Após várias horas de tensão e de negociação, os índios xavantes da aldeia de Sangradouro, em Primavera do Leste (município localizado a 238 km de Cuiabá), e o comando da Polícia Militar de Mato Grosso realizaram agora há pouco (por volta das 18h40) a troca de reféns (um policial civil por um índigena daquela etnia) e encerram um conflito que, por muito pouco, não acaba em uma tragédia com mortes.
O conflito começou na manhã de hoje após a Polícia Civil, atendendo apelo de uma oficial de Justiça, dirigiu-se a aldeia Xavante Sangradouro, localizada a cerca de 50 km de Primavera do Leste, para cumprir um mandado de prisão expedido em Santa Fé do Sul pela juíza Liliane Keyko Hioki contra o índio xavante José Carlos Runhamri Tsihoridatsu, de 23 anos, acusado de furto.
Acompanhado de seu pai, José Carlos foi conduzido para a delegacia local e preso e seu progenitor encaminhado para a Funai (Fundação Nacional do Índio). Foi o estopim necessário para um conflito aberto entre índios e PMs.
José Carlos, segundo nota oficial da assessoria do governo do Estado, foi autuado em flagrante na cidade de Santa Fé do Sul, em 20 de janeiro de 2008, acusado de furtar R$ 250,00 do estabelecimento “Absolut Bar” naquela cidade, e tendo revogada sua liberdade provisória, fugiu para Mato Grosso, refugiando-se na reserva Sangradouro, entre Primavera do Leste e General Carneiro.
A oficial de Justiça, após a identificação, trouxe o indígena e o pai dele para Primavera do Leste, deixando-o aos cuidados do sistema prisional e comunicando a Funai do ocorrido. Avisados do ocorrido pelo pai de José Carlos, cerca de 200 Xavantes se mobilizaram rapidamente e invadiram a delegacia onde julgavam estar preso José Carlos, depredaram o local e fizeram o escrivão da Polícia Civil Leonardo Nydaie de refém.
Furiosos, os índios roubaram ainda armas da delegacia – uma submetralhadora, uma pistola automática,um revolver calibre 32, uma espingarda calibre 12, uma carabina calibre 38,e tres coletes a prova de balas e um Fiat Uno de uso particular de um policial militar, além de terem causados danos materiais em uma viatura da PM, inclusive tombando-a.
Após destruírem a delegacia, dirigiram-se para a cadeia e houve tentativa de invasão com a intenção de libertar, além do índio, de todos os cerca de 130 presos na cadeia de Primavera do Leste. Foi o segundo estopim para o agravamento da crise e o confronto com a Policia Militar, que impediu a invasão, foi inevitável. No confronto, segundo fontes, houve troca de tiros e dois policiais – um civil e um militar – foram feridos, sendo que um deles já foi removido para Cuiabá e outro ainda continua recebendo cuidados médicos no Hospital de Primavera do Leste. Os dois passam bem e não correm risco de morte. Um xavante teve ferimentos leves e, após ter sido medicado, foi liberado.
Após a tensão na sede do município, os xavantes voltaram para a reserva indígena com o refém e o comando da Policia Militar de Mato Grosso deslocou para a cidade de Rondonópolis, que tem maior efetivo policial, porque mais indígenas – as informações eram de que mais 300 – estavam se deslocando de Nova Xavantina em caminhões para juntar-se aos Xavantes na aldeia Sangradouro.
A Policia Militar montou uma operação conjunta com a policia federal e instalou barreiras nas estradas para impedir o acesso e garantir a segurança da população.
Enquanto isso, A FUNAI, através de sua representação em Primavera do Leste, acionou a defensoria pública e se iniciou uma intensa mobilização para resolver o conflito e libertar o policial civil feito refém.
O juiz Pedro Manoel Callado de Moraes, Juiz de direito da Comarca de Jales (SP) foi contatado pelo juiz da comarca de Primavera, Luis Otávio Pereira Marques, e concordou em expedir um alvará de soltura para José Carlos mediante a declaração da Funai de que o acusado possuía bons antecedentes e residência fixa, requisitos para que ele possa responder o processo em liberdade.
De posse do alvará de soltura de José Carlos, o coronel Campos Filho, comandante da PM, iniciou as tratativas para a libertação do refém Leonardo Nydaie, o que ocorreu no final deste sábado, em Primavera do Leste, pondo um final a um evento que iniciou de forma traumática.
Campos Filho declarou, no final do dia, após retornar com o policial civil Leonardo Nydaie da aldeia Sangradouro, que toda a operação, que contou com a colaboração da PF, da Polícia Civil, do Poder Judiciário, da Defensoria Pública e da Funai, foi exitosa e que já determinou a abertura dos inquéritos policiais para a apuração dos fatos e que o xavante José Carlos continuará respondendo processo normalmente.A policia federal também informou que abrirá inquérito.