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Eppur si muove

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Após as cenas dramáticas de naufrágios no Mediterrâneo com a morte de milhares de imigrantes africanos em busca da Europa, somos surpreendidos por imagens semelhantes no continente asiático. Milhares de integrantes da minoria muçulmana rohingya estão sendo expulsos pela maioria budista em Myanmar e vagueiam em barcos buscando as costas da Indonésia e da Malásia. Na África do Sul, as dificuldades econômicas alimentam episódios de violência contra outros africanos, originários de Moçambique, Zimbabwe e Congo. Imigrantes haitianos no Brasil têm sido vítimas de preconceitos outrora dirigidos a bolivianos ou mesmo nordestinos. Nessas situações, alternam-se ou misturam-se xenofobia, racismo e intolerância religiosa.A globalização, que tão bem funciona para as transações financeiras que desconhecem fronteiras ou fusos horários, não se apresenta talhada para os seres humanos expulsos de suas comunidades de origem por guerras, perseguições, catástrofes naturais ou pela miséria. Ao se deslocarem em busca de esperança ou no limite do desespero, essas multidões se deparam com muros praticamente intransponíveis.

A espetacular queda do Muro de Berlim e do Muro do Apartheid sul-africano foram vitórias da liberdade e dos direitos humanos, mas, aparentemente, a argamassa de medo e ódio que os sustentava foi reciclada para outros pontos do planeta. Há o muro de milhares de quilômetros que separa os Estados Unidos de seus vizinhos da América Latina; os muros que Israel ergueu para confinar os palestinos; os muros na Síria diante dos quais fanáticos decapitam suas vítimas em nome da religião; e também os muros que multiplicamos em nossas cidades isolando as áreas mais ricas da pobreza da periferia; além dos muros mentais que muitos de nós construímos e que nos tornam cegos, surdos e insensíveis ao sofrimento do próximo, paralisam ações solidárias e nos exaurem no ócio egoísta, hedonista e niilista.

Derrubar todos essas barreiras e muros, começando pelos mais íntimos, é o desafio e a tarefa das presentes gerações. Seu gigantismo diante da pequenez individual de cada um de nós não justifica o desânimo ou a inação de ninguém.

Sou um inveterado e incorrigível otimista com pés no chão. Em meio a tantas tragédias, vislumbro uma humanidade que evolui e um planeta em regeneração. Até mesmo na vida pública brasileira, quando às vezes temos a sensação de que foram ultrapassados todos os limites da dignidade e fomos engolfados por um tsunami de escândalos de corrupção, percebo sensíveis avanços, com a atuação independente de representantes de instituições republicanas, fazendo cumprir leis que até então só existiam no papel ou para os pobres e não mais permitindo a prerrogativa da impunidade a arrogantes detentores do poder político e econômico.

Sim, creio que estamos progredindo, ainda que infinitesimalmente a cada momento. E podemos acelerar esse processo com nossas atitudes diárias. A mudança não virá pelas mãos de um punhado de heróis em duas ou três batalhas épicas, mas pela conquista acumulada de muitos milhões de colaboradores anônimos, que no seu cotidiano são capazes de transformar qualitativamente as relações humanas na família, na comunidade, na escola e no local de trabalho.

Não percebemos a transformação que está em curso porque nossa dimensão de espaço e tempo é incapaz de apreendê-la, do mesmo modo que não sentimos a rotação da Terra em torno do seu eixo ou não visualizamos as ondas eletromagnéticas que transmitem sons, imagens e informações. Ao formular a teoria da relatividade revolucionando a Física, Einstein apresentou a famosa equação E = mc2, relacionando a transformação de massa em energia e explicando que espaço e tempo não são absolutos, mas dependentes da posição do observador.

Séculos antes, outro cientista genial, Galileu, ao ser obrigado pela Inquisição a abjurar a teoria heliocêntrica, murmurou 'Eppur si muove': no entanto, a Terra se move. No século XXI, continua se movendo e haverá de superar a xenofobia, o racismo e a intolerância.

Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT – Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.
 

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