A cada instante e em todo lugar somos bombardeados com discursos escritos e falados, de que a educação deve ser a prioridade, e que ela poderá ser a chave do desenvolvimento e do bem estar da população. Muitos governos das várias esferas do poder usam esses chavões e muitas vezes se empenham para isso, colocando em prática aquilo que muitos chamariam de engodo educacional.
Geralmente o que se presencia, é a pretensão do chamado ensino de qualidade, onde se organizam uma série de atividades didáticas, ajudando os alunos para que compreendam áreas específicas do conhecimento (língua portuguesa, história, matemática e ciências), com a preocupação voltada a vida profissional futura (vestibular, concursos etc..). Mesmo assim muitas instituições não conseguem colocar em prática seus intentos.
O ensino está muito distante do conceito de qualidade, embora muitas escolas sejam colocadas no pedestal como modelo de excelência. Temos algumas escolas, faculdades, universidades e alguns cursos com áreas que se destacam, mas no geral, vemos um ensino muito mais problemático do que é divulgado. Mesmo as melhores universidades são bastante desiguais nos seus cursos, metodologias, forma de avaliar, projetos pedagógicos, infra-estrutura.
Quando nos referimos a uma educação de qualidade, a preocupação vai além do ensinar áreas especificas. Esta ajuda a ter uma visão de totalidade, integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, de forma dialética, integrando assim a teoria e a prática pedagógicas, numa relação de dependência, simultaneidade, reciprocidade.
O programa educacional em geral é pouco dialético, com grande quantidade de informações, tratadas fora do contexto, sem estabelecer a devida conexão entre os fatos, visando a memorização e não a aprendizagem em si. Uma educação dialética de qualidade envolve um grande conjunto de fatores, que começa com a vontade inovadora dos seus dirigentes, seguida de planejamento criterioso, com projeto pedagógico participativo. Os docentes e todas as pessoas envolvidas devem estar muito bem remunerados, para que possam ter motivação de trabalho e da busca constante de aperfeiçoamento. Infra-estrutura adequada, atualizada, confortável, com tecnologias acessíveis, rápidas e renovadas.
Não basta construir escolas, aparentemente causam um grande impacto diante da população, mas essas escolas são apenas caricaturas se lhes faltam livros, equipamentos e professores.
A maioria das administrações são perfeitas no papel, mas capenga na prática. Por isso não podemos contar com reformas voluntaristas de seus dirigentes. Somente as exigências conscientes da nossa sociedade e dos agentes diretos da educação, serão capazes de empurrar o sistema educativo rumo a uma sociedade igualitária, conduzindo ao poder uma equipe gestora forte e competente, capaz de enfrentar os interesses muitas vezes escusos e ouvir a voz dos movimentos sociais.
Em uma análise da realidade na educação brasileira, percebe-se que apesar dos avanços desde 2003, existe uma grande deficiência em infra-estrutura para que os professores possam colocar em prática seus conhecimentos teóricos adquiridos na universidade. Quando a educação vai mal e sem estrutura, o motivo exposto, geralmente é a falta de recursos, mas nunca há uma explicação plausível e com transparência dos gastos.
Embora os problemas da educação sejam comuns em todo país, alguns estados e municípios assumem uma maior responsabilidade, procurando dar uma qualidade melhor ao ensino. E Sinop, infelizmente não destoa da educação em geral, com salários deficientes, poucos investimentos (os que são investidos, a maior parte são recursos do governo federal; desde a merenda, livros, material escolar, até a maior parte dos salários dos professores). Boa parte dos cargos na secretaria de Educação são políticos e não técnicos em cada especialidade. As creches não disponibilizam vagas suficientes. Muitas escolas e creches funcionam em lugares impróprios com prédios alugados, numa sucessão parecida de governo a governo. A maior parte da população nunca sabe quanto se gasta e a forma que é feita a licitação.
Em contrapartida a grande maioria dos professores e professoras fazem valer o compromisso de educadores, colocando em prática a criatividade, tentando suprir a falta de estrutura que lhe é imposta.
Idalino Reginatto é ex-líder partidário em Sinop.