aviação Civil e se torne o oitavo ministro peemedebista no governo. Mauro deseja assumir o cargo mesmo assim.
A decisão foi tomada com o plenário esvaziado, depois de o vice-presidente da República, Michel Temer, deixar a convenção em Brasília acompanhado pelos caciques do partido, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
"Não vamos aceitar nenhum cargo nos próximos trinta dias. Temer, precisamos decidir essa questão política", cobrava o prefeito de Araraquara (SP), Marcelo Barbieri. "Nós não deliberamos se vamos aceitar a cooptação por parte da presidente Dilma para tentar desmontar o PMDB com novos cargos."
O ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha ainda telefonou para o vice-presidente e tentou conter a apreciação da moção. Primeiro, ele disse que Temer recomendou uma consulta ao setor jurídico do PMDB. Minutos depois, entre gritos de "saída já" e "fora PT", anunciou que a votação seria liberada.
A decisão foi comemorada por integrantes da Juventude do PMDB e deputados como Carlos Marum (MS), Darcísio Perondi (RS) e Osmar Terra (RS). "Quem aceitar qualquer cargo no governo a partir de agora e quem não sair vai estar expulso do partido dentro de trinta dias", disse o deputado Osmar Terrra (RS). "Quem sustenta esse cadáver insepulto desse governo são os governistas do PMDB", afirmou Marum.
O ex-vice-presidente da Caixa e ex-ministro Geddel Vieira Lima (BA), atualmente contrário à aliança com o PT, ainda tentou constranger o ministro da Saúde, Marcelo Castro, ao cobrar abertamente – na mesa – que explicasse aos militantes o motivo de ainda estar no governo.
Sob gritos de "fora Dilma" e "Brasil para frente, Temer presidente", o PMDB abriu neste sábado a convenção nacional que reconduzirá o vice-presidente da República, Michel Temer, ao comando do partido, em meio a pressões majoritárias para o desembarque do governo Dilma Rousseff. Oposicionistas do PMDB leram a Carta de Brasília, um manifesto político que condena a crise do governo petista e exige o abandono imediato da aliança. Eles aceitaram a proposta do vice-presidente: postergar em trinta dias a decisão de sair do governo federal.
"Propomos que o PMDB se afaste imediatamente dessa desastrosa condução do país e atue de forma independente no Congresso Nacional. Temos que desembarcar do governo que não nos respeita nem considera", diz trecho da carta.
Além da Carta de Brasília, os diretórios e parlamentares oposicionistas propuseram uma moção que exige a "imediata entrega de cargos" em todas as esferas do Executivo federal, sob pena de abertura de processo de expulsão. A cláusula foi incluída para tentar enquadrar ministros como Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Marcelo Castro (Saúde) e Katia Abreu (Agricultura) – nomes que, na avaliação deles, devem se manifestar contra o rompimento. A moção afirma que o quadro econômico é "caótico" e que é "notória a incapacidade do governo federal para enfrentá-lo".
A carta tem o apoio de diretórios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Acre, Espírito Santo, Rondônia, Roraima, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, entre outros.
O acordo prevê que, nesse prazo, a Executiva Nacional a ser eleita neste sábado pelo Diretório Nacional se manifeste sobre a moção de rompimento. Um dos principais assessores do vice-presidente avalia que o partido "vai deixar o governo mais adiante".
Os parlamentares favoráveis ao impeachment de Dilma acreditam que, ao longo do período, aumente a pressão de movimentos de rua contra o PT e também a deterioração da economia.
"O Michel tem condições de ser o Itamar [Franco], mas precisa mostrar ao Brasil que o PMDB está unido", disse o deputado Darcísio Perondi (RS). "Queremos o PMDB do Senado conosco, principalmente o Renan e o Eunício. O Michel vai mostrar que tem a unidade no PMDB. Se o PMDB não tiver responsabilidade vai ser arrasado pelas ruas com o PT."
"Esses trinta dias são o tempo que o PMDB vai ter para analisar a situação, buscar caminhos e coragem para seguir em frente", ponderou o senador Valdir Raupp (RO), vice-presidente do partido, citando o Papa Francisco.
Segundo oposicionistas, o recuou se deve pela necessidade de convencer a bancada do Senado, sobretudo, o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), e o líder do partido, Eunício Oliveira (CE). "O argumento do [senador Romero] Jucá foi: quem vai comandar o impeachment no Senado?", afirma um deputado, sob anonimato.