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Perseguição política

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O governo do Estado ensaia um golpe final contra Cuiabá. O golpe foi anunciado pelo secretário Teis, que em entrevista à imprensa usou a “diplomacia da botina” para mandar um recado público ao prefeito Wilson Santos, no sentido de que ele deveria aprender a ler. Não é de fácil entendimento o recado, qualquer que seja o campo que se busque para entendê-lo. Todos sabem que Wilson é bacharel em Direito, brilhante professor de História e, com certeza, um dos mais preparados homens públicos de Mato Grosso. O motivo da agressão é desconhecido, apenas deixa evidente a má vontade de Teis, ou da turma da botina, com a administração de Cuiabá. Para entender a divergência vamos por partes.

Na posse de prefeito, Wilson Santos agradeceu ao governador Blairo Maggi por este ter mantido o índice do ICMS de Cuiabá em 15,96%º, embora ressaltasse que a participação da Capital deveria ser maior. Usando da palavra, o governador disse que nada havia a agradecer. A solução fora técnica, ou seja: Cuiabá tinha direito àquele índice. A posse foi em janeiro. Nem atravessamos março e o governo quer mudar o índice de Cuiabá, para menor. Cuiabá teria índice pouco superior a 13% e isso representaria uma receita 20 milhões a menos por ano. Traduzindo, o governo Blairo Maggi pode tirar 80 milhões em quatro anos de Cuiabá. Inadmissível: Técnica e politicamente. Vejamos:

1 – Em 1994 Cuiabá recebia pouco mais de 19%. Dez anos depois esse índice caiu para 15,96%. Agora o governo quer reduzir para algo em torno de 13%. Percebam o disparate. Cuiabá tem mais de 500 mil habitantes. Contribui com mais de 25% no total do ICMS arrecadado e recebe R$ 25,13 por habitante.

2 – Comparando com outras capitais do Brasil, dá para perceber a enorme injustiça contra os cuiabanos que quer perpetrar o governo Blairo. Fortaleza recebe 39,7%; Recife, 37,1%; Rio de Janeiro, 35,5%; Natal, 34,0%; Campo Grande, 23%; Vitória, 21,96%; Goiânia, 21,57%. Esses números, por si só, desmentem o secretário Teis e deixam evidente que não é Wilson quem não sabe ler.

3 – Está clara a proposta do governo de penalizar os municípios mais industrializados em benefício dos que fazem a produção primária. Só como exemplo, enquanto Cuiabá tem um retorno de pouco mais de R$ 25 por habitante, Alto Taquari, com apenas 4.926 habitantes recebe em torno de R$ 257,38 por habitante e Santo Antônio do Leste, com 2.020 habitantes, recebe R$245,54 por habitante.

4 – A proposta ensaiada pelo sr. Teis na verdade penaliza 70% da população de Mato Grosso, distribuída pelos municípios de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Alta Floresta, Poconé, Barra do Garças e outros que perderiam com a proposta do governo. Como sustentá-la politicamente?

A imprensa comentou recentemente que o prefeito Wilson estaria com relações estremecidas com o governador por causa desse debate. Não creio nessa hipótese. Wilson está apenas cumprindo com sua promessa de campanha de lutar pelos interesses da cidade. O prefeito de Cuiabá não pode assistir passivamente a cidade ser saqueada em mais de 20 milhões por ano, sem que assuma a defesa da sua população. É preciso, aliás, que sua fala desperte a cidade para reagir contra esse prejuízo à eterna Capital. A Câmara de Vereadores e a Assembléia Legislativa não podem se omitir neste debate. Pessoalmente vou defender a idéia de mobilizar os bairros de Cuiabá para defender que esses recursos permaneçam na Cidade Verde. Os que mais sofrerão com possíveis retaliações serão os moradores da cidade. A luta é, portanto, de todos.

Diante dos novos fatos cabe apenas uma indagação final: em qual Blairo a população pode acreditar? No da posse que assegurou que Cuiabá não teria perdas, ou nesse que fala, através de Teis, que o prefeito de Cuiabá não sabe ler? Com a palavra, o governador.

Antero Paes de Barros é jornalista, radialista e senador da República (PSDB). E-mail: [email protected]

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