terça-feira, 23/abril/2024
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Grampos telefônicos revelam que propinas no Ibama eram de até R$ 20 mil

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As escutas telefônicas autorizadas pela Justiça Federal de Mato Grosso mostram que a gerência executiva do Ibama em Cuiabá era produtiva em arrecadação de propina. Nas conversas evidencia-se que ao menos 14 dos 90 servidores do órgão em Cuiabá pediram dinheiro para negligenciar a fiscalização e dar legalidade ao desmate irregular de madeira no estado que mais devasta florestas no país. Os valores das propinas variavam de R$ 300,00 a R$ 20 mil. Em alguns casos, as gravações revelam a cobrança direta feita pelos funcionários. Em outros, despachantes e empresários comentam os achaques praticados pelos servidores.

As gravações ocorreram durante as investigações da Operação Curupira, que prendeu cerca de cem pessoas em seis estados. Entre os detidos estão os dois principais dirigentes do órgão em Mato Grosso, Hugo Werle e seu substituto imediato, Marcos Pinto Gomes. Werle faz parte do conselho fiscal do diretório municipal do PT. O partido o suspendeu preventivamente até o fim das investigações.

Segundo o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura, que conduziu as investigações, Werle se precaveu contra possíveis grampos, o que impediu que fosse flagrado pedindo propina. A mesma precaução não tiveram outros implicados, que relataram ao menos um episódio envolvendo Werle.

Foi o que aconteceu num dos diálogos captados pela PF no celular do despachante Álvaro Fernando Cícero Leite, em 24 de fevereiro. Em conversa com Alex Leonardo de Oliveira, gerente da reflorestadora Tecamat, Álvaro relata a surpresa ao ter ouvido um pedido de propina feito por Werle. Alex conta o episódio ao patrão Evandro Trevisan.

“Esse negócio do Álvaro, agora, do pessoal parar para o Álvaro ‘ó, vamos acertar’ vai criar o que nós já queríamos há muitos anos, né? Botar o preço nas coisas, para poder rodar”, disse Trevisan ao telefone.

Em outra gravação, o empresário Antônio Luís Ganacin, da consultoria GP Mato Grosso, cita o comportamento do servidor Alfredo Hiroshi Abe, também preso pela PF. Lotado no setor de controle do Ibama, Abe deveria fiscalizar o saldo de madeira das empresas, o que fazia pela conferência de autorizações para o Transporte de Produtos Florestais (ATPFs). Em conversa com uma pessoa identificada como Robson, Ganancin cita o episódio em que Abe teria cobrado R$1 mil para não realizar vistoria na Fazenda Ranchão.

Outras gravações, no entanto, mostram claramente a cobrança de propina. São dois telefonemas, segundo a PF. No primeiro, o despachante Marcos Pontes Xavier, que também está preso, negocia com o fiscal José Carlos Ferreira para evitar a autuação de um empresário por transporte ilegal de madeira. Em princípio, o fiscal não aceita os R$1 mil e ameaça multar. Na segunda ligação, o despachante insiste e o valor acaba sendo aceito.

O caso do fiscal José Carlos Mendes é intrigante. As investigações concluíram que ele tem patrimônio incompatível com o rendimento de R$2 mil por mês. As propinas que recebia, segundo o delegado da PF, eram depositadas nas contas de sua mãe e de sua mulher. As gravações autorizadas captaram um diálogo em que ele conversa com o despachante Daniel Cavalcanti, com quem acerta a transferência de R$10 mil para a poupança de sua mãe, no Bradesco.

A presidente do sindicato dos servidores do Ibama, Almira Lemes de Arruda, defende os acusados. Segundo ela, a PF patrocinou um massacre moral. Ela diz acreditar que haja corrupção no órgão, “como em qualquer outro”, mas acha que, primeiro, deveria ter sido feita uma investigação completa:

— É triste ver presos colegas com os quais você convive há mais de 20 anos. Pode ter certeza que depois disso, o Ibama nunca mais será o mesmo.

O advogado de Werle, Fábio Schneider, negou todas as acusações e disse que não há provas contra seu cliente. Schneider acusa o delegado da PF de manipular o inquérito em prejuízo de seu cliente. Segundo o advogado, o delegado ofereceu a Álvaro Leite a delação premiada, desde que confirmasse as denúncias contra Werle.

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