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Mato Grosso teve 100 mil pessoas vítimas de violência este ano

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Cerca de 100 mil pessoas foram vítimas de algum tipo de crime em Mato Grosso entre os meses de janeiro e outubro deste ano. O número elevado de ocorrências leva a população ao sentimento de insegurança, que segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) atinge 90% dos brasileiros. As pessoas também mostraram a falta de confiança nos órgãos de segurança pública, sendo que a Polícia Militar (PM) tem a desconfiança total ou parcial de 70,7% dos entrevistados e a Polícia Civil desperta desconfiança em 69,9% dos cidadãos.

Apenas 29,3% das pessoas entrevistadas disseram que confiam na PM e 30,1% afirmaram que acreditam no trabalho da Polícia Civil. O atendimento das instituições são qualificados como lentos, ineficientes, desrespeitosos e preconceituosos por mais da metade dos entrevistados.

O comandante da PM em Mato Grosso, coronel Osmar Lino Farias, assegura que o problema não é só da Polícia e sim da sociedade, que é violenta. As pessoas costumam não respeitar o trabalho dos policiais que, por atuarem sob estresse, acabam tento uma postura mais "enérgica".

Farias afirma ainda que nos locais com maior índice de violência, onde o PM precisa ser mais cautelosa devido ao risco de reação, o desrespeito é maior.

A falta de efetivo é um dos fatores que contribuem para a ampliação da carga de estresse. Hoje, a PM tem 6 mil servidores, enquanto o ideal seriam 12 mil.

O comandante esclarece que o cenário faz com que os PM"s fiquem sobrecarregados. De acordo com o oficial, cerca de 4 flagrantes são encaminhados para as delegacias de Cuiabá em cada plantão. "Não defendo a truculência e como comandante exijo a investigação das denúncias. Mas, acredito que a sociedade precisa ajudar o trabalho dos policiais".

Frustração – A falta de confiança na Polícia, segundo o comandante, é causada por todo sistema de segurança pública brasileiro. Farias analisa que os policias prendem o criminoso, que fica pouco tempo na cadeia e volta a trazer problemas para a comunidade. A situação é vista pelo cidadão como falta de eficiência e ele culpa a Polícia porque é a instituição que tem contato direto.

A população fica descontente e o policial acaba frustrado, aumentando o estresse.

O delegado geral da Polícia Civil, Paulo Rubens Vilela, acredita que os últimos acontecimentos na cidade do Rio de Janeiro e em particular no estado de Mato Grosso, referente aos assaltos a bancos e caixa eletrônicos, acabam aumentando a sensação de insegurança da sociedade. Ele diz que os governos tanto do Estado quanto o Federal estão tomando medidas para estruturar os órgãos de segurança, no aparato físico, humano e formação policial, para salvaguardar o cidadão e diminuir a sensação de medo, consequência maior da criminalidade.

História – O sociólogo Naldson Ramos da Costa, coordenador do Núcleo Interinstitucional da Violência e Cidadania da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), explica que o sentimento de insegurança da população está ligado à impunidade dos criminosos. Ele explica que muitos casos são registrados na Polícia, porém deixam de ser investigados. A situação acontece principalmente com os roubos e furtos, cujas vítimas são das classes mais carentes.

Costa esclarece que a desconfiança da Polícia é uma questão histórica e está relacionada com o posicionamento da instituição na comunidade. "A atual função da Polícia é ser o braço armado em defesa do estado, o que contradiz a sua atribuição constitucional, que é garantir a cidadania e aplicação das leis".

A Polícia é vista como defensora das classes mais ricas, explica o sociólogo. O que reforça na população os sentimentos de injustiça e exclusão.

Outro problema é o corporativismo que atua nos setores que investigam os delitos e crimes cometidos pelos policiais.

Para o especialista, a solução do problema está no Estado, que deve exigir a mudança de comportamento. O fato, segundo ele, pode prejudicar a minoria, que gosta e defende os "privilégios" conseguidos por meio de poder político. Porém, dá legitimidade ao Estado.

Conforme a análise, a sociedade também precisa mudar e exigir a melhoria do atendimento. Ele conta que algumas pessoas infringem a lei e depois tentam pagar propina para os servidores ou solicitam a intervenção de políticos e autoridades para não responderem pelo erro. "Temos que acabar com o jogo da mediocridade. Não é porque algumas pessoas fazem errado, que não tem solução e precisamos aceitar a situação".

Tipos de crimes – A estatística mostra que 90,4% da população têm medo de ser vítima de assassinato. A mesma quantidade teme os assaltos à mão armada. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um pesquisa em setembro, na qual Mato Grosso alcançou o 5º lugar no número de assassinatos. Os números mostraram que a cada 100 mil habitantes, 53,5 são vítimas do crime.

Os dados do Ipea mostram ainda que 88,6% têm receio de ter a casa arrombada e 69,9% sentem-se expostos a uma possível agressão física.

Soluções – O comandante da PM explica que serão contratados 1 mil novos PM"s em 2011 e que a mesma quantia será inserida no quadro nos próximos 4 anos até que a demanda de profissionais seja suprida. Ele relata que o trabalho é demorado devido a preparação dos servidores. "Não adianta ter muitos policiais na rua se eles estão despreparados".

Farias explica que a corporação não forma o caráter do PM, ele também é um reflexo da sociedade e traz parte da agressividade do convívio familiar e pessoal.

Quanto as soluções para a insegurança, o coronel defende a necessidade de um trabalho conjunto com os setores de educação e assistência social. Ele cita que existem projetos voltados aos jovens, como a PM Mirim e também o Projeto Mão Amiga. O problema é que as iniciativas são poucas, devido as limitações estruturais, e precisam de apoio.

 

 

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