"A menos que você chegue àquele ponto de preenchimento dentro de você, não há nenhuma possibilidade de encontrar satisfação em algo ou em alguém fora de você. Se não entendermos como nos relacionar conosco, não haverá jeito de nos relacionarmos com o outro".Kiran Kanakia
"Você perdeu a si mesmo. Você está se procurando. Você está procurando a si mesmo nos olhos de todos que você encontra". Kiran Kanakia
É um desejo coletivo que os relacionamentos amorosos sejam uma fonte de bem-estar individual, do nível físico ao espiritual, porém é uma ilusão pensar que o outro possa ser a nossa fonte maior de satisfação.
Comecemos por olhar a questão sexual. Se o nosso corpo, por exemplo, está amordaçado por uma infinidade de tensões, tolhido por bloqueios emocionais, por condicionamentos que nos foram impostos desde a infância e que inibem a capacidade de entrega e de sentir prazer, como querer que o outro seja o único responsável pelo nosso prazer ou desprazer?
Normalmente, a maioria das pessoas coloca nas costas do parceiro essa responsabilidade, deixando-se fora do processo. E aí fica tudo muito simples, não? O outro é o culpado pelas dificuldades do relacionamento. Assim, não há necessidade de investigar-se, de se conhecer, de admitir as próprias falhas e limites, às vezes constrangedores.
Logo, se o outro é responsabilizado pelos problemas com que a pessoa se depara, uma solução bem simplificada parece ser a troca de parceiro. Ir por esse caminho pode começar uma via-sacra interminável em busca do parceiro ideal.
Porém essa escolha certamente levará a pessoa a muitas frustrações, pois, se a busca pelo encontro for somente externa, inevitavelmente, criará um desencontro e um distanciamento do universo interior. E o vazio da própria presença ninguém pode preencher.
Se quisermos viver a plenitude de um relacionamento, é necessário, prioritariamente, um caminho que nos leve para dentro e nos conduza ao autoconhecimento, a uma intimidade e familiaridade conosco, que passa por conhecer o nosso corpo, as nossas emoções, sentimentos, humores. Em primeiro lugar, precisamos aprender a nos relacionar conosco de forma harmoniosa.
Se o nosso corpo é um estranho para nós, que dirá o corpo do outro! E quanto às emoções? Se não entendermos as nossas, como compreender as das demais pessoas? Como nos relacionar harmonicamente com quem quer que seja se a nossa relação interna é tensa, desamorosa, desequilibrada? Uma coisa é consequência da outra. As relações externas revelam muito a respeito de como alguém se trata e se relaciona consigo mesmo.
Por outro lado, se temos um contato interno forte, ganhamos autoconfiança, clareza de visão, consciência. Torna-se mais fácil saber que tipo de pessoa queremos ou não para estar junto conosco. Saímos da dependência de, obrigatoriamente, ter alguém conosco o tempo todo para a vida ter sentido. Dessa forma, se estamos em um relacionamento afetivo saudável, é ótimo – um presente. Mas, se estamos sozinhos, também é bom. Alguém já disse que "a solidão é um chão onde todos deveriam plantar". Estar só é uma excelente oportunidade para descobrir o valor e a riqueza da própria companhia.
Nessas condições, o encontro com o outro também terá uma qualidade diferenciada. Não faremos de ninguém uma muleta, da qual precisamos para mudar os nossos passos. O relacionamento será um compartilhar de ser para ser, baseado na amizade, liberdade, honestidade, no diálogo e no respeito recíprocos. E os eventuais conflitos que surgem, mesmo nas relações mais harmônicas, serão bem mais fáceis de serem resolvidos, transformando-se, inclusive, em crescimento espiritual para as partes envolvidas.
Benedita Enildes Corrêa é consultora na área de qualidade de vida. Administradora e terapeuta corporal, professora de Yoga. Ministra seminários vivenciais para as organizações governamentais e privadas.