Durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, a ONU estabeleceu o DIA MUNDIAL DA ÁGUA, a ser comemorado todos os anos em 22 de março, como uma forma dos países e as pessoas refletirem sobre a importância deste precioso líquido para todas a atividades humanas e , inclusive, para a própria sobrevivência da humanidade.
A primeira comemoração do DIA MUNDIAL DA ÁGUA ocorreu em 1993 e, nesses 22 anos, a ONU tem insistido sobre a importância deste assunto. A cada ano é escolhido um tema que esteja relacionado com a água, para despertar a consciência planetária de que este é um recurso finito e muito escasso, devendo assim ser tratado com muita parcimônia, responsabilidade e racionalidade.
Existe um provérbio que afirma ”se não economizar, vai faltar”, isto se aplica a todos os setores da vida humana, principalmente `a água. O desperdício, a falta de planejamento, a falta de racionalidade no uso dos recursos naturais, inclusive da água, podem comprometer a qualidade de vida das próximas e futuras gerações.
Alguns analistas do cenário internacional afirmam que em um futuro talvez mais próximo do que a gente imagina uma das causas de conflitos entre países e dentro desses entre regiões, estados e municípios pode ser a água. E isto já começa a fazer parte do nosso cotidiano.
Quem imaginava há 20 , 30 ou 50 anos que praticamente todas as regiões metropolitanas do Brasil, incluindo as tres maiores, São Paulo, Rio de Janeiro e BH, estariam sofrendo pela falta de água e na esteira praticamente todas as capitais e cidades com mais de 250 mil habitantes.
Os reservatórios das hidrelétricas também estão abaixo da capacidade e a falta de água nos mesmos pode comprometer a geracão de eletricidade, agravando ainda mais a crise energética nacional. A nossa matriz elétrica depende de 66% das hidrelétricas. Ao longo de anos nossos governantes não tiveram a capacidade de planejar o uso mais efetivos de outras fontes energéticas.
Assim, o Brasil depende de água para movimentar seu Sistema produtivo, principalmente no setor agropecuário, que consome 70% da água disponível, além do consume humano e também para gerar eletricidade.
Afinal, desde crianças aprendemos que o Brasil tem um dos maiores, talvez o maior, potencial hídrico do mundo, só que este potencial fica na região norte e na amazônia legal, onde a quantidade de habitantes é bem menor do que outras com os maiores contingentes populacionais, incluindo a região nordeste que há quase dois séculos convive com o drama da seca, colocando mais de 55 milhões de habitantes neste sufoco.
Podemos dizer que atualmente que mais de 100 milhões de pessoas nas diversas regiões e cidades brasileiras vivem sob o espectro da escassez ou da falta de água e esta realidade é decorrente tanto dos problemas climáticos quanto da falta de planejamento, do desperdício e do uso inadequado da água, apesar de nossos governantes dizerem aos quatro ventos que 95% da população é servida regularmente com água tratada e boa qualidade, mais uma meia verdade ou mentira propalada pelas nossas autoridades.
A água é importante e está na matriz do desenvolvimento, razão pela qual este ano a ONU destacou como tema ÁGUA E SUSTENTABILIDADE, estimulando nossas reflexões sobre esta importante questão,destacando seis aspectos: 1) água é saúde; 2) água é natureza; 3) água é urbanização; 4) água é indústria; 5) água é alimento; e, 6) água é equidade, enfim, água é vida plena, com qualidade, justiça e para todos.
Segundo dados recentes da ONU mais de 748 milhões de pessoas não têm acesso `a água de qualidade para o consumo humano e 2,5 bilhões não tem acesso ao saneamento básico, aspecto umbilicalmente relacionado com o abastecimento de água. No Brasil, em torno de 132 milhões de pessoas também não tem acesso ao saneamento, são milhões que vivem nas favelas, hodiernamente denominadas de “comunidades”, habitações sub-humanas, nas periferias urbanas e nas áreas rurais.
Só para atender a parcela da população mundial que não tem acesso ao saneamento básico seriam necessários mais de 550 bilhões de dólares, importância muito distante de ser investida pelos países, chegando-se `a conclusão de que a qualidade de vida e a saúde continuarão precárias a praticamente quase 40% da população mundial, inclusive uma parcela enorme da população brasileira.
De acordo dados recentes da ONU, de 2013, apontam que a cada 15 segundos uma criança morre no mundo por não ter acesso a água de qualidade e aos serviços de saneamento básico. Isto representa mais de um milhão de crianças que morrem antes de completarem cinco anos de idade. Desde que a ONU estabeleceu o DIA MUNDIAL DA ÁGUA, em 1.992, em 23 anos, já morreram mais de 241,8 milhões de crianças, de forma prematura e por causas totalmente evitáveis, caso os governos de todos os países deixassem de roubar um pouco do dinheiro público e , de fato, atendessem as necessidades e os direitos da população. Esta é, com certeza, uma das maiores tragédias de nosso tempo, muito pior do que todas as guerras e conflitos dos últimos cem anos.
É a morte silenciosa que dizima a população pobre, excluida, vilipendiada. Enquanto isso nossos governantes continuam com seus discursos e outras formas de manipular exatamente esta população mais sofrida e menos esclarecida.
Este DIA MUNDIAL DA ÁGUA é mais um momento para refletirmos que tipo de desenvolvimento desejamos, como e o que devemos fazer para que de fato á água seja um bem de todos e não apenas de uma parcela da população. Afinal, todos somos filhos de Deus e temos o direito a uma vida mais dígna, independente de onde moramos, de nosso status sócio-econômico, de nosso gênero, de nossa religião ou da cor de nossa pele!
Sem água não tem alimentos, não tem energia, não tem saúde, não tem Sistema produtivo. Água é fundamental na vida das pessoas e dos países!
Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia
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