quarta-feira, 8/maio/2024
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Deus e o transporte coletivo

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Deus e o transporte coletivo

* ANTONIO DE SOUZA

Por mais que tente inovar, criando os contratos de gestão (na verdade, ele os copiou do governador Blairo Maggi), por meio dos quais pretende forçar os seus assessores diretos a assumirem o compromisso de fazer jus ao salário que ganham, e montando palanques para defender a instalação de uma fábrica de fertilizantes da Petrobrás em Cuiabá, apenas para citar alguns exemplos mais marcantes de factóides tucanos, o prefeito Wilson Santos (PSDB) não consegue se livrar da pecha de incompetente quando o assunto é transporte coletivo.

Com efeito, pouco mais de um ano depois de assumir o cargo, o prefeito tucano não conseguiu cumprir a promessa de oferecer um transporte “humano e solidário” à população, como garantira durante a campanha. Solidário mesmo, só um item do slogan da gestão do PSDB no Alencastro. Desumana é a forma como trata o contribuinte que garante o gordo salário do prefeito e de seus secretários.

O prefeito tem feito ouvidos moucos aos apelos da população, notadamente aquela que utiliza ônibus coletivo no seu cotidiano. O cinismo tem sido uma das principais marcas da atual gestão. O descaso caracterizou, ao longo do tempo, algumas das principais Pastas, com destaque todo especial para a Secretaria de Trânsito e Transportes Urbanos (SMTU).

A maneira desleixada como essa Pasta foi conduzida, nesse espaço de pouco mais de um ano da gestão tucana, se encaixou perfeitamente no perfil açodado do próprio prefeito, que não costuma medir as conseqüências dos seus atos – como na desativação intempestiva (para muitos, desnecessária, pelo menos por enquanto) do Terminal de Integração da Praça Bispo Dom José. Foi uma tentativa frustrada e cretina de “mostrar serviço”, logo no começo da gestão.

Desde o início do atual Governo Municipal, o caos está plenamente estabelecido no sistema de transporte coletivo de Cuiabá. A desativação da Estação Bispo, com a criação de itinerários longos e dispendiosos; as intermináveis filas e a demora para embarque nos pontos de parada, muitos dos quais não têm abrigo; a bilhetagem eletrônica que ainda “não pegou”; a frota completamente sucateada; e o estranho interesse do prefeito e de assessores em reajustar, com urgência, o preço da passagem são fatos extremamente reveladores da existência desse caos.

Ninguém mais do que o próprio secretário de Transportes, Emanuel Pinheiro, deve se sentir feliz – eufórico, melhor dizendo – diante da decisão de deixar o cargo. Não faz tempo (está registrado na mídia), esse moço negou, com veemência, até, que tivesse algum projeto de caráter político e/ou eleitoral que o fizesse se desviar do compromisso que assumiu ao aceitar o cargo: recuperar o sistema de transporte urbano da Capital. Foi mais além, conforme a Imprensa também registrou: alegou que, além do compromisso firmado com o seu patrão (o prefeito) e com a população, havia o inconveniente de que não dispunha de condições financeiras para bancar uma campanha. No caso, a de deputado estadual.

Fora do staff da Prefeitura, o ex-secretário Pinheiro assume a condição de candidato. É um direito que lhe assiste. Deve ter lá suas razões, como deve ter, decerto, conseguido, sabe-se lá onde, o reforço financeiro necessário para sair à cata de votos. Contudo, ele não tem certamente o direito de afirmar, nos muitos palanques nos quais subirá (com certeza, ao lado do prefeito), que deixou a SMTU “com a consciência do dever cumprido”. Bastam as mentiras que vêm marcando a ação da Prefeitura em todo esse longo e desgastante processo de discussão do reajuste da tarifa de ônibus coletivo.

Nem vou falar aqui sobre as suspeitas de que a Prefeitura, muito provavelmente levada por interesses inconfessáveis, há tempos articularia uma ação no sentido de desqualificar a CPI dos Transportes, que, como foi amplamente divulgado, detectou uma série de maracutaias no sistema de ônibus coletivo (entre elas, supostas ligações promíscuas entre empresários do setor e o próprio Palácio Alencastro) e propôs a polêmica redução no preço da passagem.

No entanto, sou obrigado a chegar a uma imperativa conclusão: pelo andar da carruagem, é bem provável que o cuiabano só deixará de sofrer, na utilização diária das sucatas travestidas de ônibus, no dia em que Deus e os anjos decidirem entrar no ramo no transporte coletivo.

Mas, diante da sujeira que está aí exposta, é possível que eles prefiram manter uma distância razoável do setor. E da própria Prefeitura, apesar das orações e dos hinos de louvor que o próprio prefeito costuma entoar por ocasiões dos cultos semanais no Palácio Alencastro.

Antonio de Souza é jornalista em Cuiabá.
[email protected]

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