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O Rio de Janeiro não é o Brasil

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Desde o último domingo, a cidade do Rio de Janeiro se tornou um campo de guerra entre polícia e bandidos. Os marginais, que estão perdendo espaço por causa da ocupação da PM nos morros, realizaram vários ataques incendiando carros e ônibus. Várias pessoas foram mortas.

Não é de hoje que o Rio de Janeiro enfrenta essa situação com a criminalidade. O caos é antigo, mas sempre que esse problema volta à tona, com maior densidade, se torna manchete nos jornais do Brasil inteiro.

O fato já ganhou até contornos na película grande. Tropa de Elite e Tropa de Elite 2 renderam boas bilheterias. Mas a guerra real nessas comunidades tem um retrato mais dramático, mais melancólico. Uma vida de um inocente ceifada é apenas mais uma, de várias que devem estar por vir.

O que poderia ser feito para acabar com essa bandidagem, que sempre teve as melhores armas e são mais organizados que o Estado? Fechar as fronteiras para evitar o envio de fuzis e drogas? Um salário melhor para os policiais? A presença das Forças Armadas, para ajudar no combate ao crime? A mudança no código penal? Assim evitaria o jogo de gato e rato, a polícia prende e a justiça solta.

O que quero dizer, é que ataques e arrastões no Rio de Janeiro já aconteceram, acontecem, e dão sinais de que podem acontecer novamente. Ou seja, estou com a convicção de que será mais um "Não vale à pena ver de novo".

Mas um pouco distante desse contexto, ressalto um outro lado dessa tragédia social. O espaço dado pela imprensa nacional no fato.

Nesta quinta-feira, os canais de televisão foram ao êxtase. Quem assistiu a Globo por exemplo, viu que essa cruzada pela audiência começou no Bom Dia Brasil e foi parar no Jornal da Globo. Até mesmo um programa de culinária, como o Mais Você, teve ar policialesco.

Ao meio dia, o Jornal Hoje esqueceu o que acontecia no resto do país. O jornal, praticamente inteiro, não vi até o final porque a notícia já estava ficando muito massante, foi sobre esses ataques.

O assunto é grave? Sim. Chama a atenção? Chama. É no cartão postal mais importante do Brasil? Também é sim. Mas ressalto que quem não mora, ou não tem nenhuma vontade de conhecer o Rio de Janeiro, talvez, estivesse interessado em ver outras notícias, mesmo sabendo que lá vai acontecer a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Mas, e se esses ataques fossem feitos em uma capital do norte ou do centro-oeste, ou até mesmo do sul do país? Será que teríamos a mesma cobertura jornalística? Claro que não.

Não é por nada que muitas vezes, infelizmente, confundem Mato Grosso com Mato Grosso do Sul. Como se essa confusão geográfica não tivesse tanta importância quando cometem.

Acho que com um pouquinho de criatividade, os jornais poderiam dar notícias que acontecem no outro Brasil. É importante saber que não é preciso usar um espaço caro, que é o horário nobre, para massificar uma tragédia, onde todos sabem que ela está ali há algum tempo, simplesmente porque o concorrente encarnou nessa linha. Telespectador também gosta de notícias boas, coisas que dão certo, reportagens positivas.

E pra quem acha que não dá para virar às costas para essa situação porque o mundo lá no Rio de Janeiro está acabando, ledo engano. Agora vem o período de chuva. A próxima atração, é apenas uma infeliz constatação de quem todo ano vê a mesma coisa, será o deslizamento de terras nas encostas dos morros.

Abdalla Zaorur é jornalista em Cuiabá

 

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