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O câncer é tão assustador quanto o seu olhar para a doença

Manoela Regina Alves Corrêa Barros - radio-oncologista, diretora Médica do Hospital de Câncer de MT
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Como Radio-Oncologista me deparo com muitas situações envolvendo o câncer, mas o início de todas elas segue o mesmo roteiro: desespero, medo e angústia. Basta falar para alguém o diagnóstico que as pessoas ao redor fazem aquele gesto de passar, choram, abaixam os olhos e se encurvam. Realmente, o corpo fala, e a sensação é que chegou ao fim.

Tenho trabalhado o conceito do que é receber esse diagnóstico, e esse trabalhar é ir além do senso comum. É meu desafio diário e me sinto na missão de replicar o que de fato é a doença para os meus pacientes, familiares, amigos e agora vocês. Primeiro, precisamos tirar da nossa cabeça a ideia de que receber o diagnóstico de um câncer é o mesmo que receber uma nota de pesar, isso não é mesmo!

Comecemos pelo fato de que a doença é tratável, e na maioria das vezes, principalmente se descoberta precocemente, tem cura! Isso é maravilhoso. A mudança do olhar pode mudar o tratamento. Pense que tudo é um processo, tal como você machucou o joelho, por exemplo, não é do dia para a noite que ele vai sarar, tem um processo no meio, e cabe a você segui-lo. Assim é o câncer, pense que cada cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou qualquer outro procedimento que esteja realizando é mais um caminho percorrido para chegar à vitória. Você vence cada vez que chega para um tratamento, e você sai mais vitorioso ainda ao sair dele.

Inclusive, o câncer causa uma reação muito positiva em muitos pacientes, mas muitos mesmo. Tive pacientes que passaram a se cuidar muito mais, emagreceram, aprenderam a se alimentar melhor, viram que os exercícios físicos são pílulas diárias de felicidade e aprenderam a se amar, porque a vida é isso, amor! Sem contar o cuidado com o bem-estar e a saúde mental, que parece que são botões que são ligados nesses pacientes durante e após o tratamento.

Tenho uma paciente, por exemplo, que deixou a obesidade mórbida para trás e hoje faz tudo que sempre quis, além de vencer o câncer. Tem outra que perdeu os cabelos, mas amou o resultado do cabelo curtinho. Hoje ela corta o cabelo toda vez que cresce e deixa bem baixinho. Tem um paciente que perdeu a voz, mas segundo ele assim aprendeu a ouvir a natureza, as netinhas e tudo que antes passava despercebido.

Inclusive a questão de perder o cabelo, ou parte dele, está mais em nossos olhos do que em quem faz o tratamento. Cabelo cresce, sem contar as muitas maneiras que uma pessoa pode ficar ainda mais linda carequinha, é cada boina, touca, chapéu, que fica maravilhoso. Mas sabe o que é realmente nocivo? O olhar das pessoas! Estar careca é um atestado de falta de saúde, de doença, de olhos com pena. Não gente! Esta pessoa está em um processo, e pode estar muito bem nele, redescobrindo-se e fazendo planos!

O que posso dizer enquanto médica é: não seja você a problematizar o tratamento de uma pessoa. Receber uma notícia como essa é chocante? É sim, mas não é o fim, não veja como um fim, mas sim como um recomeço. Quer ajudar uma pessoa em tratamento? Respeite, sorria, converse e fale palavras positivas. A vida é linda e passa rápido demais para lamentarmos.

 

 

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