A Assembléia Legislativa de Mato Grosso, usufruindo de sua independência, decidiu convocar o menino de ouro do governador, Éder Moraes, para que ele explicasse aos parlamentares, logo, para a sociedade mato-grossense, a quantas andam as negociações da dívida pública do estado.
Perfeito! Porém, o governador entrou em desespero ao ver que seu pupilo ia ter que expor a idéia do chefe. Ligou para o Presidente da Assembléia pedindo que, antes de falar com o menino de ouro, falasse com ele. Até ai tudo bem, é papel do governador querer impedir isso. Porém, os deputados aceitaram sem discussão e vão se reunir a sós com Blairo.
Ou seja, a convocação que antes era para o esclarecimento da sociedade mato-grossense será dada entre quatro paredes, sem que a população tenha o direito de participar.
A justificativa do governador é de que o presidente da MT Fomento não está por dentro das negociações, logo, não tem conhecimento para prestar os esclarecimentos.
Ôpa! Ou o Blairo chamou o Éder de incompetente, ou os nobres deputados. Como é que o governador diz isso se o Éder foi enviado, por ele, a Europa, para “negociar” a dívida do estado. O cara foi e não está habilitado a prestar esclarecimentos? Ora, então o rapaz passou 15 dias passeando com o dinheiro público?
Éder Moraes viajou dizendo que a proposta de negociar a dívida com bancos privados internacionais será a “maior revolução desde a descoberta do Brasil”. Nada mal para quem, ao chegar da Europa, declarou que só discute a dívida do estado com “com economistas renomados como Delfim Neto, Pedro Malan e Henrique Meireles”. Guido Mantega se cuide ou que cuide da sua cadeira.
E como a Assembléia justifica o cancelamento ou adiamento da audiência? Como se fosse uma orquestra eles respondem: se nós podemos falar com o patrão, porque vamos falar com um “diretor”? Mas todos afirmaram que a finalidade do encontro é para que Blairo faça uma explanação da sua idéia de negociar a dívida, para que eles analisem se aceitam ou não.
O Deputado Sergio Ricardo foi categórico: “o governador vai explicar que negociação é essa, e, se é que vai haver uma negociação, a Assembléia vai participar”. Perguntei a ele se iria entrar na pauta da reunião os nomes dos bancos interessados em comprar a dívida, o deputado disse que isso nem foi cogitado ainda.
Porém, o futuro diretor do Dnit, o onipresente Luiz Pagot, deu uma entrevista neste fim de semana dizendo que “estamos agora discutindo a renegociação da dívida do Estado de Mato Grosso. Inclusive nesta segunda-feira o governador vai receber aí um importante organismo financeiro internacional que vai vir discutir aqui, vai apresentar para o governador a forma de se viabilizar isso”.
Quiéisso! Deputados, alôôôu!, Blairo já está conversando com “organismos financeiros internacionais” sobre formas de viabilizar o negócio e a Assembléia quer entender a metodologia!?!
Um outro parlamentar me explicou assim: “o Éder fala demais. Imagine se eu chamasse um assessor do meu gabinete e dissesse: fulano, eu quero fazer um projeto de lei para tal coisa, me faça uma pesquisa. Daí o assessor chama a imprensa e diz que o deputado vai apresentar tal projeto que ele está elaborando e solta alguns detalhes, sem que o patrão tenha dado ordem para isso. Foi isso que o Éder fez!”, explicou o parlamentar e ainda finalizou dizendo: “O Éder ta se achando o próprio Malan”.
Engraçado, estava conversando sobre a postura da Assembléia de Mato Grosso com uma sábia professora de Yoga e ela, com toda sua calma, equilíbrio, tranqüilidade e mania de falar através de metáforas, disse: “Sabe Adriana, o cachorro abana o rabo porque o rabo, enquanto segmento discriminado do corpo da sociedade, ainda não conquistou o direito de abanar o cachorro”.
Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ, professora do curso de pós-graduação em Gestão de Cidades, Cuiabá