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Voos clandestinos são responsáveis pela entrada de 70% da droga em MT

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Mais de 70% da pasta-base de cocaína que entra em Mato Grosso é transportada por pequenos aviões, em voos clandestinos, que partem da Bolívia. O uso de aeronaves no tráfico internacional de drogas é uma prática da maioria das quadrilhas organizadas, que vê na via aérea uma forma fácil de driblar a fiscalização, além da oportunidade de inserir no Estado grande volume de entorpecente em uma única carga.

O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Éder Rosa de Magalhães, estima que dos 5.620 quilos de cocaína apreendidos em 2010, 4 mil chegaram em Mato Grosso em aeronaves, sem plano de voo, comandadas por pilotos brasileiros contratados pelo tráfico. "Os números de apreensões nesses casos são menores, mas o volume transportado sempre é muito elevado, com cargas que variam de 200 quilos a 500 quilos de cocaína".

A forma de atuação das quadrilhas e a falta de uma base da Aeronáutica no Estado facilitam a inserção do entorpecente em território nacional. O secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), Diógenes Curado, explica que o uso de aviões pelo tráfico não é recente, porém atualmente as quadrilhas arriscam menos que antes. Ele conta que em 2000, quando atuava na PF, um levantamento mostrou que em Mato Grosso existiam 27 aeronaves acauteladas por terem sido flagradas transportando drogas.

Na época, os traficantes vinham da Colômbia e desciam no Estado para abastecer os aviões. Geralmente eram presos nessa situação, relembra o secretário. Atualmente, as quadrilhas buscam a droga na Bolívia e optam por arremessar o material durante o voo ou pousam em fazendas para descarregar a carga. "O que mudou foi a metodologia. Hoje, é mais difícil pegar os traficantes".

O delegado da PF confirma a dificuldade em fazer as apreensões desse modelo de transporte e destaca que geralmente elas acontecem por meio das investigações ou quando alguma aeronave cai, como ocorreu no dia 5 de março, quando o piloto brasileiro Roy Rogers Silva Ferraz e o boliviano Edgar Belen Inturias transportavam 559 pacotes de cocaína, adquiridos em Santa Cruz (Bolívia). O avião caiu em uma região de morro, de difícil acesso, após colidir com a copa de árvores em uma região de morro de Porto Índio (MS). Embora tenha ocorrido no estado vizinho, a PF de Mato Grosso atendeu a ocorrência.

As quedas normalmente ocorrem porque os pilotos voam baixo para fugir dos radares e por não conhecerem a região ou pela baixa visibilidade terminam colidindo com morros, serras e até mesmo árvores. Em agosto do ano passado, um avião desaparecido há 3 anos foi encontrado pela PF na Serra das Araras, carregado com aproximadamente 200 quilos de cocaína, mas apenas 30 quilos foram recuperados. Os demais foram perdidos durante a queda ou deteriorados pela ação do tempo. O corpo do piloto Clevérson de Souza não foi encontrado. Na época, a PF afirmou que, pela situação da aeronave, o piloto estava em baixa altitude e bateu de frente com a Serra.

Magalhães comenta que sem informações prévias fica muito difícil fazer flagrantes, uma vez que o Estado não dispõe de uma base da Aeronáutica, com esquadrão especializado para interceptar em tempo hábil os aviões que foram detectados no ar sem plano de voo. Para o delegado, a instalação de uma base em Mato Grosso diminuiria bastante a atuação de quadrilhas. A Aeronáutica foi procurada, mas não comentou o assunto.

O secretário destaca que o transporte de drogas em aeronaves é uma questão de espaço aéreo, que é de competência do governo Federal, principalmente por se tratar de fronteira e seria necessário um trabalho de controle muito forte para coibir o tráfico. Ele comenta que a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) tem um projeto para criação de unidades aéreas em fronteiras, destacando que a estrutura de policiamento deve ser reforçada.

Distribuição – Investigações da Polícia Federal mostram que o tráfico de drogas é feito em etapas. Primeiro, a cocaína é inserida no Estado por meio de aviões. A "entrega" pode acontecer de duas formas: pelo arremesso (com a aeronave ainda no ar) ou em pousos feitos em fazendas. Algumas organizações chegam a alugar propriedades e quase sempre contam com o apoio dos donos das terras. Magalhães detalha que normalmente são pilotos experientes tanto de Mato Grosso quanto de outros estados, que atuaram em garimpos ou em pulverização de lavouras. "Precisam conhecer do trabalho até mesmo pelas condições que fazem o pouso".

A redistribuição para outros estados é feita com o uso de veículos automotores, incluindo ônibus, caminhões e carretas. Em seguida, o organização entra na fase do "batismo" da droga, feito com a mistura de vários produtos químicos. Depois de preparado, o entorpecente é entregue para traficantes menores. Cada quilo de pasta-base é comprado na Bolívia por R$ 5 mil e chega em Mato Grosso valendo R$ 10 mil, preço que em São Paulo sobe para R$ 12 mil.

Rota e prejuízo social- Mato Grosso detém 25% de toda droga apreendida no Brasil. O secretário Curado explica que isso ocorre porque o Estado fica em localização estratégica, no Centro Geodésico do Brasil, além de ter extensa fronteira com a Bolívia. Mato Grosso ainda faz divisa com 6 outros estados, o que facilita a distribuição e escoamento da droga.

O delegado da PF avalia que o tráfico tem aumentado muito nos últimos anos. Magalhães entende que a mudança na legislação, que não permite a prisão de usuários e os benefícios oferecidos para traficantes, contribuem com o quadro que vivemos.

Curado destaca ainda que o consumo de drogas é a porta de entrada para muitos outros crimes, como roubos, furtos e assassinatos. O secretário afirma que não é possível mensurar quantas situações são provocadas pelo tráfico ou consumo, mas destaca que é muito nítido ver como o problema afeta a sociedade em geral.

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