segunda-feira, 6/maio/2024
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Palocci e Gtech: tudo a ver

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Propus à CPI dos Bingos o indiciamento do ministro Palocci por envolvimento no caso Gtech. O parecer do relator, senador Garibaldi Alves, traz argumentos contundentes nesse sentido, mas não o cita nominalmente. Tenho, além da convicção pessoal, dados concretos a respeito do assunto.

Tudo começou na campanha eleitoral de 2002, mas o Brasil não sabia. Waldomiro Diniz, então presidente da Loterj, já tinha contatos com os donos de bingos e empresários do jogo e deles recebeu propinas para as campanhas do PT a governador e do presidente Lula.

A fita do encontro entre Waldomiro e Carlinhos Cachoeira, que divulguei em fevereiro de 2004, foi o ponto de partida para investigações da Polícia, do Ministério Público e da CPI dos Bingos. Todas as apurações constataram que Cachoeira apresentou Waldomiro à Gtech ainda em 2002. Tiveram vários encontros para tratar do contrato da empresa com a Caixa.

No final de 2002, a CEF estava pronta para assumir parte das tarefas da Gtech no processamento de loterias e reduzir o valor do contrato. A equipe de transição de governo pediu que o assunto ficasse para o governo Lula decidir. Antônio Palocci era o chefão da equipe de transição, ao lado de José Dirceu.

A CEF prorrogou o contrato por três meses. Começou então intensa negociação entre a Gtech e Waldomiro Diniz sobre um novo contrato. Waldomiro incluiu o advogado Rogério Buratti nas negociações, informando que ele facilitaria a renovação do contrato.

De janeiro a abril, informa o relatório do senador Garibaldi Alves, houve intensa troca de telefonemas entre Buratti, Ralph Barquete, Ademirson da Silva e Vladimir Poletto. Todos eles de Ribeirão Preto, todos ligados ao atual ministro da Fazenda.

(Ralph, ex-secretário de Fazenda de Palocci em Ribeirão Preto, era assessor do presidente da Caixa. Ademirson é assessor pessoal de Palocci há 18 anos. Buratti, ex-secretário de governo da Prefeitura de Ribeirão Preto e amigo de Palocci. Poletto, ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto e sócio de Buratti numa empresa de consultoria).

Foram 411 telefonemas entre Ademirson e Poletto, 1.841 telefonemas entre Ademirson e Barquete nesse período. Ou seja, mais de duas mil ligações entre eles.

A data para assinatura do contrato CEF-Gtech chegou a ser marcada e em seguida desmarcada pela Caixa porque Buratti não havia sido “atendido”.

Dias depois, a Gtech deposita 5 milhões de reais para a MM Consultoria. E assina um novo contrato, com 25 meses de vigência, no valor de R$ 650 milhões, com a CEF. A Caixa toma um prejuízo de R$ 120 milhões.

Buratti foi quem bateu o martelo na assinatura do contrato. Por quê, se ele nem era do governo? De onde vinha sua força nas negociações? É claro que Buratti e os seus amigos de Ribeirão Preto não teriam êxito na extorsão à Gtech, se estivessem agindo sozinhos. Eles não atuariam com tal desenvoltura, se não tivessem alguém poderoso a lhes dar guarida.

Esse alguém era Antônio Palocci, coordenador da campanha eleitoral de Lula, coordenador da equipe de transição do governo e atual ministro da Fazenda. Por isso, não tenho dúvidas de que Palocci e Gtech têm tudo a ver e que Palocci tem que ser indiciado. Tenho a consciência tranqüila quanto a isso.

Quando o relator preparou seu parecer, o ministro da Fazenda ainda não havia prestado esclarecimentos à CPI dos Bingos. O depoimento de Palocci, na última quinta-feira, reforçou as suspeitas. O ministro foi pródigo em evasivas, fez rasgados elogios ao seu assessor Ademirson e defendeu a integridade de Buratti. Coisa de amigo, de padrinho.

Seguindo a linha de raciocínio do senador Garibaldi, torna-se uma questão de lógica, irrefutável, investigar Palocci. O envolvimento do ministro Palocci é grave, e até compreendo o receio dos senadores de votar o seu indiciamento.

Mais grave, porém, seria ele não estar envolvido. Seria admitir a fragilidade da República, exposta a fraudes e manipulações de aventureiros sujeitos como Buratti, Poletto & cia.

Um dos pilares da democracia moderna é justamente a igualdade de todos perante a lei. Durante a ditadura militar, era crime contra a segurança nacional fazer denúncias contra autoridades. Mas a ditadura acabou e a famosa LSN há muito foi revogada.

Não há mais cidadãos acima de qualquer suspeita. Todos devem ser investigados, mesmo o ministro da Fazenda. Principalmente ele, dada a importância estratégica do cargo que ocupa.

A CPI dos Bingos pode abrir caminho para essa investigação.

Antero Paes de Barros é radialista, jornalista, senador da República e presidente do PSDB de Mato Grosso.
[email protected]

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