O governo federal foi responsabilizado diretamente pelos atuais problemas econômicos que se abatem sobre o Nortão mato-grossense e pelo futuro sombrio de nada menos do que 30 municípios situados naquela região. As críticas partiram do deputado Pedro Satélite (PPS) e atingiram diretamente o Ibama, com o que chamou de omissão; e as ações da Polícia Federal – durante a Operação Curupira, que estaria nivelando por baixo os madeireiros que atuam no Estado.
“Até agora o Governo Lula foi omisso com Mato Grosso, a exemplo de outros anteriores – no combate ao extrativismo ilegal da madeira – e vem dando calote sistemático no Estado, através do Ibama. Para cada metro cúbico que o órgão autoriza derrubar, ele recebe dos madeireiros o equivalente em dinheiro para o replantio de oito árvores”, alertou o parlamentar.
Ele previu que se não houvesse o calote e o governo tivesse feito, “como devia e em tempo hábil”, o reflorestamento de tudo o que foi retirado nos últimos anos – contando com o dinheiro que ele recebeu dos madeireiros por cada grupo de oito árvores cortadas – hoje poderia não haver espaço para ser plantada mais uma árvore, sequer, no país.
“Isso é extremamente sério e essa verdade tem que ser colocada para a sociedade. O dinheiro foi arrecadado e, infelizmente, não foi aplicado. Houve omissão, negligência mesmo, e esse governo não pode, agora, penalizar os brasileiros que estão produzindo”, disse Satélite, também se referindo à ação da Polícia Federal.
Segundo o deputado, a idealização e o lançamento da Operação Curupira – de combate ao extrativismo ilegal de madeira – foram corretos e precisavam acontecer, mas ela estaria agindo errado por penalizar todo o mundo, de forma indiscriminada. O setor madeireiro está enfrentando uma crise econômica sem precedentes no norte de Mato Grosso – após a Operação Curupira, deflagrada pela Policia Federal, que levou o Ibama a suspender a liberação das ATPFs – as Autorizações para Transporte de Produtos Florestais.
“Primeiro, o governo brasileiro dá esse calote através do Ibama; depois, age como se todo madeireiro fosse bandido. Isso não existe! Não estou fazendo defesa a nada nem a ninguém, muito menos dizendo que a Operação Curupira está errada, mas o joio precisa ser separado do trigo e o governo tem que pagar por sua omissão fazendo o replantio com urgência. Isso é uma inadimplência que ele tem com a Nação”.
A preocupação de Satélite está nos reflexos negativos que já vêm sendo contabilizados pela economia do Nortão mato-grossense por causa do holocausto do setor madeireiro e a já crescente demissão em massa de trabalhadores do setor. Os exemplos estão próximos da região. Em municípios do sul do Pará já aconteceram saques em supermercados e, para o deputado, em Mato Grosso não vai ser diferente.
Pelos seus cálculos, com a brusca interrupção da produção e o crescente índice de desemprego provocado na região cerca de 20 mil empregos diretos estão deixando de ser gerados. Esse processo já estaria sendo desencadeado no comércio local com a queda visível de movimento em 30% a 40% desses municípios.
“O próprio país também está perdendo em arrecadação. Com a Operação Curupira paralisaram tudo, mas a grande maioria dos madeireiros é formada por pessoas dignas que trabalham dentro dos parâmetros da lei e que têm compromissos a cumprir, com contratos nacionais e internacionais. Além disso, eu conheço alguns do sul do país que têm marcenarias e outros que tinham em torno de 200 empregos diretos, cada, e já mandaram embora cerca de 150 funcionários porque não têm mais a matéria-prima – a madeira – para a produção de móveis.
Isso é um absurdo e tem que ser revisto com rapidez. A solução é fazer um manejo auto-sustentado. A região amazônica é uma estufa: uma árvore plantada hoje dá corte em dez anos, enquanto em outros países ela leva 70 anos ou 80 anos”, criticou o parlamentar.
Ele acrescentou que o próprio poder público, através do Ibama, foi omisso nos últimos 20 ou 30 anos, em Mato Grosso e que o órgão sempre criou dificuldades para vender facilidades. A Amazônia corresponde a 62% do território brasileiro e apenas 13% dela estão devastados ou ocupados.