“É comum o juiz criminal sofrer ameaça, isso não é difícil de acontecer. Durante a carreira da gente, em algumas oportunidades, isso acontece”. A afirmação é da juíza Selma Rosane Santos Arruda, titular da 7ª Vara Criminal de Cuiabá ao comentar sobre o teor de um depoimento prestado pelo estelionatário Walter Dias Magalhães Júnior, um dos 5 presos na Operação Castelo de Areia, deflagrada pela Polícia Civil no dia 26 de agosto para desarticular uma quadrilha suspeita de aplicar golpes em várias vítimas, cujo montante pode ultrapassar os R$ 500 milhões.
Considerado um dos maiores golpistas de Mato Grosso, tendo dezenas de ocorrências registradas contra ele, por vítimas de diferentes regiões do Estado, o estelionatário Walter Magalhães revelou, em depoimento aos delegados Flávio Henrique Stringuetta e Diogo Santana Souza, da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), que estaria em curso um plano para matar a juíza Selma Rosane. Ele citou o vereador cassado João Emanuel Moreira Lima, que também foi preso na Operação e atualmente está em prisão domiciliar, como um dos envolvidos no plano de assassinato da magistrada.
Por sua vez Selma Rosane disse não se sentir intimidada e alerta que é preciso cautela, pois as investigações continuam. “A princípio trata-se apenas de uma declaração de um comparsa dele de que isso teria acontecido. Não se tem nenhuma apuração de que seja verdadeira essa intenção e, portanto, a gente tem que ter bastante cautela pra não julgar antecipadamente as pessoas”, disse a juíza em entrevista para imprensa em seu próprio gabinete da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, localizada no Fórum da Capital.
Diante da revelação feita pelo criminoso, a magistrada foi questionada se ficou amedrontada. “Não. Eu sou muito bem guardada, tenho uma escolta muito bem treinada”, respondeu Selma Rosane.
Na versão de Walter Magalhães, o comparsa João Emanuel, depois de ter sido preso no Hospital Jardim Cuiabá no dia 26, pois havia passado por uma cirurgia de próstata no dia anterior e ter conseguido um habeas corpus que converteu a preventiva em prisão domiciliar, teria enviado um “salve” para a facção Comando Vermelho, do qual faria parte. Segundo o estelionatário, o ex-vereador teria ordenado o assassinato da juíza Selma Rosane Santos Arruda.
Esta é a 2ª vez que o João Emanuel é preso acusado de integrar uma organização criminosa. A primeira prisão dele foi cumprida no dia 26 de março de 2014 nos desdobramentos da Operação Aprendiz. À ocasião ele ainda era vereador por Cuiabá e foi acusado por práticas de crimes de organização criminosa, uso de documento público falso, falsidade ideológica e estelionato. Depois, teve o mandato cassado, por 20 votos, em 24 de abril de 2014 por quebra de decoro parlamentar. Assista a entrevista da juíza.
No começo dessa semana, o Ministério Público formulou 4 pedidos de prisões preventivas em desfavor de João Emanuel em ações penais que já tramitam na Justiça e ele responde em liberdade. “Eu analisei um deles inicialmente entendendo que havia requisitos pra decretar. Ocorre que antes de decidir se eu ia decretar a preventiva, determinar que ele fosse ao CCC ou se vou decidir que o melhor é ele ficar em prisão domiciliar eu resolvi fazer essa análise clínica pra ver se ele tem condições de ser recolhido ou não”, explica Selma Rosane.
Ainda de acordo com a magistrada, se o ex-vereador tiver condições de ser recolhido ela acredita que seja o melhor caminho. “Até porque nas declarações do próprio Walter existe uma referência a que ele (João Emanuel) teria ligado no presídio depois da prisão do Walter, ou seja, provavelmente da casa dele, ele teria ligado no presídio dando um salve pro pessoal do Comando Vermelho. Então, a princípio se ele estivesse preso ele não estaria fazendo isso”.
Na manhã da última terça-feira (6), João Emanuel foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo e delito, mas deixou a unidade sem ser examinado. Dessa forma, Selma Rosane nomeou um médico particular e no mesmo dia, no período da tarde, ele foi conduzido ao Hospital Jardim Cuiabá aonde foi examinado pelo médico que também determinou a realização de um exame de urina. O resultado ainda não foi divulgado. Com base nele, a magistrada vai decidir se ele volta para o Centro de Custódia ou se permanece preso em casa.