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Gravação de empresário de Colíder mostra como era feitos subornos a fiscais

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A Polícia Federal de Mato Grosso começa a divulgar, pela primeira vez, as interceptações telefônicas (“grampos”), com autorização da Justiça. As pessoas acusadas e presas na “Operação Curupira”, sequer imaginavam que tiveram suas conversas gravadas pela PF.

Numa das acareações realizadas nesta semana pelo delegado Tardelli Cerqueira Boaventura, que chefia as investigações e preside o inquérito contra a “Máfia da Madeira”, Hugo Werle, ex-superintendente do Ibama ouviu as conversas que envolvevem seu nome, e agora ele sabe que existem outras gravações.

Numa das conversas entre outros acusados, Wilson Antonio Rosseto, um dos presos no Norte de Mato Grosso, conta com numa conversa com Ariel e em outra como H.N.I., como funcionava a compra e venda de ATPFs e como eles subornavam fiscais corruptos do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

OPERAÇÃO CURUPIRA

Interceptações telefônicas)

24/02/05 13:32:56
(65) 9983-0304 X (65) 9981-4702
Álvaro X Alex

Álvaro liga para Alex para contar um fato, ocorrido entre ele e uma chefia do Ibama, que o impressionou. A chefia fez uma proposta que Álvaro não compreendeu. Após o fato, Álvaro recebeu um telefonema, cujo interlocutor fez explicitamente a proposta de corrupção.

Alex: Alô.
Álvaro: Alexe.
Alex: Eu.
Álvaro: Você vai estar que horas na Tecamat?
Alex: Eu não devo sair daqui.
Álvaro: Ah, você está aí?
Alex: Estou.
Álvaro: Mas que hora que o Evandro vai estar aí também?
Alex: Ah, ele é chefe. Aí eu não sei. Por que?
Álvaro: Três e meia… Ah, eu tinha uma reunião com vocês dois.
Alex: Ah, me adianta o que que é aí, meu.
Álvaro: Você sabe o que que é, velho. Já sabe.
Alex: Não sei.
Álvaro: Saiu do jurídico e foi pra esfera decisiva, aí chegou lá “não, eu só assino se… Tá?”. Tá bom? Acabei de sair de lá agora, não almocei… Tô puto.
Alex: Ah, então saiu, independente dos documentos?
Álvaro: Saiu. Mandou sair. Entendeu?
Alex: Certo.
Álvaro: Eu preciso conversar com você.
Alex: Tá. Tá. Então tá.
Álvaro: O que que nós vamos fazer, porque daí já está na esfera final e tem mais os quatro lá atrás, né?
Alex: Certo.
Álvaro: Então quer fazer um pacote. Entendeu?
Alex: Certo.
Álvaro: Pra acelerar os quatro, também para a semana que vem tudo.
Alex: Tá, e o que que eles propõem?
Álvaro: Não, não tô dizendo nada, eu quero conversar com você o que que nós vamos passar, o que que nós vamos fazer. Eu não entendi na hora, Alex, sou sincero pra você, sabe? Eu levei pra assinar e ele disse que não ia assinar. Entendeu?
Alex: Quem não ia assinar?
Álvaro: A chefia maior.
Alex: Ah, é?
Álvaro: Aí eu perdi o controle, cara, porque eu não entendi na hora, cara. Entendeu?
Alex: [Risos]
Álvaro: Pôxa, pergunta pra minha mulher. Cheguei lá em casa, você ficar até meio-dia e quarenta lá e… Aí eu perdi o controle. Aí depois que veio o telefonema. “Ô, baixa a bola porque é isso”. Entendeu. Na hora eu não entendi, não entendi, juro por Deus.
Alex: Tá. E… O Evandro tá na outra linha aqui. Deixa eu ver com ele aqui. Já te ligo.
Álvaro: Tá bom.

24/02/05 13:35:29
65) 9981-4702 x (65) 9981-3037
Alex x Evandro

Alex conta a Evandro o ocorrido com Álvaro, descrito no diálogo anterior. Alex ironiza a situação, como se já estivesse acostumado com isso.

…(nada digno de registro)…
Alex: Seguinte: estava na outra linha agora com o [risos] o Doutor Álvaro. Disse que a hora que ele falou que já tinha ligado aqui. Isso, ele ligou da frente, né, a hora que o pessoal viu que ele já tinha ligado aqui, já estavam levando as cópias autenticadas para ele, ou seja, não ia ter mais enrolação, aí que o pessoal resolveu liberar sem as cópias mesmo.
Evandro: [risos]
Alex: Aí tá. Disse que ele chegou lá pro Hugo assinar, prontinho pro Hugo assinar, disse que o Hugo não assinou. Disse que não ia assinar. Disse que ele entrou em parafuso. Que ele foi pra casa dele e não sabia o que fazer.
Evandro: Ah.
Alex: Isso ele falando. Aí, a hora que ele disse que já estava procurando uma corda pra se enforcar, que ligaram lá pra ele, não disse quem e falou “pô, baixa a bola aí, não tem, e o nosso?”.
Evandro: Ah-ham.
Alex: Aí ele quer vir aqui pra passar isso, ver o que ele pode oferecer, o que ele pode fazer. [risos] não tem jeito…
Evandro: Tá, mas quem que é o cidadão, Alex? Ele vai chegar e vai falar “e aí…”.
Alex: Não, ele não quis dizer, mas é lógico que ele sabe, é o Hugo. Se o Hugo não quis assinar, o que o Hugo então teria a ver com isso? Disse que não quis assinar, o Hugo falou pra ele: “não vou assinar”. Disse que ele não sabia onde botar, disse que ele saiu transtornado de lá e depois que ligaram pra ele. Esse “ligaram” que ele nem precisava dizer quem é, né? Ou foi o Hugo ou alguém a mando dele. Olha a situação.
Evandro: Ele sabe quem que é a pessoa?
Alex: Sabe, lógico. Tô falando que o Hugo não assinou e que ligaram pra ele. Ligaram. Lógico que se não foi o próprio Hugo, foi alguém ou …(incompreensível)…
Evandro: …(incompreensível)… ele vai saber, ele vai voltar ele vai lá conversar com ele agora.
Alex: Ele quer vir aqui conversar comigo e com você juntos.
Evandro: Ah, você, hoje, não, então daí você resolve do mesmo jeito.
Alex: Ele não quer. Já falei pra ele, mas ele “não, eu quero a hora que o Evandro estiver, eu quero ir junto”. Falei: então tá.
Evandro: Tá brabo, meu irmão… Tem que levar um gravador, alguma coisa.
Alex: …(incompreensível)… não adianta, vai falar o quê? Ele quer fazer um pacote pros 5 processos já.
Evandro: Ah, vai, meu Deus.
…(nada digno de registro)…

22/03/2005 – 16:33
WILSON (66) 9201-7387 x ERIEL (93) 3518-3982

ERIEL fala de uma pessoa que tem interesse nas ATPFs e pergunta se tem como WILSON fazer por R$1.500,00 cada uma. WILSON diz não ter como, pois ele colocou seu carro no negócio. Acabam fechando o valor em R$1.600,00 cada ATPF. ERIEL fica de pegar um avião para levar o dinheiro e pegar as ATPFs com WILSON.

…(nada digno de registro)…
ERIEL: Viu, fazer um negócio pra você. A de …(incompreensível)…vai dar negócio aqui. Veja bem. Tem uma pessoa aqui que ele fez pedido lá, via Cuiabá, aí o cara fez pra ele, tava fazendo pra ele a 1500. Não tem como você fazer esse trem pra mim não?
Wilson: Não dá. Não dá, sabe por que? Por causa do carro. Eu tô enfiando o carro na jogada.
ERIEL: Ah, é, né? Certo.
Wilson: E eu tenho que no mínimo tirar, tenho que conseguir comprar outro carro.
ERIEL: Veja bem, eu não tô ganhando… eu não vou ganhar nada com esse trem não. Nadinha. Eu só vou passar pra …(incompreensível)…vender. Nenhum centavo. Aí, eu vou aí, você paga a passagem pra mim buscar esse trem em mão e voltar. Vou levar o dinheiro em mão, tá?
Wilson: Em dinheiro?
ERIEL: Hã?
Wilson: Em dinheiro, mil e seiscentos?
ERIEL: Exato, é. Mil e seiscentos.
Wilson: Então, quanto que é a passagem?
ERIEL: Eu não sei quanto que é não. Eu paguei de …(incompreensível)…pra cá, não dá mais de quinhentos contos, não. É quatrocentos …(incompreensível)…
Wilson: Então tá, vamos fazer o seguinte, Eriel. Eu vou fazer o seguinte. Eu vou te ligar desse 94 seu, e vou confirmar com você dentro de 10 minutos.
ERIEL: Se tá pronto, ou não?
Wilson: É… não, não. Tá lá comigo, ué?
ERIEL: Ah, tá.
Wilson: É só pra mim entregar a caminhonete pro cara.
ERIEL: Não, eu vou… veja bem. Não, fala pra tu fechar com ele mais tarde. Não fecha agora não, porque eu vou ali buscar o dinheiro primeiro.
Wilson: Ah, tá. Tudo bem, então.
ERIEL: Tentar depois das oito, que tem uma ligação aqui, uma reunião, mais ou menos sete horas. Aí sete horas, se eu tiver com o dinheiro na mão, já falo com você.
Wilson: Então você me liga confirmando. Ó, ô meu, o cara faz isso, tá comigo e eu vou buscar.
ERIEL: Certo. Aí, eu até fiz um negócio que é o seguinte. Eu tenho aí, vai dar onze e pouco, onze mil aí, se faltar, inteiro com esse meu aí, aí ele me paga oito por cento de juro aqui. Certo?
Wilson: Então tá. Vamos fazer o seguinte, sete horas você me liga. Se eu não te atender, eu tô jogando bola. Você me liga em seguida.
ERIEL: Então tá. Com relação a isso, eu acho que vai dar certo. Porque eu tava com esses quase trinta aí, aí depois eu vou pegar pra mim passar pra frente. Pra outra pessoa e …(incompreensível)…
Wilson: Vê se você consegue trazer o dinheiro dessas trinta, pra mim comprar outra caminhoneta. Senão eu fico à pé. Tá combinado?
ERIEL: Tá beleza.
…(nada digno de registro)…

30/03/05 – 19:36:15
WILSON (66) 9201-7387 x HNI (?)

HNI diz que teria ligado para a concessionária Toyota, e avisa que lá teria uma caminhonete por R$108.000,00 (cento e cinco mil Reais), mas para retirada posterior. WILSON diz que arranjou uma na concesionária de Sinop, por R$105.000,00 (cento e cinco mil Reais), com entrega imediata.
…(nada digno de registro)…
WILSON: … a minha caminhonete tá na loja, rapaz. É só ir montar nela. Por 105.
HNI: Ah, mas você falou que não tinha comprado.
WILSON: Não, eu falei e 11:20 o cara me ligou que acabou de encostar o caminhão lá na loja pra pegar. Tá na loja pra mim pegar. Eu não fui buscar hoje porque eu não tava com o dinheiro comigo hoje.
HNI: Ah…
WILSON: É, tá lá na loja.
…(nada digno de registro)…

10/11/2004 – 09:14
(65) 9229-4181 x (65) 8112-8058
Wilson x Elvis

WILSON, empresário de Colíder, solicita a ELVIS que “compre” um plantonista do posto de fiscalização do IBAMA, no Trevo do Lagarto. Ressalta que se conseguir dois plantões seria ainda melhor; está disposto a pagar até R$ 1.500,00 (Um mil e quinhentos reais), por plantão, a cada quinzena. Ele transportaria madeira bruta (em toras ou apenas serrada) como se fosse beneficiada, o que tornaria dispensável a apresentação de ATPF, sendo exigida, nesse caso, a Nota Fiscal carimbada pelo fiscal, atestando que a madeira fora beneficiada. Esse golpe é um dos mais usados e conta obrigatoriamente com a participação de fiscais corruptos.

(Nada digno de registro)
Wilson: Você por acaso conhece algum dos plantões, algum chefe de equipe dos plantões do trevo, que é amigo seu?
Elvis: Uai, conheço todos. Eu conheço todos.
Wilson: Pois é, eu precisava sentar com um plantão desses já dava. Por exemplo: a cada 15(quinze) dias dou uns troquinhos só pra mim, não mandar nada errado, entendeu, é só mandar na Portaria 44. Pouca coisa, porque é só pra suprir mesmo.
Elvis: Hum, eu posso ver pro cê.
Wilson: Tem que ser um cara bom, desses que honra os compromissos, entendeu. (Nada digno de registro) O único cara bom que eu tinha era o Zé Carlos, eu não consigo falar com ele.
Elvis: Hã, hã. Mas ele não tá indo; deixa eu ver certinho pro cê aqui.
Wilson: Vê se você me agiliza aí, vai, por exemplo, cada 15 (quinze) dias, eu daria aí uns mil e quinhentos, mil conto, não é pra passar rios de carreta, não, só passa no plantão dele; se for à noite é à noite, se for de dia é de dia, mas não é nada com furada não, só vai vir na Portaria 44, entendeu como é que é?
Elvis: Entendi, entendi. Não, não, mas eu já vou ver isso aí pra você, daí daqui a pouco eu já te ligo.
Wilson: E se você me arrumar dois plantão bom, eu… aí fica melhor ainda.
Elvis: Ah, dois é melhor?
Wilson: É, porque aí fica 24 horas né. Porque, sabe, caminhão sai de longe e pra chegar às vezes o cara já saiu do plantão e aí tem que esperar, é um transtorno né.
Elvis: Aí cê consegue pelo menos três, né?
Wilson: É, ué. Me vê isso e me fala à tarde.
(Nada digno de registro)
Wilson: Eu teria alguma coisa pra vir hoje, passava à noite.
Elvis: Não, pode deixar comigo.
Wilson: Deixa eu te fazer assim: cada quinze dias (Incompreensível). O máximo que eu posso pagar a cada quinze dias é mil e quinhentos (1.500) contos.
Elvis: Tá. Não, deixa eu conversar primeiro, daí depois eu vou ver e quanto que é e quantos são, tá?
Wilson: Então tá.
(Nada digno de registro).

ENTENDA O CASO – O engenheiro florestal Álvaro Fernando Cícero Leite, de 41 anos, confirmou tudo o que havia declarado antes à Polícia Federal, hoje durante uma acareação que começou às 9 horas e passou das 12 horas. Álvaro voltou a afirmar que o professor universitário Hugo José Scheur Werle, 44, funcionário público federal, ex-superintendente do Ibama cobrou propina para assinar um projeto de reflorestamento florestal de interesse da empresa Tecamat.

Álvaro confirmou tudo na presença do delegado Tardelli Cerqueira Boaventura e de alguns advogados que acompanharam a acareação. A propina teve o valor de R$ 20 mil, depois de uma negociação entre o empresário Evandro Trevisan e o funcionário Alex de Oliveira, cujas negociações, via telefone, foram gravadas pela PF através de escuta autorizada pela Justiça Federal.

No dia seguinte ao acerto, o projeto estava assinado. A propina, no entanto, acabou não sendo paga.

“talvez o Álvaro esteja mentindo”, foram as primeiras palavras de Hugo. Logo ele voltou atrás e assegurou que Álvaro estava mentindo. Disse que em princípio se recusou a assinar o projeto para fazer uma análise mais completa, o que realmente aconteceu no dia seguinte.

Disse que não recebeu e nem cobrou a propina que estão falando, alegando nos seguintes termos: “pode ser que eu tenha ligado para Álvaro após ter saído do gabinete”. “Também não me recordo qual o assunto tratado”.

Nas investigações, a PF confirmou através de escuta telefônica, uma conversa entre Alvaro e Alex de mais de sete minutos, onde Álvaro fala para Alex a respeito da propina cobrada por Hugo, o ex-superintendente do Ibama disse: “Não sei por que eles tiveram esse diálogo, pois eu nunca pedi propina”.

A realidade, no entanto, é que nem as mais de 100 pessoas presas na “Operação Curupira”, muito menos seus advogados, tinham conhecimento que a Polícia Federal possuía centenas de horas de gravações, todas com autorização da Justiça.

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