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Juína: estórias e História

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No último fim de semana assisti às inaugurações de duas rodovias no Noroeste do Estado: a MT-170, de Tangará da Serra a Juína, e a MT-235, de Campo Novo do Parecis a Sapezal. São apenas duas rodovias, diria o leitor. Talvez fosse mesmo, se não fossem as estórias que a História delas contém.

Ligar Juína por asfalto é um fato simbólico muito maior do que a pavimentação. Ali tem história pura, da melhor qualidade, que o asfalto consolida. Em 1977, o governo de Mato Grosso abriu um projeto de colonização público, paralelo às grandes colonizações privadas como Sinop, Alta Floresta e outras. Era gente modesta com pouco mais do que a roupa do corpo. Foi, ficou nos lotes pequenos.

Passados 32 anos, o asfalto chegou. Mas no caminho muitos acreditaram, esperaram e morreram sem vê-lo. Juína foi aberta pelo governador Garcia Neto. No governo Frederico Campos continuou e Júlio Campos abriu a rodovia em terra batida ligando Tangará, a última cidade, à Juína. Uma imensa aventura. Quase inacreditável à época.

Em 1984 fui de caminhonete D-10, do Dermat, de Cuiabá a Juína, fazer uma reportagem para a então revista “Contato”, contratada pela Secretaria de Transportes do Estado, para retratar as realidades da região. Saímos de Cuiabá às 8 horas. Eu, o motorista Benjamin e o fotógrafo Roberto de Francesco. Viajamos o dia inteiro, à noite inteira e dormimos na estrada, onde uma carreta Scania carregada de toras havia quebrado a carcaça numa ponte. Nós e os passageiros do ônibus num frio mortal daquele chapadão gelado e poeirento do Parecis. Minha calça colava na pele, de tanto frio. Os passageiros do ônibus que saíra de Cuiabá de madrugada, pobres, se aqueciam numa fogueira, com frio e com fome.

Chegamos às margens do belíssimo rio Juruena por volta do meio-dia e deveríamos esperar pelo ônibus. Todos desceríamos o rio por 22 km na balsa, até à pequena localidade de Fontanilhas, na outra margem do rio. O ônibus chegou depois das 17 horas. Nós mortos de fome. Chegamos a Fontanilhas às 21 horas e seguimos para o povoado de Castanheira e Juína. Chegamos às 22 horas e tivemos que ir para o acampamento do Dermat, porque na cidade de madeira, poeirenta e escura não tinha hotel disponível. Acordamos a zeladora, que fez arroz com ovo e dormimos felizes. Nunca mais me esqueci daquela deliciosa aventura que se seguiu até Aripuanã, mais 170 km em plena Amazônia numa rodoviazinha chamada AR-2.

Hoje Juína é uma cidade importante com um futuro extraordinário por sua posição geográfica. Lá estavam na inauguração o ex-governador Júlio Campos, e nos lembramos da aventura de se viver fora de Cuiabá naquele Mato Grosso de há 32 anos atrás. Claro que isso tudo é História. Mas o que é a História, senão a sucessão de vidas? O governador Blairo Maggi, em cujo governo se asfaltou a histórica MT-170 prometera em 2002 que a inauguraria chegando até Juína de carro baixo. E, de fato, chegou dirigindo o automóvel oficial que o atende no governo.

Voltei de lá com um mar de lembranças na cabeça. E com a conclusão de que este enorme Mato Grosso tem tantas estórias para serem registradas desses 35 anos de pioneirismo desde que se decidiu ocupar a Amazônia e atrair gente do Brasil inteiro. Gente forte que fez uma belíssima história….!

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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