A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibida na noite de ontem, esquentou o clima no Congresso hoje. A oposição acusou o presidente de “mentir” ao negar a existência do “mensalão” e o uso de ” caixa 2″ na sua campanha em 2002. “Foi a pior entrevista que eu já vi na minha vida. O nariz dele parecia que ia saltar pela TV”, disparou o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ).
Na avaliação de Maia, o presidente preferiu “mentir para se esquivar das perguntas e usou de forma absurda as CPIs para se defender”, passando a impressão de que foi ele quem estimulou a criação das comissões para investigar as denúncias. “O que aconteceu foi exatamente o contrário. O governo se esforçou muito para evitar as CPIs”, disse.
Os governistas saíram em defesa do presidente. “A oposição tenta atribuir ao presidente o que não tem nada a ver com ele, nem com o seu Governo”, afirmou o líder do Governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Líder do PT considera entrevista serena
O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), avaliou a primeira entrevista do presidente depois da crise política como “serena, franca e objetiva”. “Do meu ponto de vista ele apresentou respostas consistentes”, disse. Para Fontana, não há motivos para se falar no afastamento do presidente. “O impeachment não é algo sério, não há qualquer comprometimento do presidente da República. Não podemos alimentar esta luta política sem tréguas que não é positiva para o Brasil”, reagiu.
Na entrevista, o presidente disse não acreditar no “mensalão” e argumentou que a única pessoa cassada até agora foi quem denunciou o suposto esquema de pagamento de propina a deputados da base aliada, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Sobre o “caixa 2”, que já foi admitido pela direção nacional do PT, Lula afirmou que não imaginava que o PT e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares iriam terceirizar as finanças da legenda. “O PT nunca poderia ter praticado coisas intoleráveis como caixa 2”, disse Lula. O presidente também negou a denúncia de que o governo cubano teria doado US$ 3 milhões para a sua campanha em 2002. “Cuba é muito miserável para emprestar dinheiro, mas tem que investigar”, afirmou.
O presidente saiu em defesa do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu que, segundo ele, será cassado por razões políticas e não por ter praticado alguma irregularidade. “O Congresso está condenado a condenar José Dirceu”, avaliou. Lula defendeu que todas as denúncias sejam investigadas até o fim, mas condenou a divulgação de relatórios parciais. “O que tenho ouvido por aí me cheira a um pouco de fantasia”, alertou. Mostrando tranqüilidade durante toda a entrevista, o presidente saiu do tom quando questionado sobre a compra do ‘Aerolula’, usado nas dezenas de viagens presidenciais, que custou aos cofres públicos US$ 56 milhões. O presidente acusou seus críticos de serem ‘hipócritas’. Segundo Lula, a oposição quer passar para a sociedade que a aeronave é um bem próprio, distorcendo a realidade, já que será utilizada pelos próximos presidentes.