PUBLICIDADE

Tchau Julier!

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Uma das grandes virtudes do ser humano é saber reconhecer o momento de parar. De entender que já cumpriu sua missão, já está feito, marcou e demarcou sua área, plantou sua árvore, já procriou e já vai traçando as linhas do arcabouço profissional a ser eternizado. O juiz da 1ª Vara da Justiça Federal, Julier Sebastião da Silva, é um exemplo muito marcante desse princípio. Ele já fez de tudo em Mato Grosso, tudo o que um magistrado de sua grandeza poderia fazer. Agora, é preciso reconhecer que já começou a atrapalhar, enfiar os pés pelas mãos e cometer atos que nenhum cidadão espera de um magistrado: a injustiça e o desrespeito aos mais elementares princípios da dignidade humana.

A carreira de Julier Sebastião é notável sob todos os aspectos. Sua origem jurídica, se me permitam aqui relembrar, é do movimento eclesiástico de base, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), onde defendeu com unhas e dentes o direito daqueles que lutaram pela implantação da reforma agrária no Brasil, combateram com ferocidade o latifúndio improdutivo, espoliativo, aquelas terras enormes a serviço da especulação imobiliária. Bons tempos da Pastoral da Terra. Luta que até hoje prossegue.

Só por ai, Julier já seria um ser notável. Porém, sua capacidade e coragem exigiam mais do ser. E começou a surgir com brilho estrelar o magistrado federal Julier, carregando a marca que o fez notabilizar no movimento eclesiástico: coragem para enfrentar os grandes e poderosos, lançando mão apenas de sua inteligência, sem armas, sem nada. Quase humanista. Naquela época, Mato Grosso estava atônito com o assassinato do juiz Leopoldino Marques do Amaral. Ao lado do procurador José Pedro Taques, hoje em São Paulo – e logo em Brasília – Julier tentou e procurou contribuir por todos os meios para fazer o “Judiciário dos Sonhos”.

E o tempo passou! Sempre com decisões polêmicas, de forte apelo popular, Julier caiu no gosto da imprensa e virou figura a ser procurada pelos holofotes. Destemido, desalojou de Mato Grosso o chefe o crime organizado, João Arcanjo Ribeiro, e destruiu aquele “império” constituído de factorings, jogos de azar e outros mais. Por tabela, mexeu no jogo decisivo da política, o esquema de financiamento de campanha. Ficou querido de grande parte da sociedade.

Mas não se deu por satisfeito: partiu para cima dos espoliadores do patrimônio público ambiental com uma operação que prendeu gente para tudo que é lado. Autoridades públicas algemadas, funcionários públicos corruptos presos, atravessadores, despachantes, enfim, quase não sobrou pedra sobre pedra no território dos negócios da madeira. Escritórios de advogados invadidos, profissionais presos, hoje integram o cartel de ações do juiz. Cidades quase fecharam e muitas ainda vivem o caos social. Milhares de pais de famílias estão desempregados. Em tudo, o que se mediu foi apenas o tamanho da repercussão.

Julier Sebastião da Silva, o magistrado de Mato Grosso, atuou sempre com mão limpa e de ferro. E começou a se julgar acima de tudo. Prerrogativas dos advogados foram violadas, a individualidade do cidadão jogada no canto, a Constituição Federal passou ao largo. A dignidade humana é um aspecto fora de evidência nos conceitos do juiz, a julgar pelos seus atos. Nos seus anos de magistratura, o juiz federal foi implacável ao assinar mais de 200 mandados de prisão, dos quais, a grosso modo, pode-se dizer sem erro: menos de 15 pessoas estão presas, e mais de 100 sequer chegaram a ser denunciadas pelo Ministério Público Federal. E não adianta culpar os advogados. Mas tudo bem, valeu a pena! Nunca Mato Grosso ficou tão em evidência, nunca tantos crimes foram denunciados, embora os resultados ainda sejam tímidos.

Mas agora parece que a coisa degringolou de vez. Prender por ouvir falar já é demais. Julier começa a cometer injustiças na sua sanha interminável de ver políticos, autoridades e funcionários públicos sendo algemados para as câmeras de televisão. E quando a coisa chega a esse nível, é bom parar. É hora de recolher a bagagem, magistrado. Por aqui, o juiz federal já fez o que tinha que ser feito. Prender na suposição por satisfação não pode mais prosperar. O cidadão não pode viver sob a sombra do medo. Perdeu-se o centro. As pedras já rolaram o que tinham que rolar!

Não temo em errar: o Brasil está perdendo um grande magistrado. Ou melhor: Brasília está perdendo um juiz de primeira linha. Por aqui, agora, hoje, Julier é subutilizado, está a mercê dos erros pela vontade de fazer. Tenho por certo que na Capital Federal, onde as mazelas do país são assustadoras, onde as instituições estão a beira do caos promovido pela corrupção, o nosso magistrado seria de muito mais valia.

Então, em nome das garantias constitucionais do povo daqui, em nome das prerrogativas dos advogados e do respeito a individualidade humana, é hora de dizer: “Tchau, Julier!”.

Francisco Faiad é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso

COMPARTILHAR

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias

Por que tantas mulheres se perdem em amores tóxicos?

Meu coração aperta. Dói. Para cada notícia de feminicídio –...

Brasil instável

Só quem não acompanha o noticiário deve estar tranquilo...

Emendas parlamentares: a política a serviço do cidadão

Nem todo mundo entende, exatamente, o que são as...

Carta aberta à população sinopense

Leia até o final e perceba o quanto o...