Como arquiteto e urbanista, mas também como curioso, sempre tive vontade de conhecer os Emirados Árabes, especialmente Dubai. Famosa pelos belos pontos turísticos, ostentação de luxo e riqueza, que é notável em cada monumento, Dubai tornou-se referência mundial com pontos como o hotel Burj Al Arab, edifício Burj Khalifa e os arquipélagos The World e Palm Islands.
Em 2009 tive a oportunidade de realizar uma visita técnica aos Emirados Árabes, acompanhado pela equipe do Sebrae Mato Grosso. Mais do que bons contatos e amigos, também fiz uma análise da região que chama a atenção para seus objetivos por meio da arquitetura moderna e ousada.
Dubai foi projetada para mostrar que, contrária à sua etimologia, não nasceu para rastejar. As construções exuberantes esbanjam o poder da economia local, que deriva do petróleo e gás natural.
Conhecer uma cultura completamente diferente foi um grande desafio e o mais interessante foi perceber que nós temos nossos "Emirados" mais perto do que imaginamos. O clima similar ao deserto, a quantia de água que cerca a região e a mão de obra abundante são algumas semelhanças entre Dubai e Mato Grosso.
A diferença está no que fazemos com elas.
Em Dubai o impossível tomou forma e definiu o futuro da região. Lá foram criados arquipélagos onde existia pouca água e vegetações onde a escassez dominava. Com determinados recursos criaram praias artificiais para ampliar a orla marítima e fomentar o potencial turístico da região. Além disso, a vegetação, tipicamente desértica, foi alterada pelo paisagismo, que influenciou nas mudanças climáticas.
Consegui visualizar o rio Teles Pires ao ver a dimensão do mar árabe. Mais fácil ainda é pensar na ideia de usar os mesmos recursos para explorar o potencial do nosso rio preservando o que já existe, sem ferir a natureza local. Se em Dubai é possível ver loteamentos sendo construídos em praias artificiais, o que nós não podemos fazer utilizando as proporções do Teles Pires?
O segredo de Dubai que conheci é só um: reinventar. Se mesmo sem esses recursos, conseguiram fazer do deserto uma das regiões mais ricas e estonteantes do mundo, por que não aproveitar a nossa natureza abundante para reinventar Mato Grosso? Para que isso aconteça basta planejar. Planejar agora. Planejar em longo prazo. E colocar em prática os planos.
Deraldo Campos é arquiteto e urbanista em Sinop