sexta-feira, 19/abril/2024
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“Estragos” descobertos na Operação Curupira 2 são maiores, diz ex-interventor

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A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira novos suspeitos de participação na máfia da madeira ilegal desmontada há dois meses em Mato Grosso pela Operação Curupira, lançada em conjunto com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o Ministério Público. Até ontem à noite, 14 pessoas haviam sido detidas em quatro Estados (Rondônia, Mato Grosso, São Paulo e Santa Catarina).

Na primeira fase da operação, em junho, 130 pessoas foram presas e mais de 40 funcionários do Ibama afastados. Entre os detidos estava o gerente do órgão em Cuiabá, Hugo Werle. O esquema montado havia sido responsável pelo desmatamento de 43 mil hectares de floresta tropical.

Nesta segunda fase já foi determinada a prisão de 21 suspeitos de ligação com um esquema de extração ilegal de madeira e venda de ATPFs (Autorizações para o Transporte de Produtos Florestais). Segundo o procurador Elielson Ayres de Souza, da Advocacia-Geral da União, nos últimos cinco anos a máfia desmatou 108 mil hectares e extraiu 4 milhões de metros cúbicos de madeira.

“Desta vez são menos empresas, mas o estrago é maior”, disse Souza à Folha, por telefone.

A operação de ontem resulta de uma investigação na qual a PF e o Ministério Público descobriram um braço rondoniense da máfia que havia sido parcialmente desarticulada na Curupira 1. “Esta é uma ramificação da organização criminosa desarticulada há dois meses no Estado de Mato Grosso, o que evidencia uma conexão forte com Rondônia”, declarou o delegado da PF em Mato Grosso Tardelli Boaventura.

As prisões acontecem três dias depois de organizações não-governamentais terem entregue à ministra Dilma Roussef (Casa Civil) uma carta reclamando a morosidade na execução do Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento do Governo Federal.

Segundo o diretor de fiscalização do Ibama, Flávio Montiel, a maior parte dos mandados de prisão foi efetuada em Ji-Paraná, Rondônia. A cidade sediava madeireiras que compravam ATPFs de despachantes e funcionários do Ibama para “esquentar” toras extraídas de terras públicas e áreas indígenas, principalmente na região de Aripuanã, Mato Grosso. Entre a madeira ilegal estariam toras de mogno da reserva dos índios cintas-largas, entre Mato Grosso e Rondônia, derrubadas com consentimento das lideranças indígenas. Árvore ameaçada, o mogno tem exploração proibida no Brasil.

Na manhã de ontem foram presos dois servidores do Ibama de Ji-Paraná, Ilson Oliveira do Nascimento e José Magalhães. Um funcionário do escritório de Aripuanã responderá a processo. Ele é suspeito de ter recebido R$ 500 mil de madeireiros para liberar planos de manejo irregulares.

O esquema

A máfia atua nos Estados amazônicos e no Sul e Sudeste do país, principais regiões consumidoras de madeira. O esquema envolve o furto de ATPFs (documentos emitidos pelo Ibama e obrigatórios para o transporte de madeira do mato para as serrarias e destas para outros consumidores, indústrias ou portos) por funcionários do órgão ambiental federal e a venda de autorizações em branco.

As ATPFs são vendidas a despachantes e madeireiros, que as utilizam para legalizar madeira de planos de manejo florestal fictícios –na verdade, as toras são extraídas em terras públicas ou vêm de corte raso em terras privadas. Em ambos os casos, configura-se crime ambiental, já que o manejo pressupõe o corte seletivo.

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