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Paraíso dos especuladores

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A inflação é para o sistema econômico o que a febre é para o corpo humano, quando se eleva é porque o organismo está doente. E, em ambos os casos, merece prioridade de tratamento. Não é por outra razão que a prioridade do governo federal é o combate à inflação, antes que ela fuja de vez ao controle.

Também em economia, tanto quanto nos organismos vivos, os remédios aplicados para tratar a doença, quase sempre provocam efeitos colaterais que, não raras vezes, podem ser tanto ou mais danosos que a doença combatida.

É o que tem acontecido com o principal instrumento utilizado pelo governo para combater a inflação, a taxa de juros, que no Brasil, de tão elevada, está provocando efeitos colaterais extremamente danosos para a economia.

As altas taxas de juros pagas no mercado interno têm sido grandes atrativos para o capital internacional especulativo, que vagueiam pelo mundo buscando maiores rendimentos, com menores riscos. E o Brasil hoje representa tudo o que esse tipo de capital procura: oferece altos rendimentos, com risco mínimo.

Esse caudaloso fluxo de divisas provocou uma sobrevalorização do real frente ao dólar, que, além de impactar negativamente no saldo da balança comercial (exportações menos importações), redundou em ganhos adicionais para os especuladores internacionais, conforme demonstro a seguir:

Imagine um especulador que, em janeiro de 2009, internalizasse US$ 1,0 milhão para aplicar em títulos da dívida pública brasileira (papéis de risco mínimo). Naquela data US$ 1,00 valia R$ 2,33, logo aquele US$ 1,0 milhão foi trocado no mercado por R$ 2,33 milhões.

Considerando que os títulos da dívida pública, remunerados pela taxa SELIC, renderam 30,4% no período, aqueles R$ 2,33 milhões valem hoje R$ 3,03 milhões. Dado que hoje US$ 1,00 vale R$ 1,60, se quiser se retirar do mercado brasileiro, o especulador trocará seus R$ 3,03 milhões por US$ 1,9 milhão. Um rendimento de 90%, portanto (se aplicado em títulos do governo americano, não teria rendido mais do que 7% no período).

E o mais preocupante é que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), boa parte do fluxo de capitais, que tem entrado com vigor no Brasil, é dinheiro nacional sendo repatriado para fins especulativos. A 5ª edição do boletim Conjuntura em Foco, daquele Instituto, mostra que muito dos recursos internalizados como Investimento Estrangeiro Direto (IED) vem, na realidade, de filiais de empresas brasileiras no exterior, que aportam no Brasil apenas para especulação.

No dizer de Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões (GAP) do IPEA: "Os investimentos estrangeiros diretos seriam investimentos em carteira disfarçados para aproveitar os juros e burlar as medidas macro-prudenciais".
Entendeu agora, caro leitor, porque as nossas reservas internacionais crescem exponencialmente. São capitais voláteis, que não vieram para ficar, e debandarão ao menor sinal de crise. É que o Brasil virou o paraíso dos especuladores nacionais e internacionais.

Waldir Serafim é economista em Mato Grosso
[email protected]

 

 

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