Mato Grosso é responsável por cerca de 50% dos roubos de cargas que acontecem na região Centro Oeste do país, que perdeu quase R$ 30 milhões no último levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística). Das 272 ocorrências de roubo de carga registradas, o Estado respondeu por mais de 130, sendo combustível e defensivo agrícola os principais produtos roubados.
A Federação Interestadual das Empresas de Transporte de Cargas (Fenatac) estima que os roubos e furtos tenham aumento de 7% ao ano, mas esse número é abaixo do registrado no Centro-Oeste, que é de 11,8%. Com os frequentes assaltos, o consumidor paga mais caro pelo produto. O motivo é que o frete encarece, já que as empresas de transporte são obrigadas a pagar pela proteção da carga, não somente o já tradicional sistema de rastreamento como apólices de seguro e até escolta armada.
O diretor-executivo do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Mato Grosso (Sindmat), Gilvando Alves de Lima, afirmou que o medo dos empresários está não apenas no roubo, mas na receptação da carga. Parte do produto levado é consumido no próprio Estado. “A nossa preocupação é com a preferência (dos assaltantes) para a desova rápida do produto. O primeiro item é sempre o eletrônico. No caso de Mato Grosso, o pessoal está apavorado com o roubo de combustível”.
Junto com o combustível também está o defensivo agrícola e ambos surpreendem os transportadores pela capacidade de “desaparecer”. Há indícios de empresas legais do Estado, tanto postos quanto revendedoras, estarem comercializando produto roubado. Com isso, os empresários teriam uma margem de lucro maior e podem vender a um preço mais barato que a concorrência.
Métodos – Geralmente, os bandidos aproveitam os trechos em que o veículo fica em baixa velocidade (serras, por exemplo). Assim, eles podem saltar no caminhão e fazer uma abordagem a mão armada ou algo mais complexo como cortar a mangueira de ar entre a carroceria e a cabine para o motorista ficar sem o controle do veículo. A surpresa também surge com os “caroneiros”. Em algumas ocasiões, mulheres, que aparentemente não apresentam nenhum risco, pedem caronas em postos de combustível. Elas, na realidade, são integrantes das quadrilhas e servem de “isca” para uma abordagem.
Além da carga, o veículo também é um item muito visado pelos bandidos. Um dos mercados para comercializá-los é a Bolívia. Neste caso, nem o sistemas de rastreamentos que os caminhões possuem são suficientes para evitar o crime. “Quando o bandido quer atingir o seu objetivo, contrata alguém que burla a lei”, disse Lima.
O delegado-adjunto da Delegacia Especializada em Roubos e Furtos de Rondonópolis (Derf), Eduardo Augusto de Paula Botelho, destacou que, na maioria dos casos, o foco principal dos bandidos é a carga, mas também há incidência de roubo dos caminhões, que são “trocados” por entorpecentes no país vizinho. “Eles (bandidos) adulteram o registro do caminhão e levam para lá. Veículos à diesel são muito cobiçados na nossa região”.
Motoristas – As quadrilhas obtêm informações privilegiadas de quem trabalha nas transportadoras ou do próprio motorista. “Infelizmente isso acontece”, afirmou o delegado Botelho sobre a participação dos condutores, que não fazem parte de nenhuma quadrilha, apenas participam do roubo uma única vez para ter um “dinheiro extra”.
O motorista, nessas ações, combina com os bandidos o local determinado que irá estacionar e lá a carga é roubada. Depois, registra um boletim de ocorrência com informações falsas. “No primeiro momento não tem como saber que as informações são falsas. Depois, a empresa nos procura para dizer que não aconteceu aquilo que estava registrado”.
O funcionário de uma empresa multinacional localizada em Rondonópolis (212 km ao sul de Cuiabá), que não quis se identificar, explicou que a própria empresa contratante deve ter cuidados básicos para evitar o roubo de carga. Esses cuidados acontecem tanto no contrato com transportadoras quanto com motoristas autônomos, que trabalham por frete. “A empresa deve montar um dossiê do motorista. Se puder, até fotografa o cara ao lado do caminhão para que, caso a carga seja roubada, tenha informações para repassar à Polícia”.
Nesse “dossiê”, deve conter informações do condutor como Cadastro de Pessoa Física (CPF); número da carteira de identidade; fotografias; pelo menos 3 números de telefone e dados sobre o caminhão usado no transporte (ano, cor, modelo, placa). Outro item importante é o treinamento dos funcionários da empresa para identificação de documentos falsos. (veja outras dicas no quadro ao lado)
Segurança – Na época de safra, trafegam no Estado cerca de 8,5 mil veículos (entre caminhões, carretas e bitrens), o que envolve frota de outros estados. Com esse quantitativo, Mato Grosso se torna foco para os assaltos. Para diminuir essa incidência, representantes das transportadoras propõem que a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) crie formas para diminuir a prática. Segundo Lima, do Sindmat, a secretaria concordou em disponibilizar um automóvel específico para o combate ao crime.
Ele também aponta São Paulo como exemplo que pode ser seguido. O estado possui uma delegacia específica para furto e roubo de carga. “Talvez não seja o caso de criar uma delegacia, mas ter uns 2 ou 3 policiais que cuidem de forma específica do assunto”.
Outra alternativa é que os boletins de ocorrência sejam unificados em todo o estado para agilizar as investigações. Mas um primeiro passo já foi tomado, pois as delegacias de roubos e furtos foram desvinculadas do Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc). Com a separação, a tendência é que o trabalho seja agilizado.