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Conselho do Ministério Público volta a investigar promotor em MT punido por investigar Gilmar Mendes

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Redação Só Notícias (foto: assessoria)

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidir hoje, por unanimidade, instaurar novo processo administrativo disciplinar para apurar a conduta do promotor de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso Daniel Zappia. Punido com uma suspensão de 45 dias, em outubro do ano passado, Zappia será novamente investigado pelo Conselho, desta vez, por uma entrevista concedida a um veículo de comunicação de Cuiabá.

Durante a sessão, os conselheiros analisaram reclamação disciplinar instaurada pela Corregedoria Nacional do Ministério Público e referendaram a instauração do procedimento administrativo. Segundo a apuração feita pela Corregedoria, o promotor, em entrevista veiculada no dia 11 de dezembro de 2021, proferiu ofensas e juízos depreciativos à atuação de integrante do CNMP e à atuação da própria instituição.

A Corregedoria Nacional do MP concluiu que o promotor de Justiça violou dispositivos da Lei Complementar Estadual de Mato Grosso nº 416/2010 (Lei Orgânica do MP/MT) que acarretam a aplicação da penalidade de censura. O processo será distribuído a um conselheiro relator, que terá o prazo de 90 dias para concluí-lo, ressalvada a possibilidade de prorrogação motivada.

No ano passado, conforme Só Notícias já informou, o Conselho decidiu, por maioria de votos, aplicar a penalidade de suspensão, não remunerada, por 45 dias ao promotor Daniel Zappia. Ele foi acusado de perseguir Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal (STF), em investigação aberta para apurar se o ministro teria se beneficiado da venda de uma universidade (que pertencia a seus familiares), em Diamantino (208 km de Cuiabá), para o governo do Estado e que virou extensão da Unemat.

Os conselheiros seguiram o voto do relator, o ex-conselheiro Luciano Nunes Maia Freire, no julgamento de processo administrativo disciplinar que comprovou que o promotor de Justiça cometeu condutas violadoras da imparcialidade, da impessoalidade e da boa-fé processual. O voto do antigo membro do colegiado foi apresentado em setembro de 2021, durante sessão extraordinária do Plenário.

O processo analisou a conduta do promotor de Justiça em relação a três fatos. No primeiro deles, o membro do MPMT, ao ajuizar recurso chamado agravo de instrumento, em 18 de agosto de 2017, em razão de decisão que lhe fora desfavorável, apresentou documentos produzidos nos dias 19 e 31 de maio e 1º de junho de 2016, já existentes antes mesmo de ajuizar um processo, o que só ocorreu em 18 de agosto de 2017.

De acordo com o ex-conselheiro Luciano Maia, o comportamento de Zappia violou, em tese, a lei que rege a modalidade recursal ao apresentar documento que não constava do processo em que foi proferida a decisão impugnada. “Ao juntar documento que não estava no processo, e mais, que a ele era anterior, o promotor de Justiça pratica comportamento caracterizável, em tese, como antiético e proibido no processo. Tal atestaria a falta de zelo pelo prestígio da Justiça, por suas prerrogativas e pela dignidade de suas funções”.

Em relação ao segundo fato, de acordo com os autos, o membro do MPMT ajuizou 23 ações civis públicas, sendo seis delas contra Gilmar e seus familiares. O ex-conselheiro Luciano Maia destacou que a alegação do promotor de Justiça de que teria ajuizado uma ação para cada propriedade sediada na Área de Proteção Ambiental (APA) Nascentes do Rio Paraguai não parece ser procedente, uma vez que uma mesma propriedade do recorrente e seus familiares foi objeto de duas das 23 ações ajuizadas.

Maia concluiu que “o abuso processual, portanto, pode se configurar com o ajuizamento sucessivo de demandas contra o mesmo réu, dificultando o direito à ampla defesa e ao contraditório da parte adversária. Tal conduta, quando praticada por um membro do Ministério Público, é capaz de colocar em xeque sua imparcialidade e impessoalidade em relação à parte contrária, bem como demonstra aparente falta de zelo pelo prestígio da Justiça, por suas prerrogativas e pela dignidade de suas funções”.

Acerca do terceiro fato, foi demonstrado que o promotor de Justiça Daniel Zappia conduziu diversos procedimentos administrativos destinados à verificação de supostas irregularidades na encampação, em 2013, da instituição de ensino superior privada, que pertencia a Gilmar, por universidade estadual. Ao final da investigação, concluiu-se pela ausência de participação do recorrente e de seus familiares e pelo ajuizamento de ação civil pública contra outras pessoas.

Nos autos de procedimento específico, o membro do MP requisitou dados bancários de pessoa jurídica. Tal pedido foi indeferido pelo juízo competente. Em decisão de 27 de maio de 2019, o juízo competente deferiu o pedido dos investigados (recorrente e familiares deste) em inquérito civil para a suspensão ou o trancamento do mencionado inquérito civil promovido pelo Ministério Público, entendendo que a investigação aparentava revelar caráter de ilegalidade, devendo o inquérito civil ser suspenso.

Diante dos fatos, o relator e a maioria dos conselheiros concluíram que as condutas do promotor de Justiça resultaram na infração disciplinar prevista na Lei Complementar Estadual de Mato Grosso nº 416/2010. A penalidade aplicada ao promotor de Justiça levou em consideração os termos dos artigos 191 e 193 da mencionada lei, em razão da prática de fatos consistentes em deixar de prezar pelo prestígio e dignidade da Justiça e de desempenhar suas funções com zelo e presteza, bem como agir com ofensa aos princípios da imparcialidade e da impessoalidade e faltar com a boa-fé processual.

Ao aplicar a penalidade de suspensão, não remunerada, por 45 dias, o Plenário do CNMP considerou a primariedade do promotor de Justiça, a gravidade da infração e os danos para o serviço e para a credibilidade do Ministério Público. As informações são da assessoria do Conselho Nacional do MP. Zappia ainda pode recorrer.

No ano passado, em entrevista ao portal UOL, o promotor disse que apenas cumpriu com seu dever ao concluir investigações na área ambiental abertas e relacionadas à venda da universidade, pois elas foram abertas por seus antecessores no cargo de promotor em Diamantino. Zappia acrescentou que havia uma ordem da Corregedoria do Ministério Público para terminar o trabalho dos procedimentos ambientais e que fazendeiros da região foram autuados por uso de agrotóxicos ou de plantio de culturas transgênicas.

As investigações surgiram a partir de inspeções feitas pela secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso. “Concluí esses procedimentos por determinação da Corregedoria, em razão de se tratar de se tratar de procedimentos antigos”.

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