“Saio de cabeça erguida do ministério”. Foi assim o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, anunciou publicamente sua saída do governo Lula. Dirceu volta para a Câmara na quarta-feira, já que foi eleito deputado em 2002.
O ministro José Dirceu entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a carta de demissão na manhã desta quinta-feira, encerrando unilateralmente uma semana de indecisões a cerca de sua permanência no cargo, segundo seu relato à Reuters instantes antes de fazer um pronunciamento público sobre a decisão.
Dirceu relatou à Reuters que disse ao presidente que volta à Camara como simples deputado para defender o governo e o PT.
“Volto como militante do PT”, disse Dirceu. “Vou mobilizar o PT para dar combate àqueles que querem interromper o processo político e democrático e que querem desestabilizar o governo do presidente Lula”.
“Deixo parte da minha alma e do meu coração. Mas não deixo minha alma. Ela vai comigo com a luta. Eu sei lutar na planície e no Planalto”. O ex-ministro disse ainda que “a luta continua”.
Dirceu disse que tem “as mãos limpas” e que “sempre lutou pelo Brasil”.
“[Saio com o] coração sem amargura e a mente sempre colocada naquilo que sempre lutei, pelo Brasil, pelo povo brasileiro. Por isso saio de cabeça erguida do ministério”.
O ex-ministro mandou um recado para a oposição: “Nosso governo, nosso partido e eu temos um patrimônio ético que a sociedade conhece. Vou defender esse patrimônio”.
“Não me considero fora do governo”, disse Dirceu.
O petista deixa o cargo depois de ser acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de comandar um esquema de “mensalão”, de mesadas, para parlamentares da base aliada votarem com o governo no Congresso.
Jefferson, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara na terça-feira, exortou Dirceu a deixar o governo “para não fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula”.
Essa não foi a primeira acusação de corrupção envolvendo o ex-ministro-chefe da Casa Civil. Em 13 de fevereiro de 2003, foi divulgado um vídeo com o então subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz, pedindo propina a um empresário do jogo do bicho.
Antes de vir à tona o caso Waldomiro, Dirceu era o ministro mais poderoso do governo Lula, chamado por vezes de “primeiro-ministro”.
José Dirceu nasceu em 16 de março de 1946 em Santa Rita do Passa Quatro (MG). Em 1961, aos 15 anos, mudou-se para São Paulo. Participou quando jovem de movimentos contra a ditadura militar (1964-1985).
Foi presidente do PT e coordenou a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2002. Naquele ano, foi o segundo deputado federal mais votado no país.