segunda-feira, 29/abril/2024
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‘Exército’ do Comando Vermelho cresce cinco vezes em MT

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Instalado oficialmente no estado no início de 2013 com cerca de 400 membros, o Comando Vermelho de Mato Grosso (CV-MT) teve seu “exército” aumentado quase cinco vezes, chegando a aproximadamente dois mil integrantes este ano.

O número espanta até mesmo as instituições de segurança pública, que também se mostram impressionadas com a funcionalidade e organização da maior facção do Estado. Estudos apontam que desde 2012 já haviam simpatizantes da facção em unidades prisionais locais.

Com membros presentes tanto dentro quanto fora das unidades prisionais de Mato Grosso, o CV-MT é responsável por comandar o tráfico de drogas, explosões de caixas eletrônicos, roubos e furtos nas maiores cidades do estado.

Além disso, a facção está envolvida com os crimes de latrocínios, homicídios, estelionatos e apologia ao crime. Em 2013, quando iniciaram as investigações sobre a facção em Mato Grosso, o setor de Inteligência da Polícia Civil realizou um estudo sobre o funcionamento interno da organização criminosa.

Na época, o levantamento apontou que existiam cerca de 250 membros qualificados e mais 150 “batizados”.

Presente em diversas unidades prisionais do Estado, o CV-MT possui fortes lideranças na Penitenciária Central do Estado (PCE), a maior unidade carcerária de Mato Grosso, no Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), na Penitenciaria Feminina Ana Maria do Couto May, na Cadeia Pública do Capão Grande, em Várzea Grande, na Penitenciária Major Eldo Sá Correia, conhecida como “Mata Grande”, em Rondonópolis, e a na Penitenciária Osvaldo F. Leite Ferreira, conhecida por “Ferrugem”, em Sinop. Dentro dos presídios há raios e alas reservados para os líderes e gerentes da facção.

“Isso faz parte da hierarquia do CV-MT e é uma forma de manter o controle sobre os demais membros”, explica o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Mato Grosso (Sindspen), João Batista.

O sindicalista diz que o último levantamento feito nas unidades prisionais do Estado aponta que, atualmente, a facção conta com pelo menos dois mil membros, entre líderes, membros e colaboradores.

Fundada em 2013 em Mato Grosso, o CV-MT possui uma liderança independente do Comando Vermelho do Rio de Janeiro que, por sua vez, foi criado na década de 1979, no Presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande (RJ), por um grupo de presos comuns e presos políticos, antes membros da Falange Vermelha, que lutaram contra a ditadura militar.

Professora doutora em Antropologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e livre docente da Universidade de Campinas (Unicamp), Alba Zaluar realizou um estudo aprofundado sobre o surgimento da facção e explica que a prisão junto a presos políticos fez com que os detentos comuns aprendessem a importância da organização para a defesa contra seus “predadores”, aqueles criminosos que cobravam pela permanência do reeducando dentro da unidade prisional.

“O Comando Vermelho é resultado da opressão de presos sob presos dentro dos presídios. Um grupo que se viu cansado de ser extorquido, se uniu para se proteger. E sob a orientação de presos políticos, criaram uma organização extremamente bem elaborada e que deu certo”.

A organização chegou em Mato Grosso cerca de três décadas depois. “Em junho de 2013 soubemos que alguns criminosos teriam aberto uma filial da facção no Estado. A partir daí, iniciamos uma atividade de monitoramento desse grupo, tanto dentro do presídio, no caso era a PCE, e nas ruas, já que haviam suspeitos que estavam fora do sistema prisional”, conta o delegado titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), Flávio Stringueta.

Ainda segundo o delegado, o CV-MT teve início por intermédio do detento Sandro da Silva Rabelo, conhecido como “Sandro Louco”, juntamente com Renato Sigarini, conhecido por “Vermelhão”, Miro Arcângelo Gonçalves de Jesus, o “Miro Louco”, e Renildo Silva Rios, conhecido por “Nego” ou “Liberdade”.

Os serviços de inteligência da segurança pública, em contato com outras unidades do mesmo segmento no país, manteve o trabalho de investigação e confirmou a instalação do CV-MT.

“Na época descobrimos que a facção realmente havia se instalado no Estado e estava arregimentando pessoas de uma forma muito rápida e organizada, o que foi visto como uma grande preocupação pelas autoridades policiais e do sistema penitenciário”, frisou Stringueta.

Um integrante da inteligência que estava à frente das investigações sobre o CV-MT em 2013, que prefere não se identificar, explicou à reportagem como a facção se estabeleceu no Estado.

Segundo ele, inicialmente, foram estabelecidas duas principais ações. A primeira foi a criação de um conselho, denominado “Conselho de Estado” ou “Conselho Final”, o qual era formado por detentos do mais alto nível de conhecimento sobre as regras do estatuto da facção.

Dentro deste conselho, há os cargos de presidente, vice-presidente, porta-voz e tesoureiro. Em seguida, os fundadores decidiram por consolidar autonomia em relação ao Comando Vermelho do Rio de Janeiro. Isso isentava o CV-MT da prestação de contas das atividades realizadas no Estado, além de livrar a facção dos pagamentos mensais.

Porém, há uma aliança entre ambas. A maior facção de Mato Grosso ainda realizou um acordo com as organizações criminosas rivais, na qual ficou decidido que não haveria mais “batismos” ou entrada de novos membros, a partir de julho de 2013. Além disso, estava proibido desentendimento entre as facções. Regras que acabaram não sendo cumprida.

“O número de integrantes do CV-MT mais do que triplicou nos últimos anos e é comum rixas entre detentos de facções distintas. Podemos tirar como exemplo o que está acontecendo no país”, pontua o sindicalista, João Batista.

A independência da facção permitiu a atuação do grupo dentro e fora das unidades prisionais, conseguindo adquirir novos aliados e alcançar os objetivos principais, o domínio do tráfico de drogas em Mato Grosso e fortalecimento da estrutura de guerra por ela estabelecida. “Eles são extremamente organizados.

Em menos de um ano, eles criaram até mesmo uma espécie de ‘recursos humanos’, que é responsável pelo cadastro e recrutamento de novos simpatizantes da linha de trabalho da facção. Além disso, este setor é o que arrecada a mensalidade paga por cada membro”.

Tendo como foco a prisão de membros do CV-MT, a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e a Diretoria de Inteligência, com apoio das inteligências da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), realizaram duas fases da operação “Grená”.

Foram mais de 70 mandados de prisão expedidos preventiva e centenas ordens judiciais entre busca e apreensão, intimações para interrogatórios e medidas cautelares cumpridas nas duas operações. Na primeira, 28 acusados foram denunciados. Na segunda, a Polícia Civil indiciou 290 integrantes.

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