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Os caminhos do futuro (último)

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Quando paramos em frente a uma bela casa ou edifício suntuoso ficamos imaginando que há algum tempo aquela área era apenas um terreno desocupado e sempre vem `a nossa mente uma pergunta: como tudo isso foi possível? A resposta não tarda a vir quando passamos a saber que antes de tudo ser construído houve um projeto envolvendo diversos componentes, desde a fundação, os alicerces, a partes da alvenaria, da engenharia elétrica, hidráulica, o piso, a iluminação e até mesmo a decoração. Ou seja, todos que trabalharam na obra tiveram sua parcela de responsabilidade para que a construção fosse feita, dentro dos preceitos ambientais, de segurança e conforme as normas urbanísticas, os impactos de vizinhança, o trânsito e assim por diante.

Se para se construir uma casa, um edifício ou uma comunidade urbana moderna é necessário um projeto por que seria diferente quando se trata do desenvolvimento de nossos municípios, de nossos estados e de nosso país? Jamais podemos construir alguma coisa sem um projeto, prevendo inclusive a sua integração futura no contexto que o cerca; no caso dos países o contexto internacional.

No caso das construções mesmo que os engenheiros, os arquitetos e outros profissionais, o mestre de obras e os operários mudem, havendo um projeto com certeza a obra vai continuar e ser concluída, de preferência dentro do prazo determinado quando de sua aprovação. Lamentavelmente nossos arquitetos e engenheiros políticos (a chamada classe política) parecem que dão pouca importância para a questão da necessidade de um projeto de desenvolvimento nacional e seus componentes estaduais e municipais. Imaginam que o mais importante são apenas as eleições, os mandatos e a possibilidade ou aspiração de se perpetuarem nos cargos e posições de mando nas estruturas políticas, administrativas e gerenciais, passando o bastão de preferência para parentes, amigos, correligionários ou os partidos políticos a que pertencem.

Analisando esta questão dos projetos nacionais de desenvolvimento nos deparamos com alguns exemplos que poderiam servir de estímulos ou modelos para que também o Brasil possa romper as amarras que ainda o atam a um estado de subdesenvolvimento, de mediocridade, miséria e corrupção. Selecionamos alguns desses modelos ou exemplos para ilustrar essa discussão. Os países europeus, da mesma forma que o Japão, foram praticamente dizimados pela Segunda Guerra Mundial. Suas estruturas físicas, estradas, edifícios, centros urbanos, rodovias, hidrovias, ferrovias e fábricas viraram sucatas.

Depois de tamanha destruição restavam apenas duas coisas: o conhecimento e a vontade nacional, do povo, dos respectivos governos e do empresariado, para o grande mutirão da reconstrução nacional de cada país e do continente como um todo, até atingirem o nível de integração atual com a União Européia.
Só para ilustrar o resultado deste esforço, vou me ater a quatro países, todos pequenos, sem qualquer recurso natural e com territórios minúsculos. A Holanda, a Áustria, a Bélgica e a Suíça. O soma dos territórios desses quatro países é de 197.184 km2, praticamente do tamanho do Estado do Paraná; com uma população de 42,8 milhões de habitantes, quase igual a do Estado de São Paulo, mas com um PIB de 2,13 trilhões de dólares, um pouco do que o Brasil em 2010, cujo PIB segundo o FMI foi de US$ 2,02 trilhões de dólares.

A renda/PIB per capita média desses quatro "pequenos" países europeus em 2010 foi de US$ 49.953 dólares, correspondendo a sétima maior renda per capita do mundo enquanto nosso país continua com apenas US$10.471 dólares, ocupando a 55ª posição no ranking mundial, apesar de ser a oitava economia do mundo. O nosso IDH, segundo a ONU, é de apenas 0, 699 ficando na 73ª posição mundial e no ranking da OCDE tendo como parâmetros desempenho dos estudantes do ensino médio em leitura, ciências e matemática o Brasil ficou em 2009 na 56ª posição, enquanto a Coréia ficou em segundo lugar no ranking mundial, a Holanda na 10ª, a Bélgica 11ª, a Suíça 15ª, a Áustria 17ª e o Japão 9ª.

Em seu discurso de posse nossa presidente Dilma afirmou textualmente que o Pré-Sal é o nosso passaporte para o futuro, numa clara aposta equivocada em se tratando de modelo energético e de inserção competitiva do Brasil no cenário mundial, países que já estão em patamares muito mais elevados do que o nosso como os EUA, Europa, Coréia, por exemplo, continuam apostando no conhecimento, na educação, na ciência e na tecnologia cada vez como alavancas na construção de futuro com melhores oportunidades e condições de vida para suas populações.
A segunda grande aposta do governo Dilma, dando continuidade ao de seu antecessor, é no "fortalecimento" das políticas compensatórias (sinônimo de assistencialismo e manipulação política e eleitoral), aumentando a distribuição de migalhas que caem da mesa dos poderosos, perpetuando os índices de concentração de renda e riqueza de um lado e miséria, pobreza e baixos níveis de vida de outro, mantendo nosso país com as mesmas estruturas arcaicas e injustas que tão bem o caracterizam no contexto mundial.
Não podemos continuar em pleno século 21 com o mesmo projeto nacional de desenvolvimento baseado em uma economia primaria-exportadora, em ilhas de progresso e bem-estar em meio a um oceano de miséria e sofrimento. Enquanto os setores exportadores de "commodities", os banqueiros agiotas e as elites do poder aumentam seus lucros, suas rendas, patrimônio e padrões elevados de vida, a grande maioria da população brasileira ainda convive com um salário mínimo de RS$ 545 reais, equivalente a 300 dólares mensais ou US$1,60 dólares por hora, praticamente próximo da linha de pobreza estabelecida pela ONU, sem contar com mais de 15 milhões de pessoas que necessitam de bolsa família para sobreviverem em nosso país. Convenhamos: uma enorme vergonha nacional! Será que em sã consciência podemos nos ufanar de um país como este, como fazia o Conde Afonso Celso?

Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia, ex-ouvidor geral de Cuiaba.

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