Em 5 anos foram mais de 100 roubos ou furtos a instituições financeiras de Mato Grosso, principalmente bancos. O valor levantando pelas investigações aponta para o prejuízo superior a R$ 6,6 milhões. Muitos casos nem foram concluídos, mas 91 pessoas chegaram a ser indiciadas. Todas foram presas em flagrante ou após as investigações.
O valor mais alto levado pelos assaltantes, neste período, foi de uma agência de Tangará da Serra. O total é de R$ 1,4 milhão. Ao contrário das ações quase que cinematográficas, com emprego de armas de grosso calibre, grupos organizados e utilização de reféns, este caso teve um diferencial. No dia 29 de fevereiro deste ano, no período da tarde, dois homens entraram na agência e levaram o montante. No mesmo momento, acontecia uma rebelião na cadeia pública do município e a força policial estava no local. Os assaltantes fugiram em um Fiat Pálio vermelho. O caso ainda é um dos que estão sendo apurados pelo delegado Luciano Inácio Silva, da Gerência de Repressão a Seqüestro e Investigações Especiais. Ao contrário de vários outros assaltos, nenhum acusado pela ação em Tangará foi preso até hoje.
Este ano, em Mato Grosso, também chamaram a atenção os assaltos a agências bancárias de Campinápolis (em janeiro), Paranatinga (março), Reserva do Cabaçal (abril), Comodoro (setembro) e Barra do Bugres (dezembro). Estes crimes tinham características parecidas. Grupos fortemente armados e que usaram reféns.
Mortes – Alguns assaltos terminaram com morte em 2008. O primeiro caso foi no dia 15 de janeiro, em Campinápolis (658 km de Cuiabá). Quatro assaltantes encapuzados roubaram o banco. Fizeram cinco funcionários reféns e na fuga mataram o soldado da Polícia Militar Tanner Maia Barbosa, 26. Outras duas pessoas foram feridas.
Outro foi em Campo Verde, onde o assaltante foi morto com um tiro na cabeça. Simplício Pereira Souza invadiu uma agência por volta das 7h30, fez 4 reféns e exigia R$ 100 mil e um carro para a fuga. As negociações foram longas e, no período da noite, ele acabou sendo morto por um policial militar.
No dia 5 de setembro deste ano, Fernando José de Magalhães, 30, vigia do Centro Universitário Cândido Rondon (Unirondon), foi assassinado durante o roubo ao caixa eletrônico que fica dentro da instituição. Em novembro, foram presos, acusados pelo crime, o funcionário de uma empresa de vigilantes, Júlio César Damasceno Geovanuti. Ele trabalhava na mesma empresa que a vítima. Outros três são Aparecido da Guia Almeida, Magno Francisco de Almeida e Luís Fernando Proença.
Ações variadas – O delegado Luciano Inácio afirma que os grandes assaltos, feitos pelos grupos organizados, chamam a atenção, mas são a minoria. Ele destaca que é normal acontecer um a no máximo 3 casos deste. Os grupos vêm com um poder de fogo muito maior do que a polícia local. Escolhem cidades pequenas, com policiamento reduzido, e o dia em que há pagamento ou do Estado ou de empresas grandes.
O delegado enfatiza que nestes casos, um confronto da polícia com os bandidos, pode transformar a cidade em um verdadeiro “palco de guerra”. Por isso, são necessárias as investigações para prender as grandes quadrilhas.
Um exemplo foi do assalto a uma agência de Comodoro. No dia 3 de setembro deste ano, a quadrilha, com armas pesadas, rendeu as pessoas que estavam na agência e policiais. Os reféns foram usados na fuga. O assalto foi feito pelos “Irmãos Ribeiros”. O alvo da quadrilha eram os R$ 800 mil que estavam no cofre, mas acabaram levando apenas R$ 50 mil dos caixas, dos quais foram recuperados R$ 4 mil.
Após o roubo, onde fizeram 20 reféns, os assaltantes fugiram em uma EcoSport em direção a Vilhena, Porto Velho, levando três policiais militares e o gerente do banco. Colocaram fogo no carro e obrigaram dois carreteiros a cruzarem seus caminhões na pista para fugirem. O grupo fez mais de 200 disparos de armas de grosso calibre na cidade.
A quadrilha investiu R$ 15 mil com o aluguel de armas no Pará e comprou munição em Goiás. Já foram presos, a partir das investigações, Ismael dos Santos, Olaiton Barros Mundoco, 27, Karla Vieira Rodrigues, Josemar Ribeiro da Silva, 31, “Neguinho”, Antônio Hélio Brandão, 60, Antônio Nilson Ribeiro da Silva, 37, o “Coruja”, Luciene Almeida Nascimento, Raimundo Nonato Ribeiro da Silva. Agnaldo Barbosa de Oliveira, 42, o “Negão”, foi morto durante confronto policial, no dia 13 de setembro. São foragidos procurados pela Justiça Josenildo Ribeiro da Silva, 32, e Rafael Borges da Cruz, 23.
Quadrilha família – Quadrilhas formados por membros da mesma família é uma das características nestes assaltos de grande porte. O delegado Luciano Inácio lembra que além dos “Irmão Ribeiros”, outros famosos são os “Pires de Andrade”. A maioria desta última família está presa em Goiás, mas já agiram em Mato Grosso.
As polícias de todos os estados trocam informações e fazem uma espécie de currículo destes criminosos. Roberto Carlos Pires Andrade, por exemplo, dos “Pires de Andrade”, tem mais 6 irmãos, todos envolvidos com o crime. Já foram identificados 21 “relacionamentos”, pessoas ligadas a ele.
Esta família planejava um roubo a uma agência de São José do Rio Claro, um dos quais a polícia conseguiu evitar. Com informações sobre a ação, a cidade foi “saturada” por policiais e a quadrilha acabou desistindo. Um “olheiro” chegou a ser abordado por um policial no município e acabou repassando as informações.
Prisão importante – Em abril deste ano foi presa em Várzea Grande uma quadrilha envolvida com assaltos a bancos e que tinha entre o arsenal uma metralhadora ponto 50, capaz de derrubar uma aeronave. Eles estavam escondidos no bairro São Simão. Além da metralhadora, a Polícia Civil apreendeu três fuzis, cerca de 500 quilos de munição 762, dinamite, explosivos plásticos, uma granada, revólver e diversos equipamentos utilizados para arrombamentos a cofres. Eles são suspeitos de terem planejado a assalto a agência de São José do Rio Claro e participado de outras ações.
Marcos do Carmo Pimentel, 30, natural de Ipatinga (MG), está entre os presos.
Modus operandi – O delegado Luciano Inácio afirma que estes assaltante migram muito. Eles se preparam para a ação. As cidades escolhidas, geralmente são pequenas, mas com um movimento financeiro considerável. O esquema de fuga sempre está muito bem armado, tendo até suplementos para ficarem escondidos no meio da mata. Há casos em que assaltantes ficaram de 10 a 12 dias no meio da mata. Muitos contam com apoio de chacareiros. Outra característica importante é que estas quadrilhas migram muito. Realizam assaltos em todo o país.
Um exemplo é o assaltante Reinaldo Chavier Pereira, de Rosário Oeste, que foi morto no mês passado quando fazia um assalto a uma agência no estado do Maranhão. O comparsa dele, Francisco Fernandes da Silva, foi assassinado logo depois, mas em Presidente Prudente (SP).
Reinaldo já tinha passagem por porte ilegal de arma e era um dos suspeitos de ter sequestrado familiares de funcionários de uma agência de Chapada dos Guimarães, em 2003. Também era suspeito de setembro do mesmo ano ter participado de um assalto a uma agência na avenida da Feb, em Várzea Grande.
“Mato Grosso tem perfil de cidades que atende o atende o objetivo destas quadrilhas. Cidades pequenas, distantes dos grandes centros, economia forte, onde circula muito dinheiro. Ambiente propício para estas ações”.
As armas – Armamento pesado e muita munição. Compradas ou até mesmo alugas de outras quadrilhas que não vão realizar assaltos naquele período. As armas são principalmente do mercado negro e casa fuzil utilizado custa, em média, 5 mil dólares no Paraguai.
Os carros usados são geralmente roubados com financiados.
Tipos – A polícia trabalha com vários tipos de crimes: saidinhas de banco, ladrões de caixas eletrônicos, ladrões de cofres, ladrões de caixas e a quadrilha organizada.
Último – A polícia ainda não tem pistas sobre os 10 homens que tentaram assaltar a agência de Barra do Bugres, na noite de quarta-feira (4). Eles usaram fuzis, dinamite e uma barreira humana na frente da agência para evitar a ação da polícia. Conseguiram fugir.