terça-feira, 23/abril/2024
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Fakenews, ratanabá e divulgação científica

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública, mestre em Geociências (UFMT)
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Nas últimas semanas o boato sobre Ratanabá, uma suposta cidade perdida no norte de Mato Grosso, ganhou espaço na mídia. Porém, essa lenda é mais uma fakenews, resultado da falta de conhecimento sobre ciência e sobre os fenômenos da natureza que ocorrem no nosso planeta. Neste texto além de explicar o porquê Ratanabá não existe, também será abordado sobre a importância da divulgação científica e a necessidade de o Brasil melhorar o ensino de ciência nas escolas.

Para entender o porquê Ratanabá é uma fakenews, se pode utilizar dois argumentos principais. O primeiro é sobre a idade atribuída a cidade perdida. O segundo sobre os processos que deram origem as linhas que embasaram o surgimento da lenda.
Para recordar o leitor, a vida na terra surgiu há pelo menos 3,7 bilhões de anos, e vem evoluindo lentamente ao longo do tempo geológico. O maior e mais significativo evento de diversificação de formas de vida ocorreu por volta de 542 milhões de anos atrás, no qual surgiram a base da maioria dos filos modernos.

Nos textos sobre Ratanabá, citam uma idade de 450 milhões de anos para a cidade. E esse é o primeiro fato que demonstra que a lenda da cidade perdida se trata de uma fakenews. Se viajássemos no tempo até 450 milhões de anos atrás, encontraríamos um planeta onde a vida estava restrita basicamente aos oceanos. Não veríamos florestas, nem tão pouco répteis, anfíbios, aves ou mamíferos. O Homem estava longe de surgir. A história do homem Sapiens (homem moderno) se inicia aproximadamente 350 mil anos atrás. Ou seja, por muitos motivos diferentes não possível que uma cidade tenha sido construída há 450 milhões de anos.

Mas então como surgiram as estruturas lineares que chamaram atenção nas imagens? Novamente a ciência apresenta as respostas para isso. As estruturas lineares são na verdade resultados da evolução do relevo. No planeta terra temos diversos processos que modela a superfície, entre eles processos da dinâmica interna relacionado a tectônica de placas e os processos da dinâmica externa, relacionados principalmente a atmosfera e hidrosfera.

O leitor deve já ter visto muitas notícias sobre terremotos, pois bem, este fenômeno ocorre quando um bloco de rocha se desloca em relação a outro. Nestes processos são formadas estruturas lineares que na geologia chamamos de falhas. Quando as rochas são expostas na superfície do planeta devido a atuação dos processos erosivos, as estruturas lineares que se formaram durante a atuação dos processos geológicos que outra hora ali atuaram se destacam no relevo.

O fato de fakenews como essa ganharem tamanha dimensão, é um claro indicativo dos problemas existentes no país relacionados ao ensino de ciências, assim como a sobre a falta de divulgação científica. Ensinar e divulgar ciência é uma forma de fazer com que os nossos jovens entendam os processos que atuam no planeta, que compreendam como ocorrem os fenômenos físicos e químicos, como ocorreu a evolução do planeta e da vida.

Porém, para que isso ocorra não só as escolas precisam ser equipadas com laboratórios, como também precisa se realizar a capacitação de professores. Museus e universidade podem desempenhar um papel fundamental na difusão científica, porém os governos, federal, estadual e municipal precisam criar linhas de financiamento e programas que possibilitem que exposições, eventos e outros tipos de iniciativas possam chegar a estudantes dos quatro cantos do Brasil.

Fortalecer a divulgação científica é fundamental para auxiliar na formação dos jovens. A ciência precisa ser priorizada e pensada como um instrumento de transformação social e como uma forma de garantir que se tenha subsídios para, desde saber ler e identificar uma fakenews ou até mesmo encontrar novas descobertas científicas e novas soluções para a sociedade.

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências (UFMT).

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