Em depoimento à CPI mista dos Correios, Renilda Maria Santiago de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, afirmou que o deputado José Dirceu (PT-SP) sabia sobre os empréstimos tomados nas empresas de publicidade e que depois seriam passados ao PT.
“A única coisa que ele me disse é que o doutor, na época ministro José Dirceu, sabia dos empréstimos. Eu perguntei como ele [Marcos Valério] sabia. Ele me falou que houve uma reunião da direção do Banco Rural em Belo Horizonte com o ministro José Dirceu para resolver o pagamento desses empréstimos com o Banco Rural. E houve uma reunião em Brasília da direção do BMG, não sei onde, para acertar o pagamento das contas porque o banco também queria receber”, disse.
Segundo ela, Valério não participou da reunião. “Minha preocupação foi como o empréstimo seria pago”, disse, ao comentar sobre a conversa que teve com o marido.
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares havia justificado que recorrera aos empréstimos porque, apesar da vitória nas eleições presidenciais, teve “muita dificuldade” para obter recursos para as campanhas municipais de 2004. Disse também que o PT recorrera a empréstimos (no Rural e BMG) para pagar gastos que seriam do partido, para cobrir despesas efetuadas na transição e na posse presidencial.
Segundo Renilda, Valério e Delúbio se falaram recentemente pelo telefone. “Sei que conversaram, mas não sei se foi só pelo telefone ou pessoalmente.”
A mulher de Valério informou ainda que perguntou ao marido se ele teve algum contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que a resposta foi negativa. “Ele nunca teve qualquer contato ou conversou com o presidente”, disse.
Renilda iniciou seu depoimento afirmando que nunca freqüentou e não sabe como é o funcionamento das empresas SMPB e DNA, das quais é sócia. No início da sessão, ela lembrou que a secretária Fernanda Karina Somaggio, que trabalhou por nove meses em uma das empresas de publicidade, relatou nunca ter visto Renilda. “Optei por cuidar dos meus filhos”, disse.
Visivelmente tensa, Renilda afirmou que Valério tem uma procuração para defender seus interesses. “Tenho uma relação de confiança, entre namoro e casamento o conheço há 25 anos. Faria tudo novamente”, afirmou.
A mulher de Valério disse também que nunca houve reuniões de trabalho em sua casa. “Até os fatos atuais, minha família era preservada. Dentro da minha casa só a minha família freqüentava.”
Em uma fala rápida, Renilda aproveitou a ocasião para negar que tenha tentado retirar R$ 1,8 milhão do Bank Boston, no último dia 20. “A movimentação bancária não existiu. A conta está sendo monitorada e preciso da autorização da gerente para pagar contas”, afirmou.
Renilda disse aos integrantes da CPI que recebeu uma ligação da gerente do banco informando que não havia mais interesse em mantê-la como cliente, mas decidiu esperar por um comunicado oficial.
Na ocasião, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Nelson Jobim, determinou o bloqueio da conta bancária de Renilda do banco BankBoston, em Belo Horizonte.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhou um relatório com a informação de que houve uma tentativa de resgate na conta do Bankboston.