segunda-feira, 29/abril/2024
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Delator de esquema que levou Silval, Cursi e Nadaf para prisão diz ter sofrido ameaça de morte

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O empresário João Batista Rosa, dono do grupo Tractor Parts, revelou ter recebido ameaça de morte. A afirmação foi feita durante audiência de instrução do processo relativo à operação Sodoma, ontem. Ouvido na condição de vítima de uma suposta organização criminosa que o extorquiu para manter suas três empresas recebendo benefícios fiscais do Estado, ele prestou depoimento por mais de oito horas. A ameaça, segundo ele, ocorreu após a deflagração da operação, ainda no ano passado, e está sob investigação da Polícia Civil.

Acompanhado de seu advogado, Huendel Rolim, Rosa detalhou a ameaça sofrida quando era questionado pela promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco. “Ligaram na minha casa e minha funcionária atendeu. Era uma voz de mulher que perguntou se ela era a viúva de João Batista Rosa. Na hora, ela ficou apavorada e desligou. Como eu não tenho identificador de chamadas, não sei de onde veio essa ligação, mas isso a polícia já está investigando”. Por conta de toda a situação vivida, o empresário salientou que ele e sua família se preparam para mudar de residência.

Ao longo das oito horas de depoimento, o empresário contou como, conforme ele, teria sido obrigado a pagar mais de R$ 2 milhões de propina, em cheques e transferências bancárias, ao ex-secretário Pedro Nadaf, com quem tratava diretamente. “Durante a campanha [de 2010] eu procurei o governador Silval Barbosa (PMDB) e pedi a ele que encontrasse uma forma de estender benefícios às empresas que eram alvo de concorrência desleal. Depois que ele foi eleito, eu procurei o governador para tratar de créditos de ICMS que eu tinha a resolver e ele me disse para procurar o ex-secretário Marcel [Souza de Cursi]”.

Diante da negativa de Marcel em “resolver o problema”, Rosa procurou Nadaf, com quem mantinha relação há vários anos, cobrando uma solução, uma vez que o então governador havia determinado a resolução do caso. Segundo o empresário, foi Marcel quem deu a sugestão de incluir as empresas no Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (Prodeic), desde que houvesse a renúncia dos créditos. “Depois que eu assinei a renúncia, apresentei a documentação exigida e assinei o protocolo para obter o benefício”.

Alguns dias depois, Rosa contou ter sido procurado por Nadaf, que pediu R$ 2 milhões para a quitação de dívidas de campanha de seu grupo político. “Me senti pressionado, porque já tinha desistido do crédito do ICMS. Então acertei o pagamento em parcelas mensais”. Com isso, Nadaf definiu que teria que receber R$ 500 mil no primeiro mês e aceitou o restante em parcelas mensais de R$ 30 mil”.

Os cheques, segundo Rosa, eram entregues diretamente a Nadaf, sempre em valores inferiores a R$ 5 mil. “Eu decidia os valores e usava cheques das três empresas. Isso era levado mensalmente por mim ao Nadaf ou na Secretaria de Indústria, Comércio, Mineração e Energia (Sicme), ou na Fecomércio”.

Ao final do depoimento do empresário, os advogados de defesa dos três réus presos pediram pela liberdade de seus clientes. Com a solicitação do Ministério Público Estadual (MPE) de um prazo de cinco dias para analisar os habeas corpus, a juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Rosane Santos Arruda (foto), decidiu aguardar o prazo ministerial antes de decidir se revoga ou não as prisões preventivas por ela decretadas.

Em vários momentos do depoimento de Rosa, os advogados dos réus criticaram a prisão de seus clientes, que completa prazo superior a 130 dias. Advogado de Nadaf, Alexandre Abreu e Silva sustentou que os réus já foram condenados pela sociedade, ressaltando que não poderão mais andar nas ruas. “Já está na hora de ganharem a liberdade”. Neste momento, Nadaf, que ocupou as pastas de Indústria, Comércio, Mineração e Energia e Casa Civil, chorou.

O momento mais tenso da oitiva foi protagonizado pelo advogado de Cursi, Roberto Tardelli, que foi repreendido pela magistrada, após Rosa pedir ao defensor que fizesse perguntas sem acusá-lo. “Não vou permitir que a vítima seja pressionada neste juízo”, insistiu Selma.

Já quando era questionado pela defesa de Silval, Rosa admitiu que todo o suposto esquema de extorsão pode ter sido arquitetado por Nadaf, sem o conhecimento do ex-governador. O empresário afirmou que Silval nunca solicitou qualquer quantia ou foi ao seu encontro. Além disso, Rosa pontuou que nunca tratou sobre incentivos fiscais com o ex-governador.

Já sobre os demais réus, o empresário disse conhecê-los de vista, ressaltando que nunca entregou cheques a nenhuma pessoa além de Nadaf.

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